O mercado financeiro deu a largada com a Bovespa quebrando recorde e o dólar sofrendo depreciação, mas é notório que alguns conceituados analistas já demonstram sensatez e moderação em suas análises prospectivas.
No fundo, as incertezas são tantas e de tal porte que há o receio que a economia brasileira possa encenar o “voo da galinha”.
Gustavo Franco, reconhecidamente criterioso e experiente, fez matéria para O Globo titulando 2018 como o ano da incerteza e discorrendo sobre o tema neste contexto.
As principais instituições financeiras, campeãs dos acertos, em tomada feita pela Folha de São Paulo, não demonstraram entusiasmo com a recuperação do emprego, vendo o desemprego acima de dois dígitos e até estagnado.
O resultado da balança comercial em 2017, muito festejado por seus US$ 67,0 Bi, foi visto por analistas mais céticos como decorrente de uma performance atípica do setor do agronegócio, superando todas as deficiências estruturais do país, e de minério de ferro, puxados pela China, que comprou US$ 50,0 Bi no ano, Estados Unidos com US$ 25,0 Bi e o ressurgimento da Argentina, nossa vizinha e que tem efetiva importância no nosso comércio exterior. No total vendemos US$ 217,0 Bi e compramos US$ 150,0 Bi, ambas as pontas tiveram alta em relação ao ano anterior mas de forma desproporcional já que as exportações cresceram mais do que as importações, isto devido a dinâmica ainda fragilizada da nossa economia. O desempenho foi melhor do que os anos de 2015 e 2016, porém menor em volume em relação a 2011 e 2014. O saldo foi o maior desde 1989.
Para 2018 a projeção é de um superávit de US$ 50,0 Bi.
Mas no “caixa” sobrou pouco em 2017, pois houve saídas financeiras em bom volume e o agregado às reservas foi moderado.
Há ruídos no mercado sobre a possibilidade do governo utilizar parte das reservas cambiais para melhorar o caixa, mas embora as nossas reservas sejam grandes para o passivo do governo, acreditamos que neste momento seria altamente prejudicial a imagem já desgastada do governo, ainda mais por ser um ano eleitoral. Sabidamente as reservas brasileiras foram constituídas com aumento da dívida pública e não com superávits, o que seria somente um processo reversivo, mas as repercussões não seriam pequenas nem aqui e nem no exterior.
Enfim, agora vem se tornando mais perceptível pela parte mais sensata e equilibrada do mercado financeiro e no seu entorno , com peso adequado as preocupações e incertezas sobre o julgamento do ex-presidente Lula e perturbações reacionárias de seus seguidores, e ainda, sobre a reforma da previdência e sua viabilidade de aprovação, necessidade de desidratação ainda maior, e mesmo assim incerteza sobre sua aprovação.
As disputas eleitorais já estão “na rua”, e o risco é o político suplantar o econômico e o contaminar.
Há sem dúvida riscos que podem provocar o “downgrade” do Brasil pelas agências de rating e impactos da mudança de humor do mercado internacional em relação ao país, afetados pela não solução da questão fiscal.
Há riscos representados pela dinâmica das economias fortes como Estados Unidos, Europa e China que poderão drenar recursos atualmente locados nos países emergentes.
Consensualmente a crença é que o PIB crescerá com o aumento do consumo familiar, porém o ponto crucial é o aumento do emprego, e, pelo que se percebe não há grande convicção sobre o aumento de oferta, o que coloca em risco o prognóstico do crescimento.
Enfim, é perceptível que há postura otimista, por vezes até exacerbadas nos discursos, mas a moderação parece avançar nas atitudes.
Face este cenário, é necessária cautela e precaução pois o preço do dólar pode repercutir o ambiente tenso, e tudo o mais pode afetar o ímpeto pela Bolsa e tudo o mais, inclusive a tendência de queda da SELIC, já que o IPCA já não tem condições de ser benigno como no ano passado e poderá piorar.
Não há como imaginar-se “mar calmo” e “céu de brigadeiro” no horizonte, 2018 deve ter muitas perturbações.