Vejo muitos investidores se preocupando apenas com os dividendos de ações que têm nas suas carteiras. Essa obsessão faz com que muitos analisem apenas o dividend yield na hora de analisar e tomar uma decisão de investimento. No entanto, minha questão aqui é alertar que, muitas vezes, essa não é a métrica ideal para analisar o retorno aos acionistas. Para mim, uma das melhores é o fluxo de caixa live sobre patrimônio líquido.
Primeiramente, gostaria de ressaltar que sou adepto das ações “dividendeiras”. Parte relevante do meu portfólio é destinada à tais empresas, pois elas geram retornos interessantes no longo prazo.
O fluxo de caixa livre é o que sobra depois de arcar com todos os custos, despesas operacionais e investimentos, tanto em capital de giro, quanto em CAPEX. Dele, a empresa pode escolher onde alocar seus recursos: reinvestir no próprio negócio, pagar dívidas, realizar aquisições, recomprar ações ou pagar dividendos. Todas essas alternativas são formas de retornar algum dinheiro para os acionistas, desde que a alocação seja feita a taxas interessantes de retorno.
Sendo assim, a distribuição de dividendos apenas faz sentido para a empresa se ela não tiver oportunidades melhor de investimento em seu próprio negócio. Empresas como o Facebook, por exemplo, não pagam dividendos, pois reinvestem todo o caixa gerado em um excelente retorno.
A Apple (NASDAQ:AAPL), por sua vez, é uma companhia que passou anos sem pagar, mas recentemente aderiu à estratégia, pois encontra um excedente de caixa que não consegue alocar em uma forma que gere valor aos acionistas, se não essa.
É importante ressaltar, no entanto, que se a companhia realocar o caixa a taxas inferiores ao seu custo de capital, ela está destruindo valor. Esse é o caso de muitas fusões e aquisições, principalmente as mais relevantes, nas quais paga-se um prêmio para concluir a transação. Nesse exemplo, a distribuição de dividendos ou a recompra de ações deve ser adotada.
Analisar o dividend yield isoladamente é perigoso, pois o investidor não sabe de onde está vindo esse dinheiro. Ele deve vir do fluxo de caixa livre, caso contrário, é insustentável. Muitas vezes, o pagamento pode ser uma consequência de um fator não-recorrente, como a venda de parte de suas operações, por exemplo, o que reduziria a sua capacidade de geração de caixa futura, e, portanto, os dividendos.
Outro fato para se atentar com um alto dividend yield é entender o motivo da relação dividendo sobre preço estar alta. Para isso, existem duas possibilidades: o dividendo está mais alto do que o normal, o que pode ser insustentável, como mencionei acima, ou a ação estar descaradamente barata.
No mercado de ações, vendedores encontram compradores, e ambos sempre saem achando que saíram ganhando na transação. O mercado, por mais que irracional muitas vezes, não é burro. Se o preço de uma ação está baixo, provavelmente, é por conta das expectativas futuras à respeito desse ativo. Essas expectativas podem no final ser apenas ruídos, o que configuraria uma boa compra, ou ser uma ameaça estrutural, o que danificaria seus retornos no longo prazo.
Sendo assim, não há nada de errado em adotar uma estratégia de dividendos para sua carteira, visto que ela se mostrou, no passado, excelente. No entanto, eles não podem ser analisados isoladamente. Acima de tudo, investidores devem analisar a real capacidade de geração de caixa de suas empresas, e como ela está alocando o mesmo.