Por Will Dunham
WASHINGTON (Reuters) - Supor a aparência física de um dinossauro -- ou qualquer animal extinto -- com base em seus fósseis já é uma proposição complicada, com tantas incertezas envolvidas. Avaliar a inteligência de um dinossauro, considerando os inúmeros fatores que contribuem para essa característica, é exponencialmente mais difícil.
Um estudo publicado no ano passado pela neurocientista Suzana Herculano-Houzel, da Universidade Vanderbilt, que avaliou a inteligência do Tiranossauro Rex focando no tamanho estimado do cérebro e na quantidade de neurônios cerebrais, em comparação com os dos primatas -- especificamente o babuíno --, causou um alvoroço nos círculos científicos.
Agora, uma equipe científica interdisciplinar publicou um estudo em resposta, questionando a metodologia de Herculano-Houzel e desafiando sua avaliação da inteligência do T. Rex e outros grandes predadores dinossauros da subordem dos terópodes.
Eles sugerem uma abordagem mais holística para avaliar a capacidade cerebral do Tiranossauro ou qualquer animal extinto, com o tamanho do cérebro e contagem de neurônios ao lado de outros fatores, como a anatomia e a ecologia do animal, dados de parentes vivos e evidências fósseis sobre como ele se movia e se alimentava que ofereçam um vislumbre de sua vida.
“Nossas principais descobertas são que os cérebros da maioria dos dinossauros, incluindo o T. Rex, eram comparáveis em tamanho relativo com os dos répteis vivos, como crocodilos e jacarés. Além disso, a quantidade de neurônios provavelmente não era excepcional, especialmente para animais da sua massa corporal”, disse o zoólogo Kai Caspar, da Universidade de Heinrich Heine, na Alemanha, que estuda o comportamento de animais vivos e foi o principal autor do estudo publicado nesta semana na revista The Anatomical Record.
“O que precisa ser enfatizado é que répteis certamente não são tão estúpidos quanto se acredita”, acrescentou Caspar. “Seus comportamentos podem ser muito complexos e os dados experimentais que temos apontam para muitas similaridades cognitivas entre eles, mamíferos e pássaros. Então, embora não haja razão para presumir que o T. Rex tivesse hábitos parecidos com os dos primatas, ele certamente era um animal sofisticado em termos de comportamento.”
Herculano-Houzel disse que continua endossando suas descobertas e disse que a nova análise é falha.
“A única coisa que está em disputa é o que já estava na época do meu estudo: qual era de fato o tamanho dos cérebros dos dinossauros. Mesmo naquela época, estávamos falando sobre a diferença entre o cérebro do T. Rex ser do tamanho do de um babuíno ou de um macaco”, disse Herculano-Houzel.
“A conclusão deles depende de um único ponto extremamente importante: se terópodes como o T. Rex compartilhavam sua relação (de tamanho cérebro-corpo) com seus primos avestruzes e galinhas de sangue quente existentes ou com seus parentes vivos mais distantes, os crocodilos. Eu disse a primeira opção porque eu comparei os terópodes aos avestruzes e galinhas; agora, eles dizem que é a segunda opção”, acrescentou Herculano-Houzel.
Caspar disse que a comparação com as aves modernas também é parte integrante do novo estudo.
“NÃO É UMA QUESTÃO TRIVIAL”
Há problemas em tentar avaliar a inteligência a partir da contagem de neurônios cerebrais, afirmou Caspar.
“O primeiro obstáculo é estimar o tamanho de fato do cérebro do animal extinto em questão. Essa não é uma questão trivial em dinossauros. Embora o cérebro preencha a maior parte da cavidade craniana das aves e dos mamíferos, esse não é o caso de espécies de répteis, cujos cérebros preenchem apenas entre 30% e 50% da cavidade craniana”, disse Caspar.
“O estudo de 2023 presumiu um preenchimento de 100% em dinossauros como o T. Rex e esse certamente não era o caso”, acrescentou.
Não se sabe qual a densidade dos neurônios nos cérebros dos dinossauros, disse Caspar.
"No entanto, olhando para animais vivos, vemos que a contagem de neurônios não é, na verdade, um bom indicador de inteligência em primeiro lugar, embora isso possa parecer intuitivo à primeira vista", acrescentou Caspar.
Os dinossauros, com exceção de seus descendentes pássaros, desapareceram 66 milhões de anos atrás, após um asteróide atingir a Terra. Em dois séculos de estudos científicos, os dinossauros estão se tornando mais bem definidos, embora ainda haja muitas incertezas sobre o Tiranossauro e outras espécies.