Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com
- Declaração de Ray Dalio pode ser profética
- Principais criptos voltaram a disparar no início de outubro
- Tudo se resume aos fluxos de curto prazo
- Governos mostraram sua intenção de interferir no mercado
- É preciso se preparar para a possibilidade de fortes quedas
As criptomoedas cativaram a atenção de vários participantes do mercado. Nada atrai tantos holofotes quanto um potente mercado de alta. O movimento explosivo do bitcoin, saindo de cinco centavos, em 2010, para mais de 65.500 de dólares no início deste ano tem um efeito magnético no comportamento dos investidores. A mais de US$48.500 no fim da semana passada, a valorização do token possivelmente é a história de investimento mais incrível da nossa existência.
Como sinal do crescimento do interesse especulativo, o número de tokens no criptomercado aumentou de um, em 2010, para mais de 12.200 até o último final de semana.
O bitcoin e a tecnologia blockchain refletem a revolução evolucionária das finanças com repercussões na economia e na política. Para mim, o bitcoin e a blockchain envolvem o mesmo dilema filosófico da galinha e do ovo.
Só quem pode dar uma resposta para ele é Satoshi Nakamoto, pseudônimo de uma pessoa ou grupo de pessoas que desenvolveram o bitcoin e conceberam a primeira base de dados da blockchain.
A blockchain alcançou uma aceitação praticamente universal como evolução tecnológica das finanças, aumentando as velocidades das transações e a eficiência dos registros. Por outro lado, o bitcoin representa uma ameaça ao status quo nas finanças globais. Os bancos centrais, autoridades monetárias e governos derivam seu poder das forças armadas e do controle da oferta monetária. A ampla aceitação do bitcoin como meio de troca global ameaça uma das suas fontes de poder.
El Salvador tornou o bitcoin sua moeda nacional no início de setembro, tornando-se o primeiro país a rejeitar o dólar americano como moeda de reserva mundial. Embora outros países possam seguir seus passos, as economias mais ricas e poderosas não vão querer deixar o bitcoin e outras criptomoedas desafiarem seu controle dos orçamentos mundiais sem uma épica batalha que se inicia no front regulatório.
Declaração de Ray Dalio pode ser profética
Ray Dalio é um gestor de sucesso de hedge funds e bilionário. Ele é fundador do maior hedge fund do mundo, o Bridgewater Associates. Em meados de setembro, Dalio disse à CNBC que, se o Bitcoin e outras criptomoedas ganhassem popularidade, os órgãos reguladores assumiriam o controle do mercado. Ele afirmou:
“Acredito que, no fim do dia, caso as criptomoedas tenham sucessos, as autoridades vão querer acabar com ele. E elas têm meios para tanto”.
Ações recentes de órgãos reguladores mostraram quão proféticas eram as palavras de Dalio, em vista do aumento das medidas regulatórias sobre a classe de ativos.
Principais criptos voltaram a disparar no início de outubro
Depois de atingir a máxima de US$53,210 em 7 de setembro, o Bitcoin futuro formou um padrão de reversão no gráfico diário e registrou máximas descendentes. No entanto, a ação dos preços em 1 de outubro desfez o padrão baixista de curto prazo.
Fonte de todos os gráficos: CQG
O gráfico diário mostra que o bitcoin futuro subiu até a máxima de US$48.705 em 1 de outubro, ultrapassando a máxima menor de US$48.610 de 15 de setembro. O contrato futuro do ethereum, vice-líder entre as criptos, também repicou no dia 1 de outubro. 
O ethereum futuro disparou para mais de US$3.320 na última sexta-feira, mas não rompeu a resistência que elimina a ação baixista de curto prazo.
Tudo se resume aos fluxos de curto prazo
O bitcoin, ethereum e as ideologias de cada uma das 12.250 criptomoedas dão conta de que elas voam abaixo dos radares dos governos e são contrárias ao seu controle da oferta monetária. O valor de uma criptomoeda é determinado unicamente pelas ofertas de compra e venda existentes no mercado, permitindo que os indivíduos determinem seu valor.
