Orelhas abaixadas
Bolsas lá fora têm alta moderada, muito em função tão somente de retomada de apetite por risco após o desempenho recente. Atenções integralmente voltadas ao Congresso americano (nota logo abaixo), com investidores propensos ao tudo ou nada pela continuidade (ou não) da alta do mercado americano.
Reflexo aqui é Bolsa no zero a zero em dia de volume fraco, com dólar e juros e alta na espera do que vem lá de fora: enquanto um burro fala, os outros abaixam as orelhas.
As minhas estão abaixadíssimas.
Monomania
Serei direto: aos mercados, só importa hoje o resultado da votação do projeto trumpiano que altera as bases do Obamacare.
Tem-se aqui, muito provavelmente, o maior desafio da nova gestão até aqui, e resultado tende a ser visto como termômetro da capacidade do novo POTUS de levar à frente suas arrojadas promessas de campanha.
Após meses de confiança desenfreada, mercado parece ter percebido que o sistema republicano estadunidense não garante plenos poderes ao presidente. Que coisa, não é mesmo?
Para constar: Yellen falou hoje cedo, mas nada de relevante disse.
O gato subiu no telhado
Por aqui, Fazenda apresentou acompanhamento orçamentário conforme esperado, mas absteve-se de propor imediatamente medidas para aumento de arrecadação.
A equipe limitou-se a informar que, mantido tudo como está, nossas contas públicas caminham para encerrar 2017 com déficit primário na casa dos 200 bilhões de reais, cerca de 60 milhões além do previsto…
…o que significa que, salvo arrecadação supere as expectativas, será sim necessário cortar gastos e elevar receitas.
São aguardadas para a próxima semana algumas decisões judiciais que podem se traduzir em ingressos adicionais no caixa da União. A equipe econômica parece ter optado por esperar os veredictos antes de propor medidas de aumento da arrecadação. Mas para bom entendedor, mê pá bá: o gato subiu no telhado.
No Congresso, segue o estica-e-puxa em torno da Reforma da Previdência. Aprovação do projeto que amplia terceirização serviu como reiteração do recado ao Planalto: não será fácil.
O mercado segue dando o benefício da dúvida, acreditando que uma “reforma possível” será tempestivamente aprovada e suficiente à resolução das questões fiscais.
Torçamos para que a contagem de gatos no telhado não aumente.
Bom para quem?
No princípio, o caminho da riqueza era “colocar seu dinheiro para trabalhar para você”. Então surgiu a idéia mefistotélica: “que tal colocar o dinheiro dos outros para trabalhar para você?”
E assim surgiram os bancos, e vimos que era bom. Mas bom para quem? Clientes? Nem pensar. Funcionários? Muito menos…
Acionista. Banco só é bom para acionista.
A Luciana alerta para uma estratégia ridiculamente simples através da qual os maiores bancos do país estão ganhando [muito] dinheiro às suas custas.
Felizmente, são simples as medidas a tomar para acabar com a festa deles.
BVMF/CTIP: Quem espera sempre alcança
Demorou, mas saiu: o CADE aprovou, enfim, a fusão entre BM&FBovespa (SA:BVMF3) e Cetip (SA:CTIP3).
À primeira vista, os remédios propostos pelo órgão à concentração de mercado decorrente da operação são secundários em comparação com os benefícios do deal: t em-se aqui a integração de dois monopólios naturais, consolidados em um negócio com altíssimas barreiras de entrada, em função de custos de substituição, e combinando linhas de negócio com bom potencial de crescimento com outras, de fluxo de caixa estável e pujante.
A nova empresa nasce negociando a cerca de 16 vezes lucros de 2018 — o que oferece desconto relevante em relação a pares internacionais. Gostamos ainda do fato do CEO da Cetip, Gilson Finkelsztain, assumir a batuta da nova companhia: é bom seu histórico de execução em integrações.
Como única ressalva, lembramos que a transação envolverá pagamento em ações de BVMF a acionistas de CTIP — o que pode, potencialmente, se traduzir em alguma pressão vendedora no curto prazo.
BVMF figura entre as apostas da Carteira Empiricus. Já CTIP integra a carteira recomendada do Programa de Riqueza Permanente.