Não foi uma total surpresa a decisão mais conservadora do BACEN no Copom na reuniãodos dias 18 e 19. O corte da taxa Selic acabou em apenas 0,25 ponto percentual, a 14,0%, quando eram muitos os que acreditavam num corte mais agressivo, de 0,5 ponto percentual, dada a economia fragilizada e a inflação em trajetória cadente. No fim, o BACEN resolveu se posicionar de forma mais cautelosa, colocando em dúvida a trajetória dos serviços, em recuo lento, e o ajuste fiscal, ainda cercado de incertezas.
Afirmou então o BACEN, no Comunicado da reunião e na Ata da semana seguinte, que a “política monetária tem que se manter gradual e moderada”, o que acabou, inclusive, virando a curva de juro no mercado futuro, agora mais inclinada, não sinalizando tendência de queda forte no curto prazo. Cabe ressaltar, no entanto, que no mercado são muitos os que ainda acreditam num forte ciclo de cortes para os próximos meses, atingindo algo entre 10% e 11% ao fim de 2017. Para isso, acredita-se, o ajuste fiscal terá que deslanchar. As duas últimas votações na Câmara, pela aprovação da PEC, mostraram haver alguma margem para isso.
Nesta linha de argumentação foi uma boa notícia estas votações da “PEC do teto dos gastos”, a primeira com 366 votos, a segunda, com 359, bem acima, portanto, do mínimo necessário, de 308. Agora, teremos algum debate na Comissão no Senado para haver votação nos dias 29/11 e até o dia 13/12, um pouco antes do recesso parlamentar. Preocupa, no entanto que, em paralelo, seguem as operações da Lava-Jato como ameaça, diante das delações da Odebrecht e “ameaças” mais recentes sobre a cúpula do governo e a base de apoio no Congresso. Soma-se a isso, algum stress ocorrido entre o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o Judiciário, depois de uma desastrada operação de prisão de alguns membros da Polícia do Senado. Discute-se aí se não teria sido mais prudente uma consulta, primeiro, ao STF para iniciar a operação.
Bem, mesmo assim, o que se observa é a normalização na tramitação da PEC que, sendo aprovada, e sem “destaques”, abrirá espaço para a Reforma da Previdência, esta sim essencial para o controle das despesas nos próximos anos. Pelo calendário, muitos consideram que deve começar a ser discutida em plenário em 2017, mais precisamente depois de fevereiro (pode até ser antecipada), com previsões de desfecho nas votações ao fim do primeiro semestre.
Não resta dúvida que com esta reforma, e a PEC, será plausível se pensar em alguma estabilização da dívida bruta, em trajetória preocupante. Em agosto fechou em 70% e caminha para passar de 90% do PIB se nada for feito. Estudos indicam que o déficit primário, hoje em torno de R$ 170 bilhões, teria que virar e se transformar em positivo no mesmo patamar, algo em torno de 2,5% do PIB, para que a dívida pare de subir ou se estabilize. Cabe observar, no entanto, que importante também será a retomada da arrecadação federal, só possível com o crescimento da economia, as receitas com concessões de investimentos e, também, recursos das repatriações, a vencer agora no dia 31/10, previstos acima de R$ 50 bilhões. Cabe lembrar, neste caso, que o reforço de caixa só deve acontecer uma vez, já que será adotado a partir do projeto de lei das repatriações de recursos de brasileiros no exterior.
Sobre o comportamento da inflação, o que se observa é alimentos ainda em patamar elevado, embora a normalização na oferta de algumas culturas seja um sinalizador de acomodação em patamar mais baixo até o final do ano. Pelo gráfico ao fim, os bens não duráveis fecharam 2015 em 12,3% e neste ano flutuavam em torno de 14,5%, em setembro tendo chegado a 14,7%. Para o BACEN, no entanto, o que preocupa é a trajetória dos serviços, em setembro fechando a 7,0% em 12 meses, depois de 8,1% no ano passado. Entre 2010 e 2012 se mantiveram acima de 10%.
Considera-se que a desaceleração deste item ocorre de forma muito lenta. Há de se destacar, neste caso, a pouca aderência dos preços dos serviços à política de juros do BACEN. Em períodos em que houve maior aperto monetário, tanto os serviços como os bens não duráveis se mantiveram elevados. Serviços por ter uma participação de 35% no IPCA é um item que deve ser monitorado pelo BACEN. Três variáveis são decisivas para a sua perfomance: mercado de trabalho, salários e indexação. Sobre estas, os salários têm recuado muito lentamente, dada a alta indexação na economia e os reajustes reais do salário mínimo. Junto a isso, o desemprego elevado, acima de 12 milhões, em algum momento deve contaminar os custos dos serviços. Observa-se então que os salários reais têm recuado mais lentamente que o desemprego. Em julho deste ano, em relação ao mesmo mês do ano passado, o recuo foi de 2% nos salários, enquanto que o desemprego aumentou 35%, segundo estudos do economista Nelson Marconi da FGV de São Paulo.
Neste quadro de maior rigidez dos serviços, há de se prever que em algum momento deve começar a ceder com mais força, dada a recessão em curso, não esquecendo, porém, de argumentar que alguma recuperação deve ocorrer em 2017, voltando a impactar este item.
Outro debate é que com a inflação desacelerando, já prevista em 7% neste ano e 5,2% em 2017, será importante que a taxa de juros nominal da Selic desacelere num ritmo compatível, sob o risco de elevar a taxa de juros real, já próxima a 7%. Sendo assim, muitos acham que com a inflação desacelerando dois pontos em 2017, será importante que o juro nominal recue pelo mesmo caminho, ou até com mais intensidade, a algo entre 11,5% e 12,0%. Muitos, mais otimistas, falam em 10% a 11%. Para isso, no entanto, será importante que os ajustes fiscais evoluam na velocidade adequada ao momento e os resultados, assim como o comportamento dos indicadores da economia real, comecem a aparecer no mesmo ritmo
Devemos destacar também os movimentos recentes do câmbio como mais um fator a explicar uma possível desaceleração da inflação nos próximos meses. No ano, a valorização do real já passa de 20%, não sendo surpresa se recuar a R$ 3,00, pelo forte movimento de repatriações em curso e retorno dos investidores externos. Neste caso, cabe observar que o mundo opera com taxas reais negativas, o que torna a alternativa dos mercados emergentes algo interessante. Aguardemos então como deve se comportar o câmbio nas próximas semanas. Nossa projeção, por ora, se mantém em R$ 3,20 neste ano e R$ 3,40 em 2017, neste caso também mobilizado pelo comportamento das exportações, meio de lado nas últimas apurações
Enfim, o BACEN resolveu aguardar um pouco a inflação dos serviços e o avanço das negociações das medidas fiscais, suas chances de sucesso, para deliberar com mais agressividade sobre a política de juros. Cabe observar que esta Consultoria continua a prever 13,75% ao fim deste ano e 11,25% em 2017, com o mercado, pela Focus, mantendo uma “mão mais pesada” para 2017, prevendo 11%, neste ano revisando para 13,5%. Apenas uma observação, o Top 5, as casas que mais acertam nas suas projeções, estima 11,25% para o ano que vem.