Vamos analisar algumas questões que os investidores do setor de petróleo devem ter em mente, em meio à extrema volatilidade dos mercados de energia:
1. Disparada dos custos de energia na Europa mudará o mercado de eletricidade do continente?
Os líderes da Europeia já assimilaram a ideia de que a disparada dos preços do gás natural está elevando demais os custos de energia para os consumidores. A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, declarou recentemente que o mercado de energia da região já não funciona mais sob condições normais e que seria necessária uma intervenção emergencial, de modo a descorrelacionar o preço da energia em relação ao valor do gás natural.
No cenário atual, o preço da eletricidade é determinado pelo valor do combustível mais caro utilizado para atender à demanda diária. A ideia por trás desse esquema de precificação era promover o uso de fontes renováveis que, na Europa, são mais baratas do que os combustíveis fósseis. No entanto, os países da região ainda dependem de combustíveis fósseis para satisfazer o consumo, de forma que os preços do gás natural fizeram com que o valor da eletricidade atingisse 600 euros por megawatt/hora nas negociações intradiárias.
A maioria dos países europeus defende estabelecer um teto para os preços do gás natural, mas isso só reduziria os preços para os consumidores. Alguém, muito possivelmente os governos europeus, precisaria cobrir a diferença para abastecer suas economias com gás natural para eletricidade. (Atualmente não há outra alternativa para atender às necessidades energéticas, senão por meio de apagões).
Uma ideia aventada pela Polônia é estabelecer um valor máximo para o sistema de negociação de emissões da UE. Os geradores de energia da região que queimam combustíveis fósseis devem comprar compensações de carbono a preços determinados pelo sistema de negociação. Seu preço atual é de 90 euros/ton. A Polônia sugere um teto de 30 euros/ton, o que poderia ajudar a reduzir os preços. Eu defendo que a Europa deveria suspender de todo esse sistema durante a atual crise energética que, segundo Ben van Beurden, CEO da Shell (NYSE:SHEL), pode durar anos.
2. Como a crise de energia da Europa impacta outras commodities?
A crise geopolítica na qual a Europa está imersa já impactou os mercados de grãos, na medida em que a Rússia e a Ucrânia são grandes exportadores de trigo. Contudo, é possível ver que a crise energética está respingando em outras commodities.
A produção de alumínio, por exemplo, está sofrendo restrições na Europa, devido aos custos de energia e ao racionamento de combustíveis. A Alcoa (NYSE:AA), maior produtora de alumínio com sede nos EUA, anunciou que cortaria em um terço a produção no alto-forno de Lista, na Noruega, na medida em que o custo para manter a instalação operando havia subido demais por causa da alta da energia. Isso ocorre no contexto de reduções na escala de 500.000 toneladas ao longo do ano assado. O alumínio exige um intenso uso de energia para ser produzido, razão pela qual é mais vulnerável a aumentos nos preços de energia.
Não poderíamos deixar de citar, ainda, o extraordinário aumento dos fertilizantes, em parte porque algumas das matérias-primas utilizadas para fabricá-los são derivadas do gás natural. A produção de fertilizantes também foi reduzida em alguns locais da Europa, em razão dos elevados custos e da falta de insumos. Evidentemente, isso terá repercussões em outros mercados de commodities que dependem de fertilizantes para sua produção.
3. Opep+ cortará a produção em sua reunião de 5 de setembro?
Depois que o ministro do petróleo da Arábia Saudita, o príncipe Abdulaziz bin Salman, alçou os mercados petrolíferos com comentários na semana passada, os investidores estão se questionando se o cartel realmente levará a cabo um corte de produção na semana que vem. Considero remota essa possibilidade, na medida em que a Opep+ não conseguiria reestruturar suas cotas produtivas na forma de um novo acordo até a próxima segunda-feira. Talvez isso possa acontecer mais para o final do ano, quem sabe na reunião de novembro.
O mais provável, contudo, é que o grupo não mexa nas cotas. Os investidores devem se lembrar de que o atual nível de oferta da Opep+ é mais relevante do que as cotas nominais para determinar os preços do petróleo neste momento, haja vista que muitos membros do cartel estão produzindo abaixo do seu limite permitido. De fato, muitos países sequer conseguem satisfazer suas cotas.
Quanto ao cenário futuro, o Comitê Técnico Conjunto da Opep+ acaba de emitir um relatório que prevê um aumento de 100.000 barris por dia (bpd) no excesso de oferta para 2022. A expectativa do comitê agora é que o mercado registre um volume excedente médio de 900.000 bpd neste ano. A avaliação do grupo sobre o mercado físico de petróleo pode fornecer alguns indicativos quanto à possibilidade de a Opep+ cortar as cotas de produção no futuro. Os investidores devem ficar de olho nos próximos relatórios do comitê, bem como nas previsões oficiais de oferta e demanda da Opep para 2023, a fim de obter sinais dos planos do grupo em relação a uma redução ou não da oferta.