Ativos de risco caíram durante a semana, com ingredientes negativos como as novas sanções à Rússia; resultados aquém do esperado de empresas listadas nos Estados Unidos e Europa; a suspensão de negociação dos papéis do Banco Espírito Santo – após suas ações desvalorizarem 73% –; e pelo segundo calote da argentina desde 2001 – que ativou o pagamento de US$ 1 bilhão em seguros sobre os títulos do país (os chamados CDSs, ou credit default swap).
Os investidores nos mercados acionários também resolveram colocar algum lucro no bolso, mesmo com o crescimento do PIB americano de 4% no segundo trimestre de 2014. A leitura fina do número não sugere tanta robustez dada a grande contribuição que veio do incremento de estoques. O aumento modesto do desemprego no país para 6.2%, juntamente com uma menor criação de postos de trabalho, diminuiu a resiliência no mercado, zerando os ganhos do Dow Jones no ano. Apenas para registrar: os principais índices acionários caíram entre 1% e 4% nos últimos cinco dias, sendo que os indicadores asiáticos foram exceções.
Os três principais índices de commodities tomaram um tombo de 2%, e dentre as matérias-primas que compõe o CRB o café foi o único que subiu respeitáveis 7.37%, já que o cacau, o gás natural e a soja todos tiveram alta menor que 0.5%.
O contrato do arábica da ICE fechou o mês de julho com ganhos acumulados no ano de 12.7%, e de sexta passada para esta teve uma alta de US$ 17.46 por saca. Londres subiu menos, US$ 4.80 a saca, reflexo da proximidade da safra e dos diferenciais barateados do Vietnã.
Nova Iorque teve uma correria logo cedo no pregão de quinta-feira, respondendo ao relatório da Terra Forte que apontou uma safra 2014/2015 em 45,78 milhões de sacas, 1.62 milhões de sacas a menos do que sua última previsão. A empresa deu ainda mais credibilidade à sua análise ao não mencionar o tamanho da próxima safra, mas sim em alertar para a situação das lavouras que pode resultar em uma produção ainda menor. Na sequência um diretor da OIC deu uma entrevista dizendo que o déficit mundial deste ciclo pode chegar à 10 milhões de sacas. O resultado foi uma enxurrada de cobertura de posições vendidas, tanto em futuros, como em opções de compra (calls), sendo muitas que vencem dia 8 de agosto.
Traders que estavam vendidos nas calls dos strikes de 195, 200, 205, e 210, sofreram com a conhecida exposição ao gamma, sendo forçados a recomprar suas posições, ou os futuros, para diminuírem suas perdas, pois muitos não acreditavam que em sete sessões o mercado fosse subir tanto.
A natureza do rally foi em grande parte de liquidação de posições, e menos de novos comprados, comprovada no pequeno incremento do número de contratos em abertos. A queda forte na sexta-feira também demonstra a atitude do “get me out of it” (me tira deste mercado), pois tão logo acabaram as recompras dos shorts que levou o contrato de setembro a US$ 207.40 centavos no dia, a cotações desmoronaram e encerraram a apenas 0,75 centavos da mínima, a US$ 192.35.
O fluxo de café físico no Brasil serviu para mostrar ao mercado que os produtores não querem perder a oportunidade de vender café próximo a R$ 500.00 a saca. A desvalorização da moeda brasileira (impacto do default da Argentina) fez Nova Iorque negociar a R$ 470 centavos por libra, nível visto no começo de maio último.
Vale mencionar que o volume de contratos que trocaram de mão na bolsa foi relativamente pequeno se comparado ao dilatado intervalo de preços, mostrando leveza e continuação da volatilidade. O relatório de posicionamento dos traders (COT) apontou que os comerciais tem interesse em comprar futuro próximo de US$ 170 centavos, pouco mais de 20 centavos abaixo do fechamento. Vendedores, ainda segundo o COT, apareceram na venda acima de US$ 180 centavos, e certamente venderam ainda mais entre 190 e 200 centavos – como deve aparecer no relatório da semana seguinte.
Tecnicamente o gráfico sugere uma rejeição da alta (jargão do candlestick que se chama: “shooting star”) e pode trazer mais vendas na segunda-feira, para testar o suporte à 185.50 centavos – média-móvel de 100 dias.
Claro que o movimento trouxe ao noticiário aqueles que dizem que o mercado vai a US$ 400.00 centavos, uma possibilidade que para se tornar provável precisa de uma deterioração muito grande do quadro fundamental.
A performance das últimas duas semanas corroboram para o argumento que usei neste espaço, de que era prematuro devolver o prêmio de incerteza como o mercado vinha fazendo.
As cotações devem encontrar um piso acima de US$ 170 centavos até que se possa avaliar a florada e o estado do cafezal em Novembro e Dezembro.
Bons negócios.