O comitê do Dow expulsou a General Electric (NYSE:GE) do índice de megacapitalização formado por 30 componentes, substituindo-a pela Walgreens Boots Alliance (NASDAQ:WBA), uma cadeia farmacêutica de varejo. O que surpreende não é o fato em si — já previmos isso no dia anterior ao anúncio — mas o surpreendente e inesperado substituto escolhido pelo comitê.
Em um comunicado emitido com o anúncio de terça-feira, David Blitzer, presidente do comitê, disse que a "mudança noDow Jones Industrial fará com que o índice seja um melhor indicador da economia e do mercado de ações", acrescenta ainda que "o Dow será mais representativo dos setores de consumo e de saúde da economia dos EUA". Mas o setor de saúde não é exatamente o que está faltando entre os componentes do Dow, nem os varejistas.
Uma cadeia farmacêutica é a substituta certa para o outrora grande conglomerado multinacional? E talvez mais surpreendente, representa adequadamente o estado atual da economia dos EUA e a gama de empresas listadas no mercado de ações em geral?
Entre as ações do setor de saúde no Dow estão a Johnson e Johnson (NYSE:JNJ), Merck (NYSE:MRK), Pfizer (NYSE:PFE) e UnitedHealth (NYSE:UNH). As empresas do setor de varejo também estão representadas. Estão a Coca-Cola (NYSE:KO), McDonald's (NYSE:MCD), Walmart (NYSE:WMT), Nike (NYSE:NKE) e Home Depot (NYSE:HD). Algumas empresas, como Procter & Gamble (NYSE:PG), se encaixam nas duas categorias.
Alguns podem dizer que a escolha foi baseada na recente atividade de fusões e aquisições que atingiu os mercados dos EUA. Walgreens Boots Alliance, com uma capitalização de mercado atual de US$ 63,62 bilhões, representa a fusão bem-sucedida de duas empresas cuja holding começou a operar nos Estados Unidos exatamente no último dia de 2014. Deve ser essa a razão pela qual eles optaram por não incluir a ainda maior CVS Health (NYSE:CVS).
Esta última está atualmente envolvida em um complicado processo de fusão com a Aetna (NYSE: AET), que está recebendo uma forte oposição da American Medical Association. A CVS, com uma capitalização de mercado de US$ 71,95 bilhões e negociada a US$ 71,60 por ação, faz mais sentido do ponto de vista da ponderação. Mas a incerteza da fusão faz com que seja uma má opção para a comitê da Dow que busca por empresas com mais estabilidade.
Mesmo assim, será que essa adição posiciona melhor o Dow para representar a economia dos EUA no século XXI? Não pensamos assim.
A adição de mais empresas de varejo, um setor que vem enfrentando um pouco de dificuldade na nova economia, não prepara o Dow para o futuro. Seria de se esperar que o Dow aproveitasse essa oportunidade para dar um grande salto à frente. Em vez disso, ele simplesmente deixou de ser o índice conhecido por representar a economia industrial "muito antiga" dos EUA para representar algo um pouco menos antigo. Chame isso de economia de meados até o final do século XX.
O crescimento da receita da Walgreens foi retomado durante os últimos dois trimestres com a recuperação de todo setor de varejo, depois de um ano de estagnação em 2017. Mesmo assim, o lucro diminuiu durante os últimos dois anos e só se estabilizou nos primeiros dois trimestres do ano fiscal de 2018 (setembro a março). Praticamente nenhum crescimento até agora. E as ações caíram em geral, independentemente do fato de que o valor da ação tenha subido um pouco desde o anúncio.
Dada a força observada no setor de tecnologia dos EUA durante a última década, bem como sua enorme e ainda crescente presença dentro da economia dos EUA — agora representando cerca de 25% da capitalização total do S&P 500 — não faria mais sentido escolher uma empresa que equilibrasse mais precisamente a ponderação dos 30 componentes do Dow?
Embora a Apple (NASDAQ:AAPL), IBM (NYSE:IBM), Intel (NASDAQ:INTC) e Microsoft (NASDAQ:MSFT) sejam todos componentes do Dow, essas quatro ações de tecnologia combinadas têm um peso de 13,5% no Dow. Equilibrar o índice para refletir adequadamente o curso da economia dos EUA exigiria a inclusão de mais empresas de tecnologia.
Historicamente, o comitê da Dow foi caracterizado por suas opções conservadoras, de modo que uma cadeia farmacêutica de varejo pode não ser uma opção tão surpreendente. No entanto, se a economia dos EUA está evoluindo, ser excessivamente conservador pode significar ficar para trás.
Agora, com a Pfizer negociando a US$ 36,5, o que torna a empresa mais barata do índice, mas com uma capitalização de mercado considerável de US$ 211,87 bilhões, não há nenhum candidato imediato a ser eliminado do Dow. Se o comitê realmente quer refletir a economia do país e o mercado de ações dos EUA em um sentido mais amplo, terá que encontrar uma solução mais criativa.