SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs fecharam a sexta-feira novamente em baixa -- a terceira consecutiva e a sétima das últimas dez sessões -- com os contratos reagindo à divulgação de dados fracos de atividade econômica no Brasil e à queda dos rendimentos dos Treasuries durante a maior parte do dia.
O mercado de juros futuros já abriu repercutindo a divulgação do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que recuou 0,06% em setembro na comparação com o mês anterior, segundo número dessazonalizado. A leitura do mês foi bem pior do que a expectativa em pesquisa da Reuters, de avanço de 0,20%, e marcou o segundo mês seguido no vermelho.
O indicador, considerado um sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB), apontou contração de 0,64% no terceiro trimestre, na comparação com os três meses anteriores, e mostrou perda de força ao longo do ano, depois de ter avançado 2,39% no primeiro trimestre e 0,75% no segundo.
Os números de atividade do BC trouxeram a percepção de que a inflação pode perder ainda mais força no Brasil, o que contribuía para um novo dia de fechamento da curva a termo.
O viés vindo do exterior também era baixista. O rendimento do título norte-americano de dez anos -- uma referência global de investimentos -- se manteve em queda durante a maior parte da sessão, o que também tirava a força do dólar ante outras divisas.
Durante a tarde, os yields de dez anos chegaram a migrar para o território positivo, mas acabaram voltando a ceder, em meio à percepção de que, em função dos dados econômicos mais recentes, o Federal Reserve tende a não elevar sua taxa básica de juros no curto prazo. Desde o pico atingido em outubro, os rendimentos dos Treasuries de dez anos já cederam cerca de 60 pontos-base -- o que vem se refletindo na curva a termo brasileira.
Das últimas dez sessões, as taxas dos DIs cederam em sete delas, ficaram estáveis em outras duas e subiram em apenas uma.
O movimento ocorreu a despeito de, entre os investidores, permanecerem dúvidas sobre a capacidade de o governo Lula alcançar o equilíbrio fiscal.
O diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, disse mais cedo nesta sexta-feira que os impactos de choques fiscais na inflação são persistentes e que, quando a dívida é maior, esse impacto também é majorado.
"Quando você dá um choque no resultado nominal ou quando você dá um choque no resultado primário... tem um impacto sobre a inflação para cada 1%-0,5% (de impacto fiscal), e no 'core inflation' (núcleo da inflação) é até mais persistente", disse Guillen em seminário organizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
Em outro evento em São Paulo, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, alertou que a perda de credibilidade do país com uma eventual mudança na meta de resultado primário do governo pode ser maior do que o ganho fiscal gerado por essa flexibilização.
Campos Neto afirmou ainda que é importante para o governo insistir na meta de resultado primário e disse estar se "juntando ao coro do Ministério da Fazenda".
Com o movimento mais recente dos juros futuros, pontuou o economista-chefe do banco Bmg, Flavio Serrano, a curva a termo precificava nesta sexta-feira, de forma majoritária, cortes de 0,50 ponto percentual da taxa básica Selic nos encontros de dezembro e janeiro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Para a reunião de março, a precificação também está “quase” em 0,50 ponto de corte, destacou Serrano.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,435%, ante 10,501% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 10,13%, ante 10,212% do ajuste anterior.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,265%, ante 10,348%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 10,515%, ante 10,593%. O contrato para janeiro de 2031 marcava 10,9%, ante 10,966%.
Às 16:38 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- caía 0,60 ponto-base, a 4,4393%.