SÃO PAULO (Reuters) - A fabricante de calçados Vulcabras retomou investimento em seu parque fabril e está se preparando para reativar sua marca voltada ao público feminino Azaleia, aproveitando recursos de uma recente oferta de ações e a recuperação da economia.
A companhia prevê investir cerca de 100 milhões de reais em renovação de equipamentos de suas três fábricas, a maior parte em 2018, algo que não era feito há cinco anos diante das dificuldades financeiras que levaram o grupo a uma reestruturação que culminou com uma oferta de ações de quase 700 milhões de reais no fim de novembro e a entrada da empresa no segmento Novo Mercado da B3 (SA:BVMF3), disse o presidente-executivo, Pedro Bartelle, em entrevista à Reuters.
A empresa, criada há 65 anos e controlada pela família de Bartelle, acumula neste ano uma valorização na B3 de cerca de 250 por cento, atingindo no terceiro trimestre a maior margem de lucro operacional do setor, de 24 por cento.
O desempenho marca uma virada gerada por plano de reestruturação executado entre 2012 e 2015 em conjunto com a consultoria Galeazzi, após a empresa ser pressionada por forte volume de importações e competição de preços irracional fomentada pela conjugação da Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 no Brasil.
Entre 2011 e 2012, a dívida da Vulcabras, que disputa mercado com grupos como Alpargatas (SA:ALPA4) e Grendene (SA:GRND3), era de 1,1 bilhão de reais e a expectativa de Bartelle, que assumiu como presidente-executivo em 2015, é que a linha caia para perto de zero até o final de deste ano.
"Vamos começar a modernizar nosso parque fabril depois de cinco anos e vamos ganhar em produtividade, vamos aplicar 100 milhões de reais, a maior parte em 2018... O nosso foco está em crescimento sustentável", disse Bartelle, estimando que o mercado brasileiro de calçados, quarto maior do mundo e que comercializa 800 milhões de pares por ano, poderá dobrar de tamanho no curto prazo.
As principais marcas da companhia são Olympikus, que é a mais vendida de calçados esportivos do país, segundo dados de levantamento Kantar Worldpannel citados por Bartelle, e Azaleia. A primeira é responsável por cerca de 80 por cento do faturamento do grupo, que apurou de janeiro ao fim de setembro receita de 948 milhões de reais. A Azaleia produz menos que 20 por cento do faturamento do grupo.
"A Azaleia é uma marca adormecida que precisa ser reativada... A Azaleia vende hoje cinco vezes menos que no início dos anos 2000", disse Bartelle, citando que a estratégia da companhia nesta recuperação da tradicional marca feminina está centrada em mídia sociais e aceleração de renovação de coleções.
A primeira coleção da marca após a reestruturação da companhia será lançada no primeiro semestre de 2018, disse o executivo, evitando comentar sobre expectativas sobre os resultados da empresa no próximo ano.
Dentro do plano de crescimento, a Vulcabras deverá manter seu foco sobre a América Latina, onde mantém 70 lojas na Colômbia, Peru e Chile, disse Bartelle. A empresa não tem lojas no Brasil, mas pode vir a investir em abertura de pontos de venda no país no futuro, afirmou o executivo sem mencionar prazo.
Segundo Bartelle, o Brasil tem cerca de 25 mil pontos físicos de venda de calçados e a Azaleia está presente em menos de 10 mil deles. Para ajudar no crescimento, a empresa criou neste ano um departamento independente focado no desenvolvimento da marca feminina, algo que deverá produzir "frutos no ano que vem", com a chegada da nova coleção.
"No feminino, as marcas lançam coleções novas quase todos os meses e estamos um pouco atrás nisso", disse Bartelle. Ele acrescentou que atualmente o preço médio da Azaleia fica entre 70 e 100 reais e que a Vulcabras pretende reposicionar a marca para ficar mais perto do topo da variação.
(Por Alberto Alerigi Jr.)