Quando próximo ao lançamento da mainnet da EOS, escrevi textos relativamente elogiosos ao líder do projeto (Dan Larimer) e alertando que havia incertezas normais a todos projetos do tipo apesar de serem críveis bons resultados. Nessa semana, um dos maiores projetos da rede Ethereum anunciou seu interesse em operar também na plataforma da EOS. Essa aplicação permite a troca de tokens ERC20 com liquidez garantida por design de smart contracts. Mais recentemente, pretendem expandir isso para tokens emitidos na plataforma EOS, garantindo alguma interoperabilidade na troca de tokens entre as redes.
Qual seria o motivo para esse interesse? O anúncio da Bancor citou a maior velocidade de transação da EOS se comparada à Ethereum e também sua ausência de taxas. A rede da Ethereum apresenta constantes desafios e atualizações referentes ao que é pago para executar smart contracts. A rede da EOS, por sua vez, possui uma estrutura mais enxuta e algo centralizada. Isso permite que haja maior velocidade e possibilidades para os aplicativos. Dentre os anunciados a rodar na BancorX, há de enciclopédias a bancos e jogos.
O ocorrido é uma excelente notícia após a sequência de FUDs que o criptoativo sofreu. Desde o fim de seu ICO a EOS encarou diversos problemas. O inicial foi o encontro de bugs pouco tempo antes do lançamento de sua rede. Isso era esperado, afinal fez parte de um programa aberto de encontra de erros; entretanto, posteriormente a blockchain foi atingida por problemas ainda piores. Inicialmente seu lançamento demorou um pouco mais do que o desejado e uma série de sites de phishing atacaram investidores incautos, tudo com base em erros da própria Blockone, criadora da EOS. O lançamento da blockchain foi atrasado, aumentando as incertezas relativas a tecnologia, e seu funcionamento foi atrelado a uma constituição humana.
Uma pausa para essa questão se faz fundamental: por que enfatizar que a constituição é humana? Nick Szabo -- pioneiro cypherpunk fortemente envolvido com criptomoedas -- possui a ideia de escalabilidade social. Uma constituição humana envolve uma câmara de arbitragem que julga casos constantemente para evitar abusos, contas roubadas e demais problemas. Nada muito diferente que o Ethereum eventualmente faz com votações sobre resgates de contas congeladas (Parity) ou smart contracts falhos (TheDAO). No entanto, o default muda. No caso da EOS, a avaliação é constante e não há algo como “code is law”. Esse design em nada se parece com um projeto descentralizado, e com as avaliações constantes da câmara de arbitragem, a rede perde alguma escalabilidade de entrada de novos participantes segundo Szabo.
Esse poder da câmara e dos blockproducers se reproduziu rapidamente. No dia 17 de junho, sete contas foram congeladas. A motivação mostra algum poder diferente da Ethereum: a Ethereum congela após o processo concluído e preserva uma cultura pró-código (menos que a Ethereum Classic, porém o suficiente para ainda soar um projeto experimental). Se os únicos problemas fossem governança, já seria grave, porém dia 9 de julho a blockchain EOS falhou de maneira crítica, encerrando uma grande crise da EOS.
Vale notar que a Bancor aceita essas modificações humanas para ter mais garantias a seus clientes. Nesse caso, haveria expectativa de usabilidade para a EOS. Entretanto, ficou claro para quem desejava uma solução para os problemas da Ethereum que a EOS não preserva nem de perto alguma de suas características. Nesse caso, concluo que a governança da EOS é falha e não a vejo opção tecnologicamente viável. Como investimento, contudo, a entrada da Bancor mostra que há players considerando para a plataforma desejável comercialmente. A Bancor viabiliza liquidez, porém ainda resta ver se aplicativos “decentralizados” terão interesse em operar numa rede com tantos traços de centralização.