EXCLUSIVO-Mais de 1.000 sírios morreram em prisão de aeroporto durante governo de Assad, diz relatório

Publicado 27.02.2025, 09:12
Atualizado 27.02.2025, 09:15
© Reuters. Tanques, aeronave e outros veículos estacionados em hangar de aeroporto militar no subúrbio de Mezzehn 20/12/2024    REUTERS/Maggie Michael

Por Reade Levinson e Feras Dalatey

DAMASCO (Reuters) - Mais de 1.000 sírios morreram em detenção em um aeroporto militar nos arredores de Damasco, mortos por execução, tortura ou maus-tratos em um local que era amplamente temido, de acordo com um relatório a ser publicado na quinta-feira que rastreou as mortes em sete supostos locais de sepultura.

No relatório, compartilhado exclusivamente com a Reuters, o Centro de Justiça e Responsabilidade da Síria disse que identificou os locais das sepulturas usando uma combinação de depoimentos de testemunhas, imagens de satélite e documentos fotografados no aeroporto militar no subúrbio de Mezzeh, em Damasco, após a saída do presidente Bashar al-Assad em dezembro.

Alguns locais estavam no terreno do aeroporto. Outros por Damasco.

A Reuters não examinou os documentos e não conseguiu confirmar de forma independente a existência das valas comuns por meio de sua própria análise de imagens de satélite. Mas repórteres da Reuters viram sinais de terra mexida em imagens de muitos dos locais apontados pelo Centro de Justiça. Dois dos locais, um na propriedade do aeroporto de Mezzeh e outro em um cemitério em Najha, mostram sinais claros de longas trincheiras cavadas durante períodos consistentes com o depoimento de testemunhas do órgão.

Shadi Haroun, um dos autores do relatório, disse que estava entre os prisioneiros. Detido por vários meses em 2011-2012 por organizar protestos, ele descreveu interrogatórios diários com tortura física e psicológica com o objetivo de forçá-lo a fazer confissões infundadas.

A morte vinha de várias formas, afirmou ele à Reuters.

Embora os detentos não vissem nada além das paredes de suas celas ou da sala de interrogatório, eles podiam ouvir "disparos ocasionais, tiro a tiro, a cada dois dias".

Além disso, havia os ferimentos infligidos por torturadores.

"Um pequeno ferimento no pé de um dos detentos, causado por uma chicotada que ele recebeu durante a tortura, não foi esterilizado ou tratado por dias, o que gradualmente se transformou em gangrena e sua condição piorou até chegar ao ponto de amputação de todo o pé", disse Haroun, descrevendo a situação de um companheiro de cela.

Além de obter os documentos, o Centro de Justiça e a Association for the Detained and Missing Persons in Sednaya Prison entrevistaram 156 sobreviventes e oito ex-membros da inteligência da Força Aérea, o serviço de segurança da Síria encarregado de vigiar, prender e matar os críticos do regime.

O novo governo emitiu um decreto proibindo ex-autoridades do regime de falar publicamente e nenhum deles estava disponível para comentar.

"Embora algumas das sepulturas mencionadas no relatório não tenham sido descobertas antes, a descoberta em si não nos surpreende, pois sabemos que há mais de 100.000 pessoas desaparecidas nas prisões de Assad que não saíram durante os dias de libertação no início de dezembro", disse um coronel do Ministério do Interior do novo governo que se identificou com seu pseudônimo militar, Abu Baker.

"Descobrir o destino dessas pessoas desaparecidas e procurar por mais túmulos é um dos maiores legados deixados pelo regime de Assad", afirmou ele.

Estima-se que centenas de milhares de sírios tenham sido mortos desde 2011, quando a repressão de Assad aos protestos se transformou em uma guerra em grande escala. Tanto Assad quanto seu pai Hafez, que o precedeu como presidente e morreu em 2000, há muito tempo são acusados por grupos de direitos humanos, governos estrangeiros e promotores de crimes de guerra de assassinatos extrajudiciais generalizados, incluindo execuções em massa dentro do sistema prisional do país e uso de armas químicas contra o povo sírio.

O Centro de Justiça disse que todos os sobreviventes que entrevistou foram torturados.

(Reportagem de Reade Levinson em Londres e Feras Dalatey em Damasco)

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