Trump assume controle da polícia de Washington D.C. e envia Guarda Nacional

Publicado 11.08.2025, 12:00
Atualizado 11.08.2025, 15:35
© Reuters. Presidente dos EUA, Donald Trump n11/08/2025. REUTERS/Jonathan Ernst

Por Trevor Hunnicutt e Nandita Bose

WASHINGTON (Reuters) - O presidente Donald Trump disse nesta segunda-feira que estava enviando 800 soldados da Guarda Nacional para Washington e colocando o departamento de polícia da cidade sob controle federal, uma afirmação extraordinária do poder presidencial na capital do país.

A ação de Trump, que passou por cima dos líderes eleitos da cidade, foi emblemática de sua abordagem na Presidência do país, exercendo a autoridade executiva de maneiras que têm poucos precedentes na história moderna dos EUA e desafiando as normas políticas.

O presidente classificou suas ações como necessárias para "resgatar" Washington do que ele descreveu como uma onda de ilegalidade, apesar de as estatísticas mostrarem que os crimes violentos atingiram o nível mais baixo em 30 anos em 2024 e continuaram a diminuir este ano.

"Estou enviando a Guarda Nacional para ajudar a restabelecer a lei, a ordem e a segurança pública em Washington D.C.", disse Trump a repórteres na Casa Branca, ladeado por autoridades do governo, incluindo o secretário de Defesa, Pete Hegseth, e a procuradora-geral, Pam Bondi.

"Nossa capital tem sido dominada por gangues violentas e criminosos sanguinários."

É a segunda vez neste verão (no hemisfério norte) que o presidente republicano envia tropas para uma cidade governada pelos democratas. Trump enviou milhares de soldados da Guarda Nacional para Los Angeles em junho, apesar das objeções das autoridades estaduais e locais.

E Trump sinalizou em sua coletiva de imprensa que outra grande cidade dos EUA com liderança democrata poderia ser a próxima -- Chicago, onde os crimes violentos diminuíram significativamente no primeiro semestre do ano.

"Se for necessário, faremos a mesma coisa em Chicago, que é um desastre", disse Trump na Casa Branca, acrescentando: "Espero que Los Angeles esteja assistindo".

Trump demonstrou interesse especial em assumir o controle de Washington, que está sob a jurisdição do Congresso, mas exerce autogoverno de acordo com uma lei dos EUA de 1973.

Centenas de policiais e agentes de mais de uma dúzia de agências federais, incluindo o FBI, ICE, DEA e ATF, espalharam-se pela cidade nos últimos dias. A procuradora-geral Pam Bondi supervisionará a tomada de controle da força policial, disse Trump.

A prefeita democrata de Washington, Muriel Bowser, rebateu as afirmações de Trump, dizendo que a cidade "não está sofrendo um salto de crimes" e destacando que os crimes violentos atingiram seu nível mais baixo em mais de três décadas no ano passado.

Os crimes violentos, incluindo assassinatos, tiveram um pico em 2023, transformando Washington em uma das cidades mais mortais do país. Desde então, entretanto, os crimes violentos caíram 35% em 2024, de acordo com dados federais, e caíram mais 26% nos primeiros sete meses de 2025, de acordo com a polícia da cidade.

O procurador-geral da cidade, Brian Schwalb, chamou as ações de Trump de "sem precedentes, desnecessárias e ilegais" em uma publicação no X e disse que seu escritório estava "considerando todas as nossas opções".

Bowser não comentou imediatamente o anúncio de Trump, embora outros democratas tenham se manifestado.

"Donald Trump não tem base para assumir o controle do departamento de polícia local. E nenhuma credibilidade na questão da lei e da ordem", escreveu o líder democrata da Câmara dos Deputados, Hakeem Jeffries, no X.

TRUMP INTENSIFICA A RETÓRICA

Na semana passada, Trump intensificou suas mensagens, sugerindo que poderia tentar tirar a autonomia local da cidade e implementar uma tomada federal completa.

O Distrito de Colúmbia, fundado em 1790, opera de acordo com a Lei de Autonomia, que dá ao Congresso a autoridade máxima, mas permite que os residentes elejam um prefeito e um conselho municipal. Trump disse na semana passada que os advogados estão examinando como derrubar a lei, uma medida que provavelmente exigiria que o Congresso a revogasse.

Ao assumir o Departamento de Polícia Metropolitana, Trump invocou uma seção da lei que permite que o presidente use a força por 30 dias quando houver "condições especiais de natureza emergencial". Trump disse que estava declarando uma "emergência de segurança pública" na cidade.

De acordo com o estatuto, o controle presidencial é "projetado para ser uma medida de emergência temporária, não uma tomada de controle permanente", disse a professora de direito da Universidade de Minnesota, Jill Hasday.

INÍCIO DE JULGAMENTO

Um julgamento federal foi marcado para começar nesta segunda-feira em São Francisco sobre se o governo Trump violou a lei dos EUA ao enviar 5.000 soldados da Guarda Nacional e fuzileiros navais sem a aprovação do governador democrata da Califórnia, Gavin Newsom.

As tropas foram enviadas em resposta aos protestos contra as batidas realizadas por agentes federais de imigração. Autoridades estaduais e locais se opuseram à decisão de Trump por considerá-la desnecessária, ilegal e inflamatória.

Em uma publicação no X, Newsom escreveu: "Washington DC, eis o que você pode esperar agora que o presidente quer fazer cosplay de ditador em sua cidade também: Soldados sentados sem nada para fazer; mentiras de todos os níveis do governo federal; nenhum impacto significativo".

O presidente tem ampla autoridade sobre os 2.700 membros da Guarda Nacional de Washington, diferentemente dos Estados, onde os governadores normalmente têm o poder de ativar as tropas.

As tropas da Guarda Nacional foram enviadas a Washington muitas vezes, inclusive em resposta ao ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio dos EUA por uma multidão de apoiadores de Trump.

Durante seu primeiro mandato, Trump enviou a Guarda Nacional para Washington em 2020 para ajudar a reprimir manifestações em sua maioria pacíficas durante protestos nacionais contra a brutalidade policial após o assassinato de George Floyd. Líderes de direitos civis e líderes municipais denunciaram o envio.

Desde a década de 1980, Trump tem usado a retórica sobre o crime, muitas vezes com conotações raciais, como uma ferramenta política. Seu pedido de pena de morte em 1989 no caso do Central Park que envolveu cinco adolescentes negros e latinos posteriormente inocentados de estupro e espancamento de uma mulher continua sendo um dos momentos mais controversos de sua vida pública.

Os "Cinco do Central Park" processaram Trump por difamação depois que ele disse falsamente durante um debate presidencial no ano passado que eles haviam se declarado culpados.

A população de Washington era cerca de 40% negra em 2020, de acordo com dados do Censo dos EUA. Chicago tinha cerca de 29% de negros e 30% de hispânicos ou latinos, enquanto Los Angeles tinha cerca de 47% de hispânicos ou latinos.

(Reportagem de Jarrett Renshaw e Nandita Bose em Washington)

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