As coisas devem começar a voltar ao normal nesta semana, com a divulgação de vários dados econômicos e da última ata da reunião do Fomc, comitê de política monetária dos EUA, realizada em dezembro. Os números só devem começar a ser apresentados na quarta-feira, com destaque para os relatórios de atividade industrial do ISM e abertura de postos de trabalho, seguidos da ata do Fomc. Não acredito que o documento do comitê de política monetária deva fornecer qualquer esperança para os investidores, na medida em que, ao que tudo indica, corroborará os mesmos pontos, se é que não apresentará uma retórica mais dura do que na coletiva de imprensa pós-anúncio de decisão.
O mercado de títulos espera que o Fed seja mais agressivo em 2023, com os juros subindo de forma constante a partir da reunião do Fomc de dezembro. A mudança mais significativa no mercado futuro de juros ocorre depois do verão de 2023, com as taxas saltando bastante em relação aos níveis registrados pré-reunião de política monetária. A ata do Fed na quarta-feira deve reenfatizar o compromisso do banco central americano em levar a taxa de overnight para 5,1%, podendo inclusive superar esse patamar neste ano.
1. Curva das treasuries
Os contratos futuros de juros para dezembro de 2023 ajudaram a alçar as taxas de dois anos dos títulos do Tesouro americano (treasuries). O spread ficou consistentemente em torno de 21 pontos-base (pb) no fim de novembro. Para que esse diferencial continue constante ou se estreite um pouco ou ainda para que o Fed faça com que a taxa de dezembro suba para o patamar de 5,1%, é preciso que a taxa de dois anos suba para em torno de 4,9% em 2023 ou até mais.
Dessa forma, os juros ao longo da curva das treasuries estão muito baixos e devem subir mais 50 pontos-base em relação aos níveis atuais em 2023, o que deve pressionar ainda mais os índices de preço-lucro das ações. Portanto, a ata do Fomc na quarta-feira será fundamental importância para determinar aonde irão as taxas. Além disso, o relatório de empregos na sexta-feira também será crítico, especialmente em relação aos ganhos por hora trabalhada, cuja previsão é que subam 5% em bases anuais.
2. Saldo das reservas
Na última sexta-feira, vimos um salto nas operações de compra de títulos com compromisso de revenda, que atingiram a máxima recorde acima de US$ 2,5 trilhões. Isso significa que o balanço reverso deve ter recuado bem abaixo da marca de US$ 2,8 trilhões durante a semana. Até o fechamento de quarta-feira, os balanços reversos já haviam atingido a mínima de 52 semanas e as operações compromissadas de sexta-feira provavelmente provocaram uma queda ainda mais no saldo das reservas.
Quando o saldo das reservas registra uma nova mínima, geralmente vemos o S&P 500 tocar novas mínimas no mesmo intervalo. Veremos o que esta semana nos reserva.
3. S&P 500 (SPY)
O cenário técnico não parece favorável para o S&P 500 (NYSE:SPY), na medida em que a lateralização se parece com um padrão de triângulo simétrico. Geralmente, trata-se de um padrão de continuação, sugerindo que o S&P 500 recuará nesta semana.
Se essa estrutura se confirmar, podemos ver um recuo até o gap a 3.580 pontos ou até uma nova mínima abaixo disso. O índice pode repicar para 3.850 pontos antes de empreender uma nova pernada de baixa.
4. Merck (MRK)
A Merck & Company (NYSE:MRK) é uma excelente ação para ficar de olho, na medida se valorizou nas últimas semanas, sem que houvesse uma razão clara para mim. Com isso, formou-se uma clara divergência baixista, com o IFR em tendência de baixa, enquanto os preços subiram. Além disso, o papel está bem perto de romper uma grande linha de tendência de alta e, se o fizer, pode acabar caindo forte para a região dos US$ 110.
5. Eli Lilly
Ao mesmo tempo, a Eli Lilly (NYSE:LLY) também se valorizou bastante, o que pode acabar em breve. Isso porque, assim com a Merck, o papel também apresenta uma divergência baixista no IFR. Além disso, a Lilly rompeu uma tendência de baixa e pode registrar um padrão de ombro-cabeça-ombro, sem falar em um gap a ser preenchido a US$ 310.
Vale lembrar que analistas cortaram suas estimativas de resultados para a Lilly em 2023 e 2024.
6. Tesla
As ações da Tesla (NASDAQ:TSLA) foram amassadas nas últimas semanas. Apesar das reações fervorosas no Twitter em relação às quedas, o fato é que pouca atenção está sendo dada às razões da desvalorização. Os investidores da companhia ainda estão aferrados ao passo, em vez de se concentrar nos desafios que ela tem pela frente. Nas últimas semanas, as estimativas de resultados da Tesla para 2023 recuaram 10%, o que é preocupante.
Quando uma ação de crescimento tem suas estimativas de resultados rebaixadas, o preço das suas ações despenca.
7. Meta (META)
Quanto à Meta Platforms (NASDAQ:META), o mais provável é que suas ações ainda não tenham formado fundo, na medida em que suas estimativas de lucro não param de cair.
A compressão do múltiplo P/L em 2022 deveu-se, em grande medida, aos aumentos de juros. Acredito que, em 2023, as quedas de preço terão mais a ver com o recuo o lucro por ação. Provavelmente teremos que nos concentrar mais nos resultados e nas tendências de vendas em 2023. Os analistas também podem atualizar seus modelos para a temporada de resultados do quarto trimestre a partir desta semana.