Por Michael Elkins
O Bernstein reiterou a classificação de “underperfom” (abaixo da média) e o preço-alvo de US$ 150,00 para as ações da Tesla (NASDAQ:TSLA), após analisar alguns dados apresentados pela empresa em seu Dia do Investidor de 2023.
“Em 1º de março, a Tesla realizou seu Dia do Investidor e forneceu algumas atualizações quantitativas. Analisando-as superficialmente, nos chamaram a atenção alguns fatos”, escreveram os estrategistas do banco.
No dia do evento, a Tesla atingiu a marca de 4 milhões de veículos produzidos. Até então, a Tesla havia fabricado 3,73 milhões de carros, o que corresponde a cerca de 273 mil carros produzidos neste trimestre, ~ 64% das estimativas consensuais de produção (428 mil carros para o primeiro trimestre). Como já haviam transcorrido ~ 2/3 do trimestre até aquele momento e a produção em Berlim e Austin continua aumentando, isso sugere que a Tesla está no caminho certo para satisfazer as expectativas consensuais de produção para o trimestre atual.
A Tesla afirmou que atualmente emprega cerca de 65 mil trabalhadores no chão de fábrica. Se considerarmos 40 horas de trabalho por semana e uma taxa de produção de 440 mil veículos no quarto trimestre, isso implica aproximadamente 77 horas de trabalho por carro, acima do referencial de melhor prática da indústria, que é de aproximadamente 40 horas. A empresa reconheceu que ainda não está dentro da “melhor prática” para o chão de fábrica. A redução de 20 a 30 horas de trabalho na produção de seus carros poderia economizar mais de US$ 1.000 por veículo.
A Tesla divulgou 1,5 milhão de sessões semanais de Supercharger. A média da empresa foi de aproximadamente 36 mil estações de supercarregamento em 2022, o que implica 41,7 sessões por semana por Supercharger. Considerando que a sessão média seja de ~ 30 minutos, isso significa que cada estação foi utilizada por 3 horas. A Tesla também divulgou que forneceu 9 TWh de carregamento em 2022, mas o Bernstein tem dificuldade em conciliar os dois números. Supondo ainda que a sessão de recarga média fosse de ~40 kWh, e o preço médio fosse de US$ 0,25/kWh, isso implica ~ US$ 780M em receita ou ~ 13% da receita do segmento de Serviços e Outros.
A utilização relativamente baixa, em vista do potencial de aumento de receita, talvez explique por que a Tesla está abrindo suas estações de recarga para todos os VEs. Supondo que as estações de recarga da Tesla tenham um alcance de 50% nos EUA e na Europa e a expansão do acesso a VEs de outras marcas aumente a receita proporcionalmente à participação do volume de carros de outras marcas, multiplicada pela parcela de estações de recarga afetada, com 2/3 participação de volume nos EUA e ~ 15% na Europa, isso implicaria US$ 1,2 bilhão em aumento de receita ou ~ 30% de crescimento do segmento para Serviços e Outros.
O diretor-geral financeiro da Tesla afirmou que houve uma redução de 30% nos custos do Model 3 desde 2018, o que corresponde a uma economia de cerca de 7% ao ano. Os preços dos carros da Tesla caíram de 9% a 10% desde o quarto trimestre; se o CPV de automóveis recuar 7% este ano em relação aos níveis do quarto trimestre, isso indica que os GMs de automóveis estão sendo pressionados em 700 pontos-base em relação aos níveis do quarto trimestre. Cabe ressaltar que a Tesla cortou mais duas vezes os preços do Model 3 desde o desconto inicial em janeiro, e o carro ainda parece não ter uma carteira considerável de pedidos firmes em nenhum mercado importante, sugerindo possíveis cortes adicionais.
A Tesla estabeleceu metas de despesas de capital de longo prazo de US$ 150 bilhões a US$ 175 bilhões. Tecnicamente, se a Tesla crescesse 50% ao ano (sua meta atual de veículos), atingiria sua meta de longo prazo de vender 20 milhões de carros por ano até 2029. O Bernstein acredita que tal cronograma não é realista. No entanto, mesmo que a Tesla crescesse "apenas" 30% ao ano, ainda atingiria 20 milhões de carros em menos de 10 anos.
Os analistas do banco escreveram em nota: “Com a melhora do sentimento dos investidores, surgiram avaliações de que a companhia tivesse uma vantagem de custo estrutural duradoura, permitindo-lhe aproveitar o maior volume e predomínio no mercado de VEs, além de capturar avanços econômicos favoráveis no longo prazo. Acreditamos que, no curto a médio prazo, a Tesla não deve aumentar a produção de novos modelos na velocidade suficiente para satisfazer as expectativas de volume de 2,4 milhões em 2024, principalmente porque a plataforma de próxima geração parece estar na fase de projeto. Além disso, acreditamos que os cortes de preços ressaltam a natureza altamente competitiva do mercado automotivo, no qual margens altas sustentadas e volumes elevados não encontram precedentes, o que seria necessário para justificar o valuation premium da Tesla.”
As ações da TSLA recuavam 2,80% às 15h50 de Brasília, cotadas a 176,80 dólares.