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É Melhor para os Mercados um Fed Mais Comunicativo ou Lacônico?

Publicado 19.08.2019, 11:35

Ultimamente, a noção de objetividade do presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), Jerome Powell, tem dado saudade dos comentários enigmáticos do ex-presidente da instituição, Alan Greenspan. Afinal, foi o longevo chairman do Fed que disse certa vez a um senador: “Se eu parecer excessivamente claro ao senhor, pode ser que tenha compreendido mal o que eu disse”.

Para Greenspan, a essência da ação do banco central era "murmurar com grande incoerência". Mas a crise financeira de 2008-09 mudou tudo.

Primeiro, os ex-presidentes do Fed, Ben Bernanke e Janet Yellen, acharam importante dar previsibilidade aos participantes do mercado com um documento de projeção chamado “forward guidance”, uma técnica cuja utilidade parece ter acabado, pois geralmente coloca a política do banco central em uma trajetória de planeio.

Bernanke também instituiu a coletiva de imprensa, realizada após a reunião de definição de política do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) quatro vezes ao ano. Powell expandiu a prática para oito reuniões, de forma que todas as reuniões pudessem ser “ao vivo”, ou seja, pontas para mudar a política monetária e deixar a imprensa explorar o significado das mudanças.

Mas Powell também ressaltou que queria se afastar do jargão ininteligível dos seus economistas antecessores, explicando a política monetária em linguagem simples, justamente por não ser um economista. Ele disse que queria se comunicar com o público geral da Main Street, e não apenas com Wall Street. Mesmo assim, não importa o público, a mensagem precisa ser transmitida de maneira clara se sua intenção é falar o tempo todo.

Seu esforço de evitar o jargão técnico significa também ser pouco preciso ao se comunicar com os participantes do mercado que estão acostumados com o jargão técnico. Combinada com a inegável cabeça-dura de Powell – que parece não ter uma ideia muito exata do impacto que suas observações terão no mercado –, tudo indica que sua linguagem simples cria mais confusão do que a incoerência murmurada por Greenspan.

De fato, diversas observações de Powell são limítrofes ao jargão e geralmente são interpretadas dessa forma. Quando Powell descreveu o corte de 25 pontos-base na reunião do FOMC, no final de julho, como um “ajuste de meio de ciclo”, tratava-se de uma frase familiar aos participantes do mercado, que interpretaram um eventual corte de juros maior como duvidoso, por causa do histórico do termo.

É preciso admitir que o Fed está caminhando sobre uma corda bamba. Está tentando ler os dados positivos como um sinal de uma economia relativamente forte e que não precisa de estímulo monetário, ao mesmo tempo em que justifica um estímulo maior.

Evidentemente, Bernanke e Yellen tiveram o privilégio de não ter que tomar qualquer decisão. Durante seus respectivos mandatos, o Fed reduziu a taxa dos fundos para quase zero e os deixou assim durante vários anos. As diferenças de opinião no FOMC se resumiam apenas ao momento em que deveriam começar a elevar os juros.

Havia dissenso ao longo do caminho, mas nada parecido com o vaivém das últimas duas reuniões, quando membros se opuseram à falta de corte de juros em um mês e, no mês seguinte, se opuseram à realização de cortes de juros.

Uma consequência da coletiva de imprensa após cada reunião do FOMC é que Powell ganha muito tempo de televisão. Nós o vemos e ouvimos falar sobre política monetária provavelmente mais do que qualquer antecessor o fez.

O atraso do governo em preencher as duas cadeiras vazias no conselho de governadores também contribuiu para um vácuo que Powell preenche. Dos cinco membros atuais, o vice-presidente de supervisão, Randal Quarles, e a representante de pequenos bancos, Michelle Bowman, normalmente não comentam a política monetária, deixando que apenas Powell e dois governadores tratem dessa questão.

Os chefes dos bancos regionais geralmente falam em seus distritos ou em grandes conferências, mas a maioria deles não precisa votar em nenhum ano. Isso significa que eles têm um público menor que o nacional, principalmente quando competem com o presidente da instituição para ser ouvidos.

O clássico romance antiutópico de George Orwell, 1984, apresentou a Novilíngua, uma versão simplificada da linguagem para que os pronunciamentos do Grande Irmão fossem mais claros. A estratégia não funcionou muito bem. As palavras acabaram significando o oposto do que pretendiam.

O experimento de Powell também não funcionou bem. Sua intenção é dizer que chegou a hora de os banqueiros centrais se calarem novamente, mas isso geraria ainda mais confusão.

Uma solução poderia ser contar com a participação de outra autoridade na coletiva de imprensa, como o chefe do Fed de Nova York, John Williams, na sua condição de vice-presidente do FOMC, ou Richard Clarida, vice-presidente do Fed, ou mesmo ambos.

O vice-presidente do BCE, Luis de Guindos, geralmente participa das reuniões do presidente Mario Draghi nas coletivas de imprensa da instituição, embora devamos admitir que ele não fale muito.

Mas Powell não é Draghi. O ex-governador do Banco da Itália conhece a dinâmica do mercado e está à frente de todo o aparato de comunicação, utilizando desde a bazuca “o que for necessário” até seu habilidoso manejo das expectativas em relação ao pacote pendente de afrouxamento monetário.

Powell poderia contar com alguma ajuda, e não há qualquer razão para que fique sozinho no púlpito. Inevitavelmente, os jornalistas começariam a direcionar suas perguntas a Williams ou Clarida para obter respostas em que os mercados possam confiar. Mas o público pode estar mais bem servido dessa forma.

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