Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs fecharam a quarta-feira em forte alta, acima de 10 pontos-base em boa parte dos contratos, após declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a área fiscal serem mal-recebidas pelo mercado e com o avanço dos rendimentos dos Treasuries no exterior também dando suporte ao movimento.
No fim da tarde desta sexta-feira a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 -- que reflete a política monetária no curtíssimo prazo -- estava em 10,605%, ante 10,563% do ajuste anterior. A taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 11,245%, ante 11,122% do ajuste anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,63%, ante 11,506%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 12,17%, ante 12,084%, e o contrato para janeiro de 2033 marcava 12,19%, ante 12,102%.
Em entrevista ao portal UOL pouco depois da abertura do mercado, Lula demonstrou resistência a realizar cortes de gastos, dando preferência ao ajuste fiscal pelo lado da receita -- algo que vêm sendo criticado por economistas do mercado.
O presidente disse que o governo não pode gastar mais do que arrecada, mas argumentou que as despesas do Brasil estão aquém da de muitos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Em outro ponto da entrevista, Lula descartou uma desvinculação de pensões e benefícios da política de ganhos reais do salário mínimo.
“Garanto que o salário mínimo não será mexido enquanto eu for presidente da República", disse.
Em falas recentes, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, vinha defendendo a proposta de desindexação dos benefícios da Previdência Social do salário mínimo.
Lula também desconversou sobre a possibilidade de o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, substituir Campos Neto a partir de 2025. Ele classificou Galípolo como um "companheiro" preparado, mas disse que ainda não pensa na sucessão de Campos Neto no BC -- outro tema de interesse do mercado.
Em meio às declarações de Lula, a taxa do DI para janeiro de 2027 -- um dos contratos mais líquidos -- atingiu o pico de 11,685% às 9h48, em alta de 0,18 pontos percentuais ante o ajuste anterior.
“A resistência de Lula contra cortes de despesas pega muito mal. Tivemos indicações recentes de que o governo iria revisar os gastos, mas a fala de hoje acaba sendo mais um fator de instabilidade”, pontuou o gerente da mesa de Derivativos Financeiros da Commcor DTVM, Cleber Alessie Machado. “Assim fica difícil algum agente no mercado ir contra o movimento de alta do dólar e da curva”, acrescentou.
Passado o momento de maior estresse com a entrevista, as taxas perderam parte do fôlego, mas ainda assim se mantiveram em níveis elevados, com o exterior também dando suporte. O rendimento dos Treasuries de dez anos tinha alta firme no fim da tarde, em um dia marcado por preocupações com a inflação global e de leilão de títulos do Tesouro norte-americano.
Estes dois fatores -- a fala Lula e o exterior -- deixaram em segundo plano a divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflação oficial. O indicador anunciado pelo IBGE subiu 0,39% em junho, ante alta de 0,44% no mês anterior. Pesquisa da Reuters com economistas estimava elevação de 0,45% para o período.
Apesar do alívio mensal, a taxa nos 12 meses até junho passou a avançar 4,06%, ante 3,70% em maio. A expectativa era de 4,12%.
Perto do fechamento a precificação da curva de juros indicava 83% de chances de manutenção da taxa básica Selic em 10,50% no próximo encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, em julho. Havia outros 17% de probabilidade precificados no sentido de que o colegiado poderá aumentar em 25 pontos-base a Selic. Na terça-feira, os percentuais eram de 87% e 13%, respectivamente.
Refletindo um aumento dos prêmios de risco em função do cenário fiscal e inflacionário, a curva também precificava alta da Selic já no encontro de setembro do Copom.
Durante a sessão o presidente Lula editou o tão esperado decreto que formaliza a adoção de uma meta contínua de inflação a partir de 2025, prevendo a prestação de explicações pelo Banco Central se o alvo for descumprido por seis meses consecutivos.
A meta será representada por variações acumuladas da inflação em 12 meses, apuradas mês a mês. A partir de 1º de janeiro de 2025, será considerado que a meta foi descumprida quando essa inflação acumulada se desviar por seis meses consecutivos da faixa do intervalo de tolerância. A meta e o intervalo de tolerância continuarão sendo fixados pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Atualmente, a meta é de 3%, com intervalo de 1,5 ponto percentual.
Às 16h46, o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- subia 8 pontos-base, a 4,318