Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cancelou na noite de quarta-feira o envio de observadores para a eleição presidencial venezuelana marcada para o próximo domingo em resposta a alegações falsas feitas pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, de que o sistema eleitoral brasileiro não é passível de auditoria.
"Em face de falsas declarações contra as urnas eletrônicas brasileiras, que, ao contrário do afirmado por autoridades venezuelanas, são auditáveis e seguras, o Tribunal Superior Eleitoral não enviará técnicos para atender convite feito pela Comissão Nacional Eleitoral daquele país para acompanhar o pleito do próximo domingo", disse a corte em nota.
"A Justiça Eleitoral brasileira não admite que, interna ou externamente, por declarações ou atos desrespeitosos à lisura do processo eleitoral brasileiro, se desqualifiquem com mentiras a seriedade e a integridade das eleições e das urnas eletrônicas no Brasil."
Na nota, o TSE afirmou que reforçou a segurança do sistema de urnas eletrônicas do Brasil, que foi alvo de alegações sem fundamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de seus apoiadores durante a eleição presidencial de 2022.
"(As urnas eletrônicas) são auditáveis e auditadas permanentemente, são seguras, como se mostra historicamente. Nunca se conseguiu demonstrar qualquer equívoco ou instabilidade em seu funcionamento", afirmou o TSE.
As falas de Maduro criticando o sistema eleitoral brasileiro aconteceram depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, em entrevistas a agências internacionais nesta semana, que havia ficado assustado com a declaração do presidente venezuelano de que haveria um "banho de sangue" caso ele fosse derrotado na eleição de domingo.
Na ocasião, Lula também disse que Maduro deve respeitar o processo democrático e aprender que, quando se vence uma eleição, se permanece no poder e, quando se perde, deve-se ir embora.
Em resposta sem citar o nome de Lula, além de atacar o sistema eleitoral do Brasil, Maduro também disse que aqueles que ficaram assustados com sua declaração deveriam tomar chá de camomila.
Na entrevista, Lula afirmou que seu assessor para Assuntos Internacionais, o embaixador e ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, irá à Venezuela acompanhar a eleição.
Também na quarta, o ex-presidente da Argentina Alberto Fernández, que havia sido convidado para atuar como observador na eleição venezuelana pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano, anunciou que não viajará ao país depois que o "governo nacional venezuelano me transmitiu sua vontade de que eu não viaje e desista de cumprir com a tarefa que me havia sido encomendada pelo Conselho Nacional Eleitoral".
Em publicação na rede social X, Fernández afirmou que a razão dada pelas autoridades do governo venezuelano foi o fato de ele ter afirmado concordar com as falas de Lula ao dizer que "quem ganha, ganha, e quem perde, perde" a eleição.
Fernández disse que o governo da Venezuela alegou que as declarações "causavam incômoda e geraram dúvidas sobre minha imparcialidade".