Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs fecharam a terça-feira em alta no Brasil, após a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reforçar a possibilidade de corte menor de juros em junho e a inflação do IPCA-15 ficar acima do esperado em março, com os rendimentos dos Treasuries também dando certo suporte mais cedo.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 9,93%, ante 9,887% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 9,875%, ante 9,813% do ajuste anterior.
Já a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,115%, ante 10,051%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 10,4%, ante 10,35%. O contrato para janeiro de 2029 marcava 10,595%, ante 10,551%.
No início do dia, a ata do Copom indicou que alguns membros do colegiado avaliam que pode ser necessário reduzir o ritmo de cortes da taxa básica Selic, hoje em 10,75% ao ano. O documento apontou maior preocupação com uma possível pressão de salários sobre os preços e citou maior incerteza sobre o ambiente externo.
“Alguns membros argumentaram ainda que, se a incerteza prospectiva permanecer elevada no futuro, um ritmo mais lento de distensão monetária pode revelar-se apropriado, para qualquer taxa terminal que se deseje atingir”, informou o BC.
Na prática, a ata reforçou a leitura de que o Copom tende a reduzir novamente a Selic em 50 pontos-base em maio, podendo diminuir o ritmo de cortes para 25 pontos-base em junho.
“A ata trouxe um teor mais hawk (duro com a inflação), principalmente na parte de avaliação de cenário, reforçando a ideia de que, apesar de a trajetória ser de queda de inflação, o mix piorou um pouco”, comentou o economista-chefe do banco Bmg, Flavio Serrano, citando a piora nos preços de serviços e o mercado de trabalho apertado. “O BC preferiu não se comprometer com novo corte de 50 pontos-base na reunião de junho”, acrescentou.
Esta avaliação foi reforçada pelo resultado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), também divulgado pela manhã. O indicador desacelerou a alta de 0,78% em fevereiro para 0,36% em março, mas o resultado deste mês ficou acima da expectativa de 0,32% do mercado, conforme pesquisa da Reuters.
“As médias móveis dos núcleos e preços livres (...) começam a embicar para baixo. Mas serviços ainda incomodam”, pontuou o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior, em comentário enviado a clientes.
Neste cenário, as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) tiveram ganhos firmes durante a sessão, com o contrato para janeiro de 2027 chegando a subir cerca de 10 pontos-base no pico do dia, às 12h57.
O exterior contribuiu para o movimento, em especial pela manhã. Na esteira de alguns dados econômicos robustos nos EUA, os rendimentos dos Treasuries sustentaram ganhos na primeira metade dos negócios, o que também ajudou a impulsionar as taxas dos DIs com prazos mais longos.
As encomendas de bens duráveis -- itens destinados a durar três anos ou mais, que variam de torradeiras a aviões -- aumentaram 1,4% no mês passado nos EUA, acima do 1,1% projetado pelos economistas.
Internamente, destaque também para a divulgação durante a tarde do resultado primário do governo central de fevereiro, que indicou rombo de 58,4 bilhões de reais -- pior saldo para o mês da série histórica iniciada em 1997, conforme o Tesouro Nacional.
O rombo do mês, composto pelos resultados de Tesouro, Banco Central e Previdência Social, é 37,7% maior que o saldo negativo de 40,614 bilhões de reais observado no mesmo mês do ano passado, e refletiu uma antecipação de pagamentos de precatórios já programados para o ano.
Neste cenário, perto do fechamento a curva a termo brasileira precificava 91% de chances de o corte da taxa básica Selic em maio ser de 50 pontos-base, como vem sinalizando o BC.
No exterior, os rendimentos dos Treasuries haviam virado para o negativo em alguns vencimentos durante a tarde.
Às 16h37, o rendimento do Treasury de dez anos -- referência global para decisões de investimento -- caía 2 pontos base, a 4,234%.