SÃO PAULO (Reuters) - É uma história tão sensacional que parece inventada – e parte dela foi, para o filme “O Roubo da Taça”. Mas, aparentemente, muito do que está na tela é real, ou, ao menos, poderia ter sido. O diretor Caito Ortiz – que assina o roteiro, premiado no Festival de Gramado, com Lusa Silvestre – parte de fatos concretos para inventar uma trama plausível, pautada pela comédia.
Peralta (Paulo Tiefenthaler, também premiado em Gramado) trabalha numa seguradora, está com dívidas de jogo e pensa sempre em se dar bem. É o típico malandro inofensivo, cujos golpes, apenas para lhe garantir uma vida melhor, nunca dão certo. Tenta de tudo, desde jogos clandestinos até esquema de pirâmide. Vale (SA:VALE5) lembrar que eram os anos de 1980, e muita gente caía nesse golpe.
“O Roubo da Taça”, no entanto, é uma história que não poderia ter acontecido em outro país senão o Brasil, onde a lei e malandragem dialogam com facilidade, num contorno tênue e esfumaçado. Peralta tem fácil acesso à sede da CBF, no Rio, pois diz que é representante do Atlético Mineiro. A taça Jules Rimet – cujo direito de posse o Brasil conquistou em 1970 ao sagrar-se tricampeão derrotando a Itália – ficava na sala do presidente da entidade, atrás de um vidro blindado, com uma moldura presa por um único prego.
Junto com seu comparsa, o ex-policial Borracha (Danilo Grangheia), Peralta facilmente rouba o troféu numa calorenta noite de dezembro de 1983. Roubar foi fácil, mas o que fazer com a taça? Quem irá comprar aquilo que está na capa de todos os jornais? Para desespero de sua mulher, Dolores (Taís Araújo), ele a esconde dentro de sua própria casa. Enquanto buscam um comprador, a polícia entra em cena, na figura de um investigador (Milhem Cortaz).
A excelente direção de arte – assinada por Fábio Goldfarb, também premiado em Gramado – reconstitui uma época que parece nunca morrer no Brasil, os anos de 1980. Está tudo lá, na decoração da casa, nos acessórios e figurinos – por David Parizotti – e nas cenas na televisão, enquanto Dolores acompanha todos os dias os capítulos da primeira versão da novela “Guerra dos Sexos”, com direito a exibição da clássica cena de Fernanda Montenegro e Paulo Autran se atacando mutuamente com comida durante o café da manhã.
Além da reconstituição de época, da criatividade do roteiro e da fotografia vencedora em Gramado – de Ralph Strelow –, a grande estrela do filme é mesmo Tiefenthaler, que aqui mostra seu grande talento, especialmente para comédia. Ele já havia se destacado como coadjuvante em “Trinta”, mas é em “O Roubo da Taça” que mostra seu timing afiado para humor, sua sagacidade na composição de personagem – um sujeito com praticamente tudo errado na vida, incapaz de perceber que vai se dar mal – e presença de cena. Seu troféu em Gramado foi mais do que merecido.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
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