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Ações de valor devem superar ações de crescimento em novo regime macro

Publicado 02.03.2023, 10:13
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O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) se reunirá em março para decidir sobre a taxa básica de juros nos EUA. Como já não há expectativas de corte neste ano, o que isso significa para os portfólios dos investidores?

Um relatório semanal enviado pela BlackRock (NYSE:BLK) aos clientes traça um panorama de quais tipos de ações poderiam prevalecer no atual regime macro.

Principais diferenças entre as ações de valor e as ações de crescimento

Geralmente, as ações de crescimento representam empresas com um índice de preço/lucro elevado, mas que ainda não geram um nível consistente de lucro. Não é preciso ir muito além da Tesla (NASDAQ:TSLA) para ver como as expectativas se comportam. Antes da realização do Dia do Investidor ontem, as ações da TSLA acumulavam uma alta de 92% no ano.

No entanto, como os lucros da companhia ganharam mais consistência, é possível considerar que se trata de uma ação híbrida, ou seja, com características tanto de ações de valor quanto de crescimento. Isso significa que o papel deve crescer menos que as ações de crescimento e mais do que as ações de valor em um cenário macro de alta de juros.

As ações de valor têm um índice de preço/lucro mais baixo, apresentam lucros consistentes e geram mais retorno com dividendos. Dessa forma, são vistas como subvalorizadas e mais resistentes a mudanças no cenário macroeconômico.

Qual é exatamente o atual regime macro?

Apesar de a TSLA estar se tornando uma ação com características mais híbridas, sua parte de crescimento ainda pesa bastante. Em 2022, vimos que isso estava acontecendo, quando o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) começou a subir os juros. O retorno anual da Tesla mergulhou no negativo, recuando 65%, em forte contraste com a performance da companhia em ambientes com juros próximos a zero, com em 2020 (+743%) e 2021 (+49%).

Mas, diante da alta acumulada de 85% da TSLA no ano, será que o mesmo regime macro se aplica?

Em seu relatório semanal, a BlackRock usou o índice Russell 1000 para ilustrar o desempenho das ações de valor contra o das ações de crescimento na última década. Esse índice acionário mede a performance das 1000 empresas de capital aberto dos EUA com maior capitalização de mercado.

Correlação entre ações de valor e de crescimento

Crédito da imagem: BlackRock.

Desde meados de 2022, quando o Fed começou a combater agressivamente a inflação com elevações de juros, essa tendência mudou a favor das ações de valor. Neste ano, contudo, a tendência se reverteu. A BlackRock atribui isso a uma nova narrativa, que considera que o Fed fará cortes de juros.

Mas, como os gastos com consumo pessoal, ou PCE, na sigla em inglês, continuam subindo acima do esperado, tudo indica que essa narrativa se tornou menos viável neste momento. Ao mesmo tempo, como a inflação parece estar mais aderente, abrindo espaço para mais altas nas taxas, isso também gera uma curva de juros mais inclinada, conforme projeção da Secretaria Congressual de Orçamento.

Taxa de juro

Crédito da imagem: CBO

Diante do aumento do diferencial entre as taxas de juros de curto e longo prazo, a inclinação maior da curva de juros sinaliza uma desaceleração econômica ou ainda uma recessão. No entanto, essa inclinação maior costuma ocorrer antes que a desaceleração da atividade ocorra concretamente. A BlackRock considera que essa combinação é positiva para as ações de valor, na medida em que:

  • A inflação afeta o fluxo de caixa futuro das empresas, impactando negativamente as ações de crescimento que dependem da melhora dos resultados. Em contraste, as empresas de valor são menos afetadas pela inflação, haja vista que apresentam resultados mais consistentes.
  • A curva de juros inclinada faz com que as taxas de juros de longo prazo fiquem acima das de curto prazo, o que beneficia as ações de valor com retornos maiores na forma de dividendos, sendo, portanto, preferidas pelos investidores.

Embora as ações de valor historicamente apresentem baixo desempenho antes de uma recessão, esse ambiente macro atípico, expresso por uma curva de juros bastante inclinada, daria a essas empresas uma vantagem extra. Afinal, a recessão já foi telegrafada com bastante antecedência, dando-lhes espaço para se preparar.

Nesse contexto, a BlackRock considera que o setor de energia oferece uma combinação ótima de valor e qualidade. A companhia ainda espera que ocorra uma recessão leve nos EUA, o que poderia ser interpretado como um “pouso suave” do Fed.

Onde os ativos digitais se encaixam nisso?

Os investidores ainda consideram que os ativos digitais são investimentos de alto risco e alto retorno. Aplicado ao mercado acionário, tais ativos se pareceriam mais com as ações de crescimento de tecnologia. De fato, o índice Nasdaq, com grande peso de tecnologia, historicamente exibe a maior correlação com o Bitcoin. No entanto, a correlação da maior criptomoeda do mundo com os ativos tradicionais diminuiu durante o rali deste ano.

Correlação do Bitcoin com ativos tradicionais

Crédito da imagem: Kaiko

A relação do bitcoin com o Índice Dólar é historicamente inversa ou negativa. Como proteção à desvalorização monetária, o preço do bitcoin geralmente cai quando o DXY aumenta, devido ao aumento das taxas de juros. Quando o PCE veio acima das expectativas, o DXY subiu, com a perda de força da narrativa em torno de uma possível mudança de postura do Fed.

A interação entre DXY, ações e bitcoin foi bem estabelecida em uma escala de tempo mais longa.

Mas agora que Gary Gensler, presidente da SEC, comissão de valores mobiliários dos EUA, afirmou que o bitcoin era a única criptomoeda passível de ser considerada uma commodity, uma nova dinâmica pode entrar em jogo. Isso pode ampliar a divergência entre o bitcoin, as altcoins e as ações.

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Aviso: Este artigo foi publicado originalmente no portal The Tokenist. Confira a newsletter gratuita do The Tokenist, Five Minute Finance, para ter uma análise semanal das maiores tendências em finanças e tecnologia.

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