SÃO PAULO (Reuters) - A fintech especializada em pequenas e médias empresas (PMEs) Cora anunciou nesta terça-feira que recebeu um aporte de 116 milhões de dólares liderado pelo fundo Greenoaks, antecipando planos de expansão previstos para 2022.
A rodada, que também envolveu Ribbit Capital, Kaszek Ventures, QED Investors, Tiger e Tencent Holdings (HK:0700), vem quatro meses após a Cora ter recebido 26,7 milhões de dólares em aporte liderado pela Ribbit (NYSE:LEAP)
O movimento ilustra como, após uma primeira onda de bancos digitais com foco no varejo, cujo maior expoente Nubank prepara-se para listagem na Nasdaq, negócios digitais no Brasil estão rapidamente ganhando popularidade entre PMEs, que buscaram canais online para sobreviver a lockdowns para conter a Covid-19, que mantiveram negócios físicos fechados por meses.
Isso foi catalisado por inovações regulatórias lideradas pelo Banco Central, como o pagamento instantâneo PIX e o open banking, lançados no fim de 2020, para ampliar a competição no setor financeiro altamente concentrado, com empréstimos caros e tarifas elevadas para os tomadores.
Com isso e num ambiente de taxas de juros globais perto de mínimas recordes, fundos de capitais de risco estão ampliando a exposição a plataformas tecnológicas de comércio online e de serviços financeiros em escala geométrica e em intervalos cada vez menores no Brasil.
Na semana passada, a plataforma de e-commerce brasileira Nuvemshop anunciou um aporte de 500 milhões de dólares, cinco meses após um outro aporte de 500 milhões de reais.
Com pequenos varejistas e prestadores de serviços engessados pela restrições de contato social, gigantes do e-commerce no país, como Magazine Luiza (SA:MGLU3) e Mercado Livre (NASDAQ:MELI) (SA:MELI34), estão aglutinando milhares de pequenos negócios em seus marketplaces, oferecendo-lhes logística e serviços financeiros.
A Cora, que já captou 152,7 milhões de dólares, estreou em outubro passado oferecendo contas digitais e ferramentas de gestão a empresas com faturamento em média de 4 milhões de reais por ano.
Agora, os novos recursos serão usados em tecnologia, incluindo a contratação ainda em 2021 de mais 80 profissionais, entre engenheiros de software e desenvolvedores, chegando a 250.
Em outra frente, vai deslanchar a recém-lançada prateleira de crédito, usando recursos próprios, como parte das medidas para acelerar a base de clientes, hoje de 130 mil.
"A meta é superar 380 mil clientes ainda neste ano", disse o sócio-fundador e presidente da Cora, Igor Senra, à Reuters, citando planos de oferecer recebimento de contas por meio de cartões de crédito, antecipação de recebíveis e investimentos.
Segundo o executivo, a lógica de primeiro empregar capital próprio para lastrear os empréstimos é que assim pode oferecer crédito mais barato. Mais tarde, tendo um histórico de baixos níveis de inadimplência, a Cora terá condições de captar no mercado também com taxas menores.
"Queremos combater essa espiral negativa, na qual crédito mais caro acaba gerando maiores atrasos", disse Senra.
O executivo contou que a fintech planeja abrir o capital daqui a alguns anos, em vez de buscar parcerias com grandes instituições financeiras no país.
Para atingir a meta de expansão, a fintech está fazendo parcerias com escritórios de contabilidade, dividindo com eles parte das receitas com a captação de clientes.
(Por Aluísio Alves)