Banco Central – Copom, Câmbio e Inflação

Publicado 03.03.2016, 08:57
Atualizado 09.07.2023, 07:32

A decisão do Copom veio como o esperado, mantando-se a taxa de juros a 14,25%, sem viés.

Com o câmbio aparentemente sobre controle, retira uma boa parte da pressão inflacionária ocasionada pela uma possível maior desvalorização cambial.

Aparentemente a taxa de juros já não tem tanto impacto na inflação, em que a redução desta deverá ser ocasionada pela contração do mercado.

Quando defendia – e ainda defendo, mas em menor grau – a subida da taxa Selic não tinha nada a haver com o controle da inflação, mas sim com o aumento do risco Brasil, quanto maior for o risco maiores são os prêmios (juros) a pagar exigidos pelo mercado.

Por mais que se queira alhear deste fator, temos que conviver com os agentes do mercado financeiro, até pela nossa elevada dependência.

Neste contexto, podemos agora estar a entrar numa fase de inflação inercial e começarmos a ter uma redução da inflação ao longo do segundo semestre, normalmente a fase inercial demora quatro a seis meses, não que esta estimativa deva ser tida como certa.

Com este cenário pode-se começar a pensar com a descida da inflação a partir do segundo semestre e que o Copom possa descer a taxa de juros ainda no final do ano ou no início de 2017.

Esta descida não será com certeza ou pelo menos não é expectável que seja rápida, terá uma descida lenta, em face aos dados macroeconómicos do momento.

Este cenário é no contexto atual, mas existem muitas incertezas que podem vir a afetar esta projeção e alterar todo este cenário.

O BC está fazendo e bem a sua parte neste cenário macroeconômico, agindo com cautela e prudência, agora resta ao governo fazer a sua parte, principalmente o ajuste fiscal.

Aqui é que reside o maior problema atualmente do Brasil, a resistência a um ajuste fiscal e consequentemente levar um superávit primário relevante de 1,2% e temos também que estancar o crescimento da dívida pública.

Corremos o risco de zerar ou entrar em terreno negativo o superávit primário.

Outro problema que enfrenta muita resistência política, é que o governo efetue um corte elevados na despesa e faça as reformas estruturais necessárias, tais como a da previdência, fiscal e administrativa.

Não existe vontade e nem força política numa fase que o governo tem baixa popularidade, pois essa atuação poderia comprometer futuras eleições. Neste momento o governo navega ao nível da sua sobrevivência, sem pensar o que seria melhor para o Brasil.

Não irá adiantar o esforço do BC sem a colaboração do governo e neste andar, do aumento da dívida pública prevista e a sua despesa com juros, só atira o Brasil mais ainda para o fundo do poço.

É preciso estancar o crescimento da dívida pública já elevada pelo menos, já nem falo na sua redução, que também seria muito desejável.

Continuo a aguardar pelos dados macroeconômicos do primeiro trimestre para começar a ter uma real noção do início deste ano de 2016 e a evolução política.

Temos que aguardar com paciência, e esperar para ver.

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