Por Aluisio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - A desinstalação de aplicativos está crescendo rapidamente no Brasil, num desafio crescente para empresas digitais que vêm lutando para aumentar a recorrência e rentabilizar suas bases de usuários, impulsionadas com os efeitos da pandemia da Covid-19.
Segundo um levantamento da empresa de medição de performance de marketing digital AppsFlyer, 57 de cada 100 aplicativos baixados em smartphones no Brasil em 2020 foram desinstalados em menos de 30 dias. Pior: em 45% dos casos, as desinstalações ocorreram nas primeiras 24 horas após o download.
Essa taxa de desinstalação, uma das maiores do mundo segundo a empresa, é bem superior ao índice de cerca de 40% observada em países como Estados Unidos, Japão, Coreia, França e Alemanha, e também representa um crescimento de cerca de 10% em relação ao ano anterior.
Esses números vêm após marketplaces e carteiras digitais com dezenas de milhões de usuários mais do que dobrarem suas bases de clientes no ano passado do Brasil, uma vez que o isolamento social forçou uma migração para negócios pela internet.
Embora aplicativos de jogos, de educação e fitness tenham sido as maiores vítimas, praticamente nenhum segmento ficou imune, com as taxas de desinstalação em 30 dias atingindo quase 40% do apps de finanças e 30% dos de compras.
Segundo o gerente de marketing da AppsFlyer Brasil, Marlon Luft, taxas maiores de desinstalação são mesmo maiores em mercados em desenvolvimento, como o brasileiro, dado que os smartphones em geral mais baratos têm capacidade média de armazenamento menor.
Mas num cenário de marketing de aplicativos cada vez mais competitivo, grandes empresas do mundo online podem ter que repensar seus modelos de aquisição de clientes, muitas vezes baseados em cashback e outras recompensas de entrada, avaliou.
Segundo a AppsFlyer, a perda média anual no orçamento de marketing de um aplicativo devido a essa evasão é de cerca de 4 milhões de reais. Para ter melhor efetividade no uso dos recursos, diz ele "as empresas tenderiam a direcionar os recursos mirando mais a qualidade do usuário e como fazê-lo criar hábitos de consumo dentro do aplicativo", disse Luft.
Esses números vêm no momento em que grandes empresas de comércio eletrônico e de serviços financeiros no Brasil estão canalizando investimentos para tentar ampliar a recorrência de seus usuários.
É o caso de companhias como Mercado Livre (NASDAQ:MELI), Magazine Luiza (SA:MGLU3), B2W (SA:BTOW3) e Via Varejo (SA:VVAR3), entre outras, que recentemente revelaram ampliação do foco em vendas de produtos de dia a dia por aplicativos, como de supermercados e de entrega de refeições.
Enquanto isso, plataformas de serviços financeiros, como a XP e o Mercado Pago, do Mercado Livre, lançaram na semana passada seus cartões de crédito, também num esforço para aumentarem a frequência de transações de seus usuários.