Bitcoin: A corrida do "ouro digital" e o dólar

Publicado 22.05.2025, 14:28

A desaceleração do dólar e o avanço de ativos alternativos, como o Bitcoin, refletem um quadro mais amplo de preocupação com a saúde fiscal dos Estados Unidos e os desdobramentos dessa fragilidade sobre os mercados globais. Entre 2022 e 2024, o governo norte‐americano ampliou seus gastos em pacotes de estímulo que, somados às consequentes reduções de receita, elevaram o déficit primário a níveis inéditos. Em maio de 2025, essa tensão ficou explícita em leilões de títulos: a demanda pelos Treasuries de 20 anos atingiu o menor patamar desde fevereiro, levando o rendimento a 5,13% - o ponto mais alto desde novembro de 2023 - e sinalizando um crescente receio dos investidores diante do endividamento recorde e de projeções de déficit ampliado por novas reformas fiscais em tramitação no Congresso.

No ambiente externo, o índice DXY, que mede o dólar contra seis moedas fortes, acumula queda de mais de 8% em 2025. Essa desvalorização decorre tanto da percepção de que o endividamento crescente e o cerco de rating - agravado pela recente redução da nota soberana pela Moody’s - fragilizam o equilíbrio das contas públicas, quanto do receio de que as disputas comerciais e tarifárias conduzidas por Washington aprofundem a desaceleração global. A retração do dólar, porém, encontra um ponto de saturação: embora haja razões fundamentais para uma visão de médio prazo negativa sobre a moeda americana, o pessimismo excessivo já levou hedge funds a deterem mais de US$ 17 bi em posições vendidas no dólar - nível mais tímido em quase duas décadas -, o que pode preparar o terreno para correções abruptas em caso de notícias positivas sobre o orçamento norte‐americano.

É nesse caldo de incerteza que o Bitcoin desponta como refúgio especulativo e reserva de valor atraente. Em 2025, a criptomoeda já se valoriza 18%, superando amplamente os retornos de ativos tradicionais em moeda forte. A lógica é simples: diante da corrosão fiscal nos EUA e do temor de que a impressão de dinheiro - embutida em novos estímulos - se traduza em inflação mais persistente, investidores buscam proteção em ativos distribuídos, com oferta limitada e independentes de balanços estatais. Além disso, a própria narrativa de descentralização e do “ouro digital” ganha força à medida que autoridades monetárias demonstram hesitação em coordenar políticas eficazes entre si.

O contexto de dólar fraco e rendimentos americanos em alta ressuscita a discussão sobre a coordenação entre política monetária e fiscal. Muitos analistas apontam que a eficácia do aperto monetário esbarra na ausência de disciplina orçamentária: se o Tesouro seguir emitindo em alta frequência e volumes crescentes, a âncora proporcionada por juros elevados perde parte de seu poder de ancoragem. Nesse sentido, o Bitcoin e outras criptomoedas atuam como “vigilantes de mercado”, aumentando a pressão para que governos equilibrem receitas e despesas, sob pena de acelerar a migração de capitais para esses refugos digitais.

Por fim, o ambiente exposto também traz janelas de oportunidade para quem se posiciona antecipadamente. Fundos de crédito estruturado podem capturar yields maiores em debêntures de empresas sólidas, cujos spreads tendem a se alargar antes de se normalizar. Estrategistas de moedas recomendam operações de carry com moedas de países com política fiscal robusta e prêmios de juros atrativos. Na esfera de commodities, o dólar mais fraco favorece a elevação dos preços domésticos e, por extensão, a rentabilidade das empresas de base de recursos naturais. E, claro, o Bitcoin reserva espaço para estratégias de diversificação: long positions graduais podem aproveitar momentos de retração pontual para acumular posição, enquanto produtos estruturados de volatilidade em criptomoedas oferecem hedge contra choques fiscais e monetários futuros.

Em suma, a corrosão fiscal e a vulnerabilidade do dólar imprimem volatilidade e tensão aos mercados globais, mas também geram oportunidades que exigem leitura apurada dos fundamentos e agilidade na execução. Para gestores e investidores que conseguirem unir a análise rigorosa da evolução das contas públicas americanas, a dinâmica dos rendimentos e a narrativa de ruptura monetária, o cenário atual pode render ganhos consistentes e protegidos, mesmo num ambiente incerto. Afinal, o verdadeiro arbitrador de valor em 2025 será quem enxergar, além do ruído de curto prazo, as tendências de longo prazo que se desenham por trás de cada curva de juros e cada bloco de código em blockchain.

Últimos comentários

Carregando o próximo artigo...
Instale nossos aplicativos
Divulgação de riscos: Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.
A versão em inglês deste acordo é a versão principal, a qual prevalece sempre que houver alguma discrepância entre a versão em inglês e a versão em português.
© 2007-2025 - Fusion Media Limited. Todos os direitos reservados.