Por Anggy Polanco
CÚCUTA, Colômbia (Reuters) - Milhares de venezuelanos empobrecidos estão cruzando a fronteira com a Colômbia todos os dias para vender produtos básicos baratos, desde laranjas a velas, na tentativa desesperada de conseguir moeda forte em meio ao colapso econômico cada vez mais grave de seu país.
A fronteira porosa de cerca de 2.220 quilômetros há anos fervilha de contrabandistas devido às diferenças enormes de preços, causadas pelos controles impostos pelo governo socialista da Venezuela.
Mas nos últimos três meses disparou o número de venezuelanos que migram para a área fronteiriça e passam os dias indo de porta em porta para tentar vender produtos de baixo custo na Colômbia.
Centenas de vendedores estão dormindo nas ruas da cidade venezuelana fronteiriça de San Antonio, e o aumento da quantidade de ambulantes do lado colombiano está revoltando os lojistas locais.
Albert Rodriguez, de 22 anos, passa as noites em uma lona plástica nas ruas de San Antonio desde que deixou o Estado venezuelano agrícola de Lara um mês atrás. Ele vende café no país vizinho, mas ainda não conseguiu enviar dinheiro para casa para ajudar sua filha recém-nascida.
"É duro, porque há muitos venezuelanos. Sinto vontade de chorar, porque estou muito impotente", disse Rodriguez, que disse que futuramente espera migrar para o centro da Colômbia, onde acredita que as perspectivas de emprego são melhores.
A onda de vendedores é um indício de como um quarto ano de recessão – que vem fomentando desnutrição, doenças e crimes violentos – está rompendo o tecido social da Venezuela.
Ela também evidencia que a Colômbia, que já abriga a maioria dos migrantes venezuelanos na América do Sul, continua particularmente vulnerável à crise.
O governo colombiano não respondeu a um pedido de comentário.
Ao raiar do dia, os ambulantes venezuelanos passam horas empenhados em conseguir vaga em um ônibus que viaja para a divisa com a Colômbia. Depois eles a cruzam a pé, a maioria rezando silenciosamente para que a Guarda Nacional não exija pagamentos para deixá-los passar com seus produtos.
Uma vez seguros em Cúcuta, os vendedores se dispersam em ônibus diferentes que os transportam através da cidade colombiana de fronteira. Na hora de vender, os preços são cerca de metade dos vistos em lojas colombianas devido à depreciação do bolívar, a moeda venezuelana. (Reportagem adicional de Helen Murphy em Bogotá)