Por Jeff Mason e Se Young Lee
WASHINGTON/PEQUIM (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta segunda-feira que se encontrará com o presidente chinês, Xi Jinping, no mês que vem, e que espera que suas discussões sejam "muito proveitosas", conforme a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo se intensifica.
Mais cedo, a China anunciou tarifas de importação mais altas a uma série de produtos norte-americanos, incluindo vegetais congelados e gás natural liquefeito, um movimento que seguiu a decisão de Washington de elevar suas próprias alíquotas sobre 200 bilhões de dólares em importações chinesas. Trump havia alertado Pequim para não retaliar.
O presidente dos EUA disse que se encontrará com Xi em uma cúpula do G20 no Japão, no fim de junho.
"Estamos lidando com eles. Temos uma relação muito boa", disse Trump em comentários na Casa Branca. "Talvez algo aconteça. Vamos nos reunir, como vocês sabem, no G20, no Japão, e será, eu acho, uma reunião produtiva."
Trump, que abraçou o protecionismo como parte de uma agenda "EUA Primeiro", acrescentou que ainda não decidiu se vai avançar com as tarifas sobre cerca de mais 325 bilhões de dólares em importações vindas da China.
A China, por sua vez, disse nesta segunda-feira que planeja estabelecer taxas de importação variando de 5 a 25 por cento sobre 5.140 produtos dos EUA, numa lista que soma 60 bilhões de dólares. Pequim afirmou que as tarifas entrarão em vigor em 1º de junho.
"O ajuste da China nas tarifas adicionais é uma resposta ao unilateralismo e ao protecionismo dos EUA", disse o Ministério das Finanças do país asiático. "A China espera que os EUA voltem ao caminho certo do comércio bilateral e das consultas econômicas e se encontrem com a China no meio do caminho."
A perspectiva de que Estados Unidos e China estejam entrando em uma disputa sem barreiras que poderia inviabilizar a economia global tem abalado os investidores e levou a uma forte liquidação nos mercados de ações na semana passada.
As ações globais caíram novamente nesta segunda-feira, com os principais índices de ações de Wall Street recuando mais de 2 por cento. O iuan chinês caiu para o nível mais baixo desde dezembro.
"Está claro que há muito nervosismo nas negociações comerciais entre os EUA e a China e preocupação de que esteja realmente se deteriorando significativamente, e isso está impactando todas as áreas dos mercados", disse Kristina Hooper, estrategista-chefe de mercado global da Invesco.
Trump intensificou seus ataques verbais contra a China na sexta-feira, depois que dois dias de negociações comerciais de alto nível em Washington terminaram com ambos os lados em um aparente impasse.
O secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, disse à CNBC que as negociações estão em andamento e que estava trabalhando sobre quando vai viajar a Pequim.
SONS DE UMA MESMA BATIDA
Trump acusou a China de rejeitar compromissos assumidos durante meses de negociações comerciais, algo negado por Pequim.
Segundo os EUA, a China tentou excluir, de um acordo prévio, compromissos de alteração de suas leis que criariam uma nova política sobre temas que variam desde propriedade intelectual até transferências forçadas de tecnologia. Isso causou um grande revés nas negociações.
No meio das negociações da semana passada, Trump elevou as tarifas sobre produtos chineses de 10 para 25 por cento. A mudança afetou 5.700 categorias de produtos do país asiático, incluindo modems de acesso à internet, roteadores e dispositivos similares.
Pequim disse nesta segunda-feira que "nunca se renderá" à pressão externa e a mídia estatal chinesa manteve um ritmo firme de comentários, reiterando que a porta para as negociações estava sempre aberta, mas afirmando que a China defenderá seus interesses nacionais e sua dignidade.
Em um comentário, a TV estatal disse que o efeito das tarifas norte-americanas sobre a economia chinesa era "totalmente controlável".
Nesta segunda-feira, a China disse que as políticas dos EUA estão ameaçando a existência da Organização Mundial do Comércio, estabelecendo uma série de queixas em uma "proposta de reforma" da OMC publicada pela organização em seu site.
Trump disse que não tem pressa para finalizar um acordo com a China. Ele novamente defendeu a elevação das tarifas pelos EUA e disse que não havia razão para os consumidores norte-americanos pagarem os custos.
Economistas e consultores do setor, no entanto, afirmam que são as empresas dos EUA que pagarão os custos e, provavelmente, os repassarão aos consumidores. Os gastos do consumidor respondem por mais de dois terços da atividade econômica norte-americana.
As tarifas dos EUA desencadearam no ano passado retaliações por parte da China, que impôs taxas de 25 por cento a 50 bilhões de dólares em produtos dos EUA, incluindo soja, carne bovina e suína.
Em nota, economistas do Goldman Sachs disseram que novas evidências mostraram que os custos das tarifas de Washington sobre a China no ano passado caíram inteiramente sobre empresas e famílias dos EUA, sem uma redução clara nos preços cobrados pelos exportadores chineses.
Os economistas acrescentaram que os efeitos das tarifas ultrapassaram notavelmente os preços cobrados pelos produtores norte-americanos que competiam com os bens afetados pelos impostos.
Nesta segunda-feira, Trump disse que seu governo planeja disponibilizar cerca de 15 bilhões de dólares em auxílio para produtores agrícolas norte-americanos que possam ser atingidos por tarifas da China.
(Reportagem de Ben Blanchard e Se Young Lee em Pequim; Makini Brice, Doina Chiacu, David Lawder, Jeff Mason e Humeyra Pamuk em Washington e de Alden Bentley em Nova York; Texto de Paul Simao)