A Teoria dos Mercados Eficientes se Aplica nas Economias Emergentes?

Publicado 25.04.2022, 18:51

O mercado financeiro no mundo inteiro é avaliado como um ambiente dotado de muitos riscos e alta sazonalidade. E isso se intensifica nos países emergentes, que não possuem economia tão estável e menor volume de empreendedorismo que nos países desenvolvidos. Então, isso gera um questionamento: a Teoria dos Mercados Eficientes se aplica aos países emergentes?

Antes de tudo, o que é esta teoria e qual sua importância? Formulada na década de 70 pelo economista da escola de Chicago, Eugene Fama, a Teoria dos Mercados Eficientes surgiu como forma de explicar o comportamento dos ativos e investidores no mercado de capitais. De acordo com a teoria, o preço dos ativos sempre reflete seu real valor frente às informações disponíveis sobre tal ativo. Entre outras palavras, um ativo sempre tem um preço justo e, assim, não existem ações caras ou baratas.

Fama sustentou sua tese (e ainda é sustentada, visto o número elevado de economistas apoiadores) com a alegação de que no mercado existem milhões de investidores inteligentes, racionais, objetivos e capazes de avaliar bem as informações sobre os ativos e assim precificá-los de maneira eficiente (lógico, indiretamente, com ações de compra e venda, bem como recomendações). Sendo assim, retornos acima da média seriam basicamente impossíveis.

Entretanto, alguns pontos confrontam a teoria, principalmente em se tratando de países emergentes. Como disse anteriormente, os países emergentes são marcados por uma capacidade empreendedora bem reduzida em relação aos desenvolvidos. Além disso, são fortemente impactados pelos “Institutional Voids” (ou vazios institucionais, na tradução literal, tese de Tarun Khanna).

De acordo com Khanna, os países emergentes possuem alguns fatores que restringem o desempenho das empresas, entre eles a infraestrutura física, a burocracia exacerbada e a corrupção, este último, o mais complexo e mais limitado. Então, se os ativos estão precificados justamente, de acordo com todas as informações disponíveis, o que acontece quando há corrupção? Será que as ações da Odebrecht estavam corretamente precificadas antes de cair mais de 80% com o desfecho da operação “Lava Jato”? E se a corrupção ocorre não nas ações, mas na manipulação de informações disponibilizadas no mercado?

Para trazer mais um contraponto à teoria, vejamos as últimas crises. A bolha imobiliária que devastou a economia americana e mundial em 2007 tinha um fator que compromete consideravelmente a hipótese de mercados eficientes: a não-eficiência na avaliação de riscos. A elevação progressiva na avaliação dos ativos, até o estouro da bolha reflete que o mercado a época não conseguiu avaliar justamente os seus ativos: o crescimento do crédito subprime, a crença de que “imóvel sempre será um bom investimento, afinal todo mundo quer casa”, a valorização exponencial do valor dos imóveis, entre outros fatores refletem bem tal situação.

E a mais recente crise econômica mundial, causada pela pandemia do Coronavírus, expôs os mercados financeiros, principalmente emergentes, a situações extremamente complexas. Alguns países, como a Argentina, numa tentativa (extremamente perigosa) de manter o suprimento de itens de alimentação e higiene, declarou às empresas a obrigatoriedade de produção (volume mínimo), mesmo com uma inflação galopante e uma moeda fortemente desvalorizada. No Brasil, e em outros países (do BRICS, por exemplo), os ativos derreteram em certo momento, e alguns foram avaliados abaixo de seu valor intrínseco (algo inadmissível para a Teoria de Mercados Eficientes).

Desta forma, assim como os mercados emergentes não são estabelecidos, também não podem ser considerados eficientes. E a precificação dos ativos pode (eu disse pode) refletir em várias oportunidades o que Nassim Taleb definiu como “Ilusões pelo acaso”, que nada mais é do que situações em que a sorte prevalece e se tem uma conclusão equivocada de que a habilidade das pessoas é que foi determinante.

Por fim, dificilmente esta teoria é universal, isto é, aplica-se a todos os mercados e por todo tempo. Há de se avaliar mais profundamente o comportamento das economias e principalmente o nível de racionalidade das pessoas que nelas atuam.

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