Pingado na mão, comecei o dia com a tradicional sapeada nos noticiários financeiros.
Começando pela Bloomberg...
E parei nele. Hoje é sexta-feira, não é para esquentar a cabeça. É dia de olhar as coisas pelo lado positivo. Bom, tirando a China, a Turquia, a Argentina, a Venezuela e a queda da Europa, até que hoje o dia está positivo.
Crise hermana
Ontem presenciamos uma corrida contra o peso argentino, com disparada de 13% do dólar ante a moeda. A disparada foi engatilhada pela virada de mão na política argentina de intervenções, com o Banco Central hermano interrompendo as mediações no mercado cambial para preservar as reservas internacionais do país, que caíram ao menor nível em sete anos. Desdobramentos tupiniquins são óbvios, sempre espraia alguma coisa. Desequilíbrio na balança comercial com os hermanos e efeito imediato de uma fuga de mercados emergentes rumo aos desenvolvidos. Pelé e Maradona à parte, ainda tem muito gringo planejando ver jogo da Copa em Buenos Aires.
Analogias (parte II)
Nosso nível de intervenção no mercado de câmbio supera o da crise de 2008. Temos muitas reservas, mas não vamos zerar elas contra uma tendência de fundamentos. É briga inútil.
Faça um exercício mental e imagine onde estaria o dólar sem a rotina de intervenções do Bacen. Se o câmbio flutuante mesmo... Com Bacen, o câmbio hoje superou R$ 2,41. Não bastasse a perda de credibilidade da economia brasileira e a iminente escassez de dólares nos mercados por conta do processo de retirada dos estímulos nos EUA (que sequer começou), agora temos um gatilho extra do (mau e) velho risco de contágio.
Vale a pena ver de novo (dólar)
Patamar justo para o dólar é acima de R$ 2,50, com risco de porrada nas cotações para cima disso - o tal “overshooting”. Talvez não tenha percebido, mas uma forma mais segura de se apostar na queda da Bolsa brasileira é comprar dólares. O mundo pode estar de ponta cabeça, mas a correlação entre dólar e Bolsa brasileira ainda é inversa: um sobe outro desce. E, posicionado em dólares, você tem uma bela margem de segura, de fundamentos, de que a moeda não tem espaço para cair muito. Ou você acha que nesse cenário o dólar deveria voltar para a casa de R$ 1? É batata.
Vale a pena ver de novo de novo (China)
Em um dos primeiros M5M deste ano, conversamos sobre um “dado alarmante” da economia chinesa, lembra? Segundo levantamento da IHS Global Insight, na China há cerca de US$ 1,3 trilhão em empréstimos de shadow banks – crédito a partir de fontes informais, fora do sistema financeiro regulado. O JP Morgan estimou que o crédito “obscuro” foi representativo a 69% do PIB chinês em 2012. A nova novidade da China incógnita (que virou risco-China) é justamente essa. Hoje, o noticiário internacional destaca a possibilidade de calote a partir de empréstimos obscuros. É uma das peças do quebra-cabeças anexado ao primeiro minuto. O IBCB, Industrial & Commercial Bank of China, banco mais rentável do mundo, está se negando a compensar fundos de empréstimo estruturado pelo China Credit Trust para uma mineradora de carvão. O tomador do empréstimo carrega histórico de acusação de fraude financeira. E os créditos vencem em 31 de janeiro. O empréstimo de alto risco não aparece nos balanços patrimoniais. Alguma semelhança à crise do subprime?
Mais um short de Bolsa
O risco de colapso chinês e espraiamento para economias cíclicas, de moeda frágil e baseadas em commodities (Brasil) é mais um indicativo de pressão sobre a Bolsa brasileira. Lembrando, é muito difícil shortear China (apostar na queda, operar vendido) em maneiras convencionais, pois o câmbio é fixo, o mercado não tem muita liquidez, tem muitos ativos nas mãos do governo local e regras rígidas de operação na ponta vendedora. Na dificuldade de shortear China, sofrem os tidos como derivadas de China (Brasil). Bem-vindo aos 40 mil pontos?
Ondas de retornos absolutos no oceano
É sempre importante ponderar, no entanto, que o Ibovespa não representa a Bolsa brasileira, e vice-e-versa. Em tempos de vermelho China nas cotações, não caia na tentação de generalizar tudo. O principal índice de ações do mercado caiu 15,5% em 2013, mas teve gente exibindo rentabilidade de dois dígitos. Exemplo disso é a turma da Oceana Investimentos, tema da série Conversas com Gestores de hoje. Lá eles contam quais as principais alocações da carteira hoje e como vêm conseguindo bater consistentemente os retornos do IBovespa nos últimos anos.
Use filtro solar
Mais uma vez: mantenha o grosso do seu patrimônio líquido e em alocações extremamente conservadoras. Isso pode ser 90% se você tiver perfil extremamente conservador, ou 60% se for um cara mais arrojado. Para a parte “do grosso”, ontem falei das NTN-B. Hoje falei de dólar... Para a pequena parcela, você pode procurar os FIIs com yields gordos, ações dolarizadas, ou aquelas ações resilientes que pagam os dividendos mais elevados. Também sugiro que não ande nas sombras, use filtro solar e, claro, não saia nesta tempestade sem um guarda-chuvas. Use preservativo. Para o seu bolso não tem pílula do dia seguinte.
PS: cenas dos próximos capítulos...
Aguardem!
Para visualizar o artigo completo visite o site da Empiricus Research.