As tão aguardadas sanções e a imposição de um teto de preços ao petróleo da Rússia devem entrar em vigor no dia 5 de dezembro. As medidas aplicam-se aos países do G7 (Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos), bem como a empresas, e visam proibir a importação de óleo e produtos derivados da Rússia, com algumas exceções.
As sanções também preveem restrições ao transporte marítimo de petróleo russo a partir de 5 de dezembro e de produtos derivados do país a partir de 5 de fevereiro de 2023, abrangendo ainda serviços que possam facilitar a exportação desses produtos pelo mar.
Uma exceção às sanções seria a política de teto de preços. Se a empresa que transporta o petróleo e os produtos derivados da Rússia pagar até o limite máximo previsto pelo teto, poderá ter acesso aos serviços de transporte marítimo do G7. No entanto, as autoridades ainda não anunciaram qual seria esse limite máximo ou se haveria alguma correção em seu valor, de acordo com a variação dos preços no mercado petrolífero.
Isso deixa os compradores e transportadores em uma situação complicada, na medida em que a maior parte das remessas de petróleo é contratada com um mês de antecedência. A preocupação de muitos é que as sanções entrarão em vigor no momento em que estiverem fazendo o transporte do petróleo e de produtos derivados por mar. Refinarias da Índia e da China, que não estão sujeitas à política do G7, mas usam os serviços de transporte marítimo desses países, estão começando a evitar encomendas de petróleo bruto da Rússia para carregamentos após 5 de dezembro, haja vista que a política de teto de preços ainda não foi esclarecida.
Os investidores precisam se preparar para a forma como o mercado poderá reagir às sanções e à política de teto de preços. Apresentamos a seguir duas formas como isso deve se desenrolar a partir da entrada em vigor das restrições nas próximas semanas, caso elas venham realmente a se concretizar.
Cenário 1: a Rússia cede
O primeiro cenário explica como as autoridades encaram o funcionamento da política de teto de preços e se baseia na premissa de que o presidente russo, Vladimir Putin, está desesperado por receita e precisa vender o petróleo do país. Ele se sentiria motivado a proceder dessa forma, mesmo com preços bastante descontados, pois os produtores da Rússia não podem cortar a produção, devido à dificuldade de desativar a produção na Sibéria e à falta de armazenamento. Para que esse cenário ocorra, a China não poderia aumentar suas importações de petróleo russo, pois suas aquisições já são significativas, o que faria com que o país aumentasse sua dependência a uma única fonte de abastecimento.
Índia, Turquia e Indonésia já aumentaram suas aquisições de petróleo da Rússia a preços mais baixos e estão fazendo seu refino em produtos derivados para vendê-los no mercado mundial, basicamente “lavando” o óleo russo para torná-lo aceitável para os países do G7. Isso manterá o petróleo da Rússia no mercado, mas reduzirá drasticamente suas receitas com o produto. Parte dos volumes petrolíferos da Arábia Saudita e do Iraque destinados à Índia e à China será redirecionada para os mercados europeus, mas não na quantidade de 1 milhão de barris por dia, como a Rússia vinha fazendo. Pode haver uma alta temporária dos preços até que a situação se estabilize, mas, no fim, os preços acabarão caindo, e Putin não terá a receita de que precisa para financiar a guerra na Ucrânia.
Cenário 2: a Rússia mostra oposição
O segundo cenário trata de como a política de teto de preços funcionaria, se Putin não reagir da forma como o G7 espera. Ele se baseia na premissa de que Putin, mesmo ávido por vender o petróleo do país, não cederá ao desespero. Ele se recusará a vender o petróleo da Rússia nos limites estabelecidos pela política e se absterá de fazer entregas marítimas para Índia, China, Turquia e outros países, até que estes concordem a pagar o seu preço (que já está descontado em relação à cotação do mercado). O mandatário procederá dessa forma, ainda que isso cause danos aos campos petrolíferos da Rússia, ou fará o armazenamento do produto em condições precárias.
Esse comportamento da Rússia faria com que os preços do petróleo subissem, mas essa alta não seria temporária. Os clientes da Rússia não pertencentes ao G7 concordariam em pagar o preço de Putin, que se encontra abaixo de outras ofertas do mercado. Quanto mais tempo demorar o impasse, mais o preço do petróleo descontado da Rússia tende a subir. Mas, como o petróleo da Rússia ainda está mais barato e mais disponível do que outras ofertas, esses países comprarão o produto o máximo que puderem, uma vez que os serviços de transporte marítimo do G7 não lhes estão disponíveis. Eles irão “lavar” o petróleo em produtos derivados para consumo do G7. O petróleo russo continuará no mercado, parte do fornecimento da Arábia Saudita e do Iraque será redirecionado para clientes na Europa, mas os consumidores de outras partes do mundo pagarão preços mais altos por mais tempo. Devido ao aumento dos preços, a Opep pode se dispor a aumentar a produção, aumentando a disponibilidade de óleo saudita e iraquiano para os consumidores europeus.
Até que o G7 encerre seu mecanismo de teto de preços, o mercado continuará volátil, pois os clientes não sabem o que esperar. Assim que as políticas entrarem em vigor, os investidores devem se preparar para ambos os cenários apresentados e para o seu impacto no mercado petrolífero.
Publicado originalmente em inglês em 17/11/2022