Em um artigo recente, alertamos que as condições favoráveis para os resultados corporativos nos EUA ao longo dos últimos trinta anos estão perdendo força. As taxas de juros e os impostos consistentemente baixos para as empresas no país ajudaram a impulsionar muito os preços e os valuations das ações.
No entanto, como os juros e os tributos pagos pelas empresas já estão em níveis historicamente baixos, é pouco provável que haja mais reduções. Sem taxas de juros negativas ou cortes nos impostos das companhias, as taxas de crescimento dos resultados totais podem cair entre 30% e 50% na próxima década.
O artigo não constitui necessariamente uma recomendação de gestão de carteira, mas fornece argumentos que todos os investidores devem levar em consideração.
Para o pensamento estratégico de longo prazo, vale a pena levar em conta outro fator crucial para os investidores de ações. Existe uma alternativa. Os investidores podem garantir um retorno livre de risco de longo prazo de 4% ou um pouco mais.
A questão de quanto investir em ações versus títulos públicos dos EUA ou outros ativos deve se basear em análises técnicas e fundamentalistas de curto prazo. Entretanto, para aqueles que tendem a definir suas estratégias de investimento com base em fatores de longo prazo, os próximos dez anos podem ser diferentes do que estamos habituados.
Para quem prefere uma abordagem com um horizonte maior de investimento, explicamos por que uma combinação de títulos com taxas mais elevadas pode ser uma ótima oportunidade para redefinir suas alocações entre ações e papéis do governo americano, em vista dos nossos alertas sobre os resultados corporativos no longo prazo.
Valuations ainda importam
Os valuations são os preços que pagamos pelos investimentos. É talvez o julgamento mais importante dos retornos futuros.
Como disse certa vez Warren Buffett:
“Preço é o que você paga. Valor é o que você recebe.”
A perspectiva fundamentalista e econômica pode ser péssima, mas um investimento ainda pode valer a pena se o preço for baixo o suficiente. Por outro lado, uma ação com um valuation muito alto pode estar precificando uma trajetória de resultados irreal. Mesmo nas melhores condições, esses investimentos tendem a ter um desempenho ruim.
Valuations atuais e retornos futuros
Atualmente, o CAPE 10, uma medida de preço com base nos resultados em um período mais longo, do S&P 500 é de 30,82. Desde 1871, o valuation atual só foi superado por um breve período antes da Grande Depressão, outro antes do estouro da bolha das empresas ponto-com e em algumas ocasiões entre 2017 e hoje.
O gráfico de dispersão a seguir compara os valuations mensais do CAPE com os retornos totais esperados dos próximos dez anos (incluindo dividendos).
A estrela vermelha marca a interseção da linha de tendência e o CAPE atual. Com um CAPE de 30,82, o retorno total esperado para os próximos dez anos é de 2,35%. A caixa amarela destaca os retornos totais dos próximos dez anos para cada ocasião mensal em que o CAPE estava acima de 30.
Agora, considere que o retorno dos títulos do Tesouro dos EUA de 10 anos estão em torno de 4%. Um rendimento desse tipo oferece aos investidores uma alternativa que não estava disponível nos últimos 15 anos.
O gráfico a seguir ajuda a entender o tradeoff entre a faixa potencial de retornos apresentados acima e as taxas dos títulos de dez anos, que poderiam ter sido garantidos em cada ocasião em que o valuation do CAPE estava acima de 30. O gráfico é semelhante ao anterior, exceto pelo fato de que os retornos são apresentados em relação às taxas dos títulos do Tesouro dos EUA de dez anos.
Nos últimos 150 anos, investidores que enfrentaram valuations CAPE acima de 30, como as atuais, quase sempre se saíram melhor ao comprar títulos do Tesouro dos EUA com vencimento de dez anos.
O gráfico de barras abaixo resume o gráfico de dispersão acima para destacar esse ponto.
A história recomenda optar pelos títulos e sair do mercado de ações!
John Hussman também dá sua opinião.
O gráfico de John Hussman abaixo compara três cálculos de prêmio de risco de ações, em vez do CAPE, com os retornos excessivos subsequentes. Sua análise é mais pessimista do que nossas expectativas baseadas no CAPE.
Com o prêmio de risco de ações atual abaixo de 1%, os investidores de longo prazo devem ficar muito atentos.
Após essa discussão pessimista, por que não comprar títulos e vender as ações?
Apesar de a análise ser muito convincente, ela também tem falhas. Por exemplo, se o mercado cair 40% no próximo ano, seus retornos anuais para os nove anos restantes podem ser superiores a 6%, mas ainda assim resultar em um retorno de dez anos próximo de zero.
Por outro lado, os investidores de ações podem ter retornos muito melhores do que a média nos próximos anos, apenas para sofrer uma queda significativa no futuro.
O ponto-chave é que o tempo importa. Portanto, uma análise técnica e fundamentalista de curto prazo deve determinar em grande parte a alocação atual entre ações e títulos, a menos que você esteja disposto a ignorar os mercados por dez anos.
Resumo
Em suma, a história, o rigor analítico e a lógica sugerem que investidores de longo prazo podem obter benefícios ao ajustar suas alocações de ações para títulos.
Para todos os outros investidores, é recomendado prestar muita atenção em suas previsões macroeconômicas, fundamentalistas e técnicas, pois as perspectivas para ações versus títulos nos próximos dez anos são preocupantes.