Transporte da soja na Amazônia enfrenta protestos indígenas e estradas precárias

Publicado 04.04.2025, 16:23
Atualizado 04.04.2025, 16:50
© Reuters. Colheita de soja em fazenda de Maringán03/03/2025 REUTERS/Rodolfo Buhrer

Por Ana Mano

SÃO PAULO (Reuters) - Protestos indígenas e estradas precárias vêm atrapalhando as atividades nos terminais fluviais de Miritituba (PA), o principal complexo portuário do chamado Arco Norte e onde empresas como Cargill e Bunge (NYSE:BG) têm operações relevantes.

O gargalo logístico ocorre num momento de demanda aquecida pela soja do Brasil, que é o maior produtor e exportador mundial e deve colher um volume recorde da oleaginosa este ano. A escalada da guerra comercial global, que desestimula a compra da soja dos concorrentes norte-americanos pela China, favorece as vendas do Brasil ao país asiático, que é o maior importador do mundo do grão.

Miritituba recebeu cerca de 15 milhões de toneladas de soja e milho no ano passado, os quais foram acondicionados em barcaças para posterior exportação por Barcarena (PA). O volume movimentado equivale a mais de 10% das exportações brasileiras desses grãos no período. Espera-se que a movimentação no porto aumente cerca de 20% este ano.

Mas desde o final de março, manifestantes do povo Munduruku têm bloqueado um trecho da Rodovia Transamazônica (BR-230), perto da instalação portuária, atrapalhando a passagem dos caminhões em determinadas horas do dia. Os indígenas desejam pressionar o Supremo Tribunal Federal a derrubar uma lei de 2023 que visa limitar seus direitos à terra, o chamado Marco Temporal.

A presença dos Munduruku exacerbou um outro problema da região, que é a falta de pavimentação num trecho de cinco quilômetros da BR-230, conhecido como "Transportuária". Segundo a Associação Nacional das Empresas de Transporte de Cargas do Brasil (Anatc), os problemas no trecho atrasaram o descarregamento de algumas carretas por até três dias em Miritituba recentemente.

A Amport, que representa as maiores empresas que embarcam no terminal, disse que os caminhoneiros com acesso pré-agendado não enfrentam este tipo de espera no porto.

Ainda assim, o diretor-presidente da Amport, Flavio Acatauassu, estimou que cada hora de bloqueio dos manifestantes impede que pelo menos 12.000 toneladas de soja sejam descarregadas no terminal.

A Via Brasil BR-163, que administra 1.009 quilômetros da rodovia que liga as fazendas do Estado do Mato Grosso ao porto fluvial, disse que um novo acesso será construído quando o poder Judiciário lhe der permissão para desapropriar determinadas áreas.

Enquanto isto, a presença dos indígenas e caminhoneiros na área gerou tensão nas proximidades de Miritituba, de acordo com uma carta escrita pelos representantes Munduruku e enviada à Reuters.

"Nossa luta é pacífica, mas temos sofrido ataques e ameaças de caminhoneiros, incluindo xingamentos, arremesso de pedras, disparos e manobras violentas com veículos", disseram os manifestantes.

Rafael Modesto, advogado do Conselho Indigenista Missionário, que defende os interesses indígenas perante o Supremo Tribunal Federal, disse que o protesto reflete o temor dos povos nativos de perder suas terras para o agronegócio.

Ao mesmo tempo, representantes do setor agrícola no Congresso têm se colocado contra o Supremo em relação à questão do Marco Temporal.

"Acreditamos que, se qualquer proposta que altere o texto da Constituição for aprovada, manifestações como essa poderão se tornar mais frequentes em todo o Brasil", disse ele.

(Reportagem de Ana Mano; reportagem adicional de Manuela Andreoni)

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