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Bancos Centrais Reagiram Bem à Pandemia em 2020, Mas se Arriscaram na Política

Publicado 30.12.2020, 08:42

Os bancos centrais mostraram que aprenderam alguma coisa com a crise financeira de 2008-09, ao enfrentar com sucesso a pandemia e os bloqueios sem precedentes deste ano. Eles reagiram forte para evitar o congelamento dos mercados, criando dinheiro para estabilizar os ativos e financiar indiretamente os enormes gastos deficitários.

Mas isso teve um custo. Os bancos centrais ficaram perigosamente perto do papel político. Em particular, o Federal Reserve cruzou a linha quando montou programas de empréstimos emergenciais respaldados por fundos governamentais.

Quão comprometidos ficaram os bancos centrais?

O impasse de última hora nas negociações congressuais no fim de 2020 para aprovar o tão necessário alívio nas fases finais da pandemia demonstrou isso. Os senadores republicanos bloquearam o auxílio, inclusive os cheques para os cidadãos, a fim de evitar os instrumentos que o secretário do tesouro, Steven Mnuchin, havia encerrado. Eles queriam evitar uma tentativa de driblar o auxílio aprovado ou não aprovado pelo Congresso, em especial o Programa de Liquidez Municipal, que prevê empréstimos para governos locais e estaduais.

O acordo de última hora limitou-se a proibir a duplicação dos programas encerrados, e não o respaldo do tesouro aos créditos fornecidos pelo Fed de maneira geral. 

O que o Fed está fazendo em meio a essa batalha política? Boa questão, quem sabe o presidente do Fed, Jerome Powell, e outras autoridades fiquem às voltas com a resposta nos próximos meses.

No entanto, o Fed não está sozinho no seu envolvimento com a política. O Banco Central Europeu elevou a dimensão do Programa de Compras Emergenciais de Combate à Pandemia em 500 bilhões de euros em dezembro, fazendo com que o total alcançasse 1,85 trilhão de euros para atender as necessidades de financiamento dos governos.

As compras estão sendo feitas no mercado secundário, e não diretamente dos governos, o que não esconde o fato de que esse financiamento do banco central às dívidas governamentais está na contramão dos tratados da União Europeia.

Um banco central precisa fazer o seu dever, e ninguém dá importância a essas minudências quando se está diante de um colapso econômico. Mas, assim que as campanhas de vacinação forem implementadas e as economias se reerguerem, será necessário despender algum esforço para saber o grau de comprometimento dos bancos centrais com essas questões.

A pandemia demonstrou a resiliência institucional do sistema financeiro. Não só os bancos centrais reagiram com vigor, como também resistiram ao estresse após serem forçados a destravar capital. A proibição de distribuição de dividendos e de recompras de ações foi uma salvaguarda necessária, mesmo com a insatisfação dos bancos com essa medida temporária. Na semana passada, os bancos centrais removeram essas proibições com certas restrições.

Mas a espinha dorsal institucional não conseguiu esconder a fraqueza no topo dos mais importantes bancos centrais. Nem Jerome Powell, do Fed, nem Christine Lagarde, do BCE, detêm as qualificações necessárias para gerenciar uma crise.

Ambos são advogados que se destacaram em outras searas. Powell pelo menos teve um treinamento prático antes de assumir o cargo mais alto e cometeu seus erros de principiante antes de a crise chegar. Ele aprendeu a seguir o roteiro escrito por pessoas que sabem o que está acontecendo.

Lagarde não tinha qualquer experiência bancária, o que ficou patente em sua recorrente falta de sensibilidade com a forma como os mercados reagiriam às suas declarações. O economista-chefe do BCE, Philip Lane, ex-governador do Banco Central da Irlanda, teve que entrar em cena e começar a telefonar para grandes investidores, a fim de “esclarecer” os tropeços de Lagarde. É uma pena que alguém como Lane ou até mesmo Mario Draghi, antecessor de Lagarde, não ocupe essa posição, que requer autoridade em suas manifestações.

Até mesmo Andrew Bailey, governador do Banco da Inglaterra, viu sua autoridade se enfraquecer com a intensificação dos escândalos do período em que ele dirigia a Autoridade de Conduta Financeira do Reino Unido. Pelo menos ele tinha uma longa carreira no banco central antes da sua insensata nomeação para a agência regulatória.

Os bancos centrais encerraram o ano sem muito alarde, aguardando para ver a rapidez com que as economias se recuperariam assim que as vacinas ficassem amplamente disponíveis.

Depois de telegrafar suas intenções por semanas, o BCE arrefeceu as compras de títulos, atendendo apenas o mínimo do que os investidores esperavam, o que desapontou muitas pessoas. Algumas autoridades chegaram a afirmar que sequer usariam todos os fundos disponíveis, mas, nesse caso, por que não pecar pelo lado do exagero? Os investidores são criaturas nervosas, e a percepção conta muito.

O Fed corretamente sinalizou que não realizaria grandes movimentos, mas sua última reunião de política deste ano fora do comum durante o governo Trump foi ainda mais decepcionante do que precisava ser. O fato de o Fed não ter direcionado suas compras de títulos para vencimentos mais longos desapontou bastante os investidores.

A insistente repetição de garantias feita por Powell, no sentido de que o Fed usaria todas as ferramentas à sua disposição durante anos, se necessário, já foi descontada pelos investidores há muito tempo.

E os parlamentares não demoraram em atenuar essas garantias, ao usar tais instrumentos como justificativa para o impasse nas negociações de estímulo fiscal. Por tudo isso, sem dúvida 2020 será um ano que os banqueiros centrais vão agradecer por ter acabado.

 

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