Por Jack Kim e Ju-min Park
SEUL (Reuters) - O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, disse nesta quarta-feira que iria suspender a declaração de lei marcial que ele mesmo havia imposto poucas horas antes, em um recuo dramático em meio a um impasse com o Parlamento, que rejeitou a tentativa do presidente de proibir a atividade política e censurar a mídia.
Yoon declarou a lei marcial na noite de terça-feira para impedir a ação de "forças antiestatais". Mas os parlamentares rejeitaram o decreto, na maior crise política da Coreia do Sul em décadas.
Manifestantes reunidos do lado de fora do Parlamento gritaram e bateram palmas depois que Yoon recuou. "Nós vencemos!", entoavam.
O principal partido de oposição, o Partido Democrático, pediu que Yoon, que está no cargo desde 2022, renunciasse ou enfrentasse um impeachment.
"Mesmo que a lei marcial seja suspensa, ele não pode evitar as acusações de traição. Foi claramente revelado para toda a nação que o presidente Yoon não poderia mais administrar o país normalmente. Ele deve renunciar", disse Park Chan-dae, membro sênior do partido no Parlamento, em um comunicado.
"A Coreia do Sul, como nação, se esquivou de um tiro, mas o presidente Yoon pode ter dado um tiro no próprio pé", disse Danny Russel, vice-presidente do think tank Asia Society Policy Institute, nos Estados Unidos.
A moeda sul-coreana, won, recuperou-se de uma mínima de mais de dois anos em relação ao dólar após o recuo de Yoon, enquanto os fundos negociados em bolsa vinculados às ações sul-coreanas também reduziram suas perdas.
A declaração surpreendente de Yoon sobre a lei marcial, que ele disse ter como alvo seus adversários políticos, foi rejeitada por 190 membros do Parlamento. De acordo com a legislação sul-coreana, o presidente precisa suspender imediatamente a lei marcial se o Parlamento exigir isso por maioria de votos. O próprio partido de Yoon pediu que ele revogasse o decreto.
A crise em um país que é uma democracia desde a década de 1980, aliado dos Estados Unidos e uma das principais economias asiáticas causou alarme internacional.
A Casa Branca disse que estava satisfeita com o fato de Yoon ter recuado.
"Estamos aliviados com o fato de o presidente Yoon ter revertido o curso de sua declaração de lei marcial e respeitado a... votação da Assembleia Nacional para encerrá-la", disse um porta-voz da Casa Branca.
Mais cedo, o vice-secretário de Estado dos EUA Kurt Campbell disse que os EUA estavam observando os acontecimentos na Coreia do Sul com "grande preocupação" e esperavam que quaisquer disputas políticas fossem resolvidas pacificamente e de acordo com o Estado de Direito.
Após o anúncio de Yoon sobre a lei marcial em um discurso noturno na televisão, os militares disseram que as atividades do Parlamento e dos partidos políticos seriam proibidas e que a mídia e as editoras estariam sob o controle do comando da lei marcial.
Yoon não citou nenhuma ameaça específica da Coreia do Norte, concentrando-se em seus oponentes políticos internos. Essa foi a primeira vez desde 1980 que a lei marcial foi declarada na Coreia do Sul.