Os preços das criptos sobem quando os compradores são mais agressivos do que os vendedores e vice-versa, sem a interferência dos governos, que usam seu poder para ampliar e expandir seu controle da oferta monetária. O fato é que tudo se resume aos fluxos de curto prazo na arena das criptomoedas, desde que os governos permitam que elas sejam livremente negociadas.
Em setembro, a China baniu todas as transações envolvendo criptomoedas.
Governos mostraram sua intenção de interferir no mercado
Em setembro o departamento do Tesouro americano atirou um míssil contra uma exchange de criptomoedas quando sancionou a Suex por facilitar “transações envolvendo atos ilícitos de pelo menos oito variantes de ransomware”.
A SEC, comissão de valores mobiliários dos EUA, recentemente enviou à Coinbase (NASDAQ:COIN), maior exchange de criptos, um alerta de que processaria a empresa caso ela seguisse em frente com a oferta do seu produto Lend, cuja intenção era permitir a realização de empréstimos envolvendo criptomoedas. A Coinbase voltou atrás após essa ameaça da SEC.
O presidente da SEC, Gary Gensler, não é estranho à emergente classe de ativos. Ele já havia presidido a CFTC quando a comissão aprovou o mercado futuro do bitcoin e lecionou no MIT sobre tecnologia financeira durante o tempo que permaneceu fora da CFTC e SEC. Diversos participantes do mercado acreditavam que sua indicação à presidência da SEC ajudaria a aprovar os produtos de ETF de criptos.
No entanto, pode ser que esse não seja o caso. O alerta da SEC possivelmente foi o primeiro tiro regulatório contra a classe de ativos, na medida em que a SEC considera que a atividade de crédito como uma securitização, exigindo, portanto, algum nível de proteção para dar segurança ao público.
Além disso, Gensler recentemente comparou a classe de ativos com o período em que os bancos careciam de regulação nos em 1837-1863. Ele recomendou:
“Não acho que seja viável no longo prazo a existência de cinco a seis mil formas de dinheiro. Portanto, acredito que valha a pena ter um regime de proteção aos investidores".
Mesmo assim, o presidente da SEC reiterou seu apoio aos produtos de ETF de bitcoin futuro, dizendo: “mal posso esperar para que a nossa equipe se debruce sobre os pedidos”. A aprovação de ETFs pode abrir caminho para a regulação do criptomercado.
Os comentários e ações do Tesouro americano e da SEC exercem grande peso sobre as criptos neste momento. Também é a razão subjacente para que as agências acompanhem com cuidado o crescimento da classe de ativos.
À medida que as criptomoedas ganham popularidade, elas representam uma ameaça ao controle governamental sobre a oferta monetária, uma das mais importantes fontes de poder das autoridades.
É preciso se preparar para a possibilidade de fortes quedas
O poder governamental vem das forças armadas e do rígido controle sobre as contas públicas. Ou seja, o status quo é a razão pela qual veremos mais regulações sobre as criptomoedas no horizonte.
A iniciativa da China de banir as criptos significa que outros governos podem seguir os passos da segunda maior economia do planeta. A proibição chinesa provou grande desvalorização dos criptoativos. O mesmo comportamento dos EUA ou Europa provavelmente provocaria uma carnificina no mercado de criptomoedas.
As criptos são um novo meio de troca que opera em blockchains. A ampla aceitação da tecnologia blockchain não necessariamente anda de mãos dadas com as criptos que os governos estão desenvolvendo.
A estratégia de deter bitcoin, ethereum e uma variedade de outras criptos tem turbinado portfólios nos últimos anos. Várias instituições financeiras de renome está agora oferecendo exposição às criptos para seus clientes. Ainda que investir em criptomoedas seja uma excelente forma de diversificar uma carteira, o nível de variação de preços requer atenção sobre os riscos.
Mesmo que os retornos tenham sido espetaculares, não é uma boa ideia apostar tudo na classe de ativos, pelo menos por enquanto. Como resumiu Ray Dalio, se a classe de ativos crescer demais, os governos podem “matá-la”, fazendo com que a classe de ativos se torne sem valor e dizimando o patrimônio de muitos investidores.