Por Fabrício de Castro
SÃO PAULO, 28 Abr (Reuters) - As taxas dos contratos futuros de juros encerraram a sexta-feira com altas consistentes, impulsionadas por dados de atividade melhores que o esperado e pelo desconforto do mercado financeiro em torno da área fiscal, após números ruins do setor público e novas despesas contratadas pelo governo.
Pela manhã, o Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br) –considerado um sinalizador de tendência para o Produto Interno Bruto (PIB)– indicou alta de 3,32% em fevereiro, bem acima do que esperava o mercado.
O IBC-Br foi mais um dos indicadores divulgados recentemente que sugerem que a atividade segue aquecida: na quinta-feira, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) revelou forte criação de empregos formais e, na quarta-feira, os núcleos do IPCA-15 indicaram que seguem acelerados.
Para completar, o BC divulgou nesta sexta-feira que o setor público consolidado registrou déficit primário de 14,182 bilhões de reais em março, sendo que economistas consultados pela Reuters esperavam resultado negativo de 9,028 bilhões de reais.
“A semana foi ruim para quem está apostando numa queda de juros mais cedo. Além do IBC-Br, tivemos o IPCA-15 com núcleos pressionados, o dado de política fiscal com déficit forte --tudo isso são sinais ruins para quem apostava numa queda da Selic”, comentou Rafael Pacheco, economista da Guide Investimentos, ao justificar a alta das taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) nesta sexta-feira.
Além destes fatores, conforme o estrategista-chefe da Warren Rena, Sérgio Goldenstein, a curva a termo foi influenciada pela notícia de que o governo adotará reajuste real do salário mínimo pela inflação mais a variação do PIB de dois anos antes.
“Com meta real de salário mínimo, fica mais complicado ainda o cumprimento da meta fiscal. Se a questão fosse só a precificação de política monetária, a parte longa da curva a termo não estaria subindo tanto hoje (sexta-feira)”, avaliou Goldenstein, lembrando que os rendimentos dos Treasuries caíam no exterior.
De fato, os contratos com prazos mais longos --em que os estrangeiros operam preferencialmente-- mostraram avanço firme das taxas, maior que na ponta curta.
“Quando uma regra do mínimo é criada, isso indexa parcela relevante das despesas do governo, como aposentadorias e pensões. E deixa ainda mais nebuloso o cumprimento das metas”, acrescentou Goldenstein.
Pacheco pondera, no entanto, que o impacto do IBC-Br e do resultado fiscal do setor público acabou sendo mais relevante para a curva a termo nesta sexta-feira que o anúncio sobre o mínimo.
“O mercado já estava antecipando isso”, disse.
No fim da tarde, a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 13,305%, ante 13,23% do ajuste anterior. A taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 12,07%, ante 11,901%. Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2026 estava em 11,765%, ante 11,606% do ajuste anterior, e a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,82%, ante 11,67%.
Perto do fechamento, a curva a termo precificava apenas 1% de chances de o Banco Central reduzir a Selic em 0,25 ponto percentual no encontro de política monetária da próxima semana e 99% de probabilidade de ele manter a taxa em 13,75% ao ano.
A precificação para corte na reunião seguinte, de junho, é mínima, enquanto para agosto a curva precifica corte de 14 pontos-base --o que, na prática, indica divisão entre manutenção ou corte de 0,25 ponto percentual.
No exterior, os rendimentos dos Treasuries seguiam em baixa neste fim de tarde, em meio a sinais de que a inflação nos EUA está desacelerando.
Às 16:38 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- caía 8,50 pontos-base, a 3,4428%.