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Em pouco mais de quinze anos, o Venture Capital (VC – capital de risco) em criptomoedas saiu do zero absoluto para receber US$ 33,8 bilhões em aportes somente em 2021, quase 5 % de todo o venture capital global — um ritmo de adoção exponencial que raramente se vê em finanças tradicionais.
A rapidez desse percurso torna importante investidores compreenderem não apenas a cronologia dos ciclos, mas também as inovações contratuais e as lições de governança que deram forma ao setor.
Do “2 & 20” ao despertar institucional
O venture capital moderno nasceu em 1946, ganhou forma definitiva em 1959 com o modelo “2 & 20” para gestores de investimento (2% de taxa de gestão e 20% de taxa de performance) e cresceu absurdamente nos Estados Unidos após as reformas fiscais e de regras de fundos de pensão no fim dos anos 1970.
Esses precedentes trouxeram três pilares que seriam adaptados depois ao mercado cripto: alinhamento de incentivos, governança ativa e reciclagem de ganhos.
Apesar disso, o Bitcoin passou praticamente despercebido até 2013. Em 2012, todo o ecossistema arrecadou apenas US$ 2 milhões, quantia irrisória perante os US$ 50 bilhões globais de VC daquele ano.
A virada veio com a Série A da Coinbase (NASDAQ:COIN) (US$ 5 milhões) e o investimento na Ripple, ambos em 2013, que mostraram aos gestores que era possível aplicar contratos societários clássicos em empresas cripto-nativas.
Logo depois surgiram os primeiros fundos especializados — Blockchain Capital e Pantera — formatando estruturas híbridas entre hedge fund e VC.
Da era ICO ao inverno regulatório
Em 2017-18, cerca de 800 ICOs (Initial Coin Offerings, espécie de IPO do mercado cripto onde se utilizam criptomoedas para captação ao invés de ações societárias) levantaram US$ 5 bilhões, valor cinco vezes superior ao venture tradicional em cripto no mesmo período.
A venda direta de tokens comprimiu a famosa curva-J: fundos que normalmente aguardavam cinco a sete anos por liquidez passaram a distribuir retornos em poucos meses.
Para capturar essa liquidez sem abandonar a conformidade jurídica, surgiram instrumentos como o SAFT, popularizado pela Filecoin ao arrecadar US$ 257 milhões em 2017. Ao mesmo tempo, órgãos reguladores — em especial a SEC — barraram ofertas públicas de Telegram e Kik, sinalizando que a festa das ICOs tinha data para acabar.
O estresse chegou em 2019-20, filtrando projetos sem fundamentos, mas não eliminando o capital de risco; o setor ainda captou US$ 2,7 bilhões em mais de 600 negócios em 2019, agora sob avaliações mais conservadoras.
Do Topo ao Vale
O bull-market de 2021 bateu recordes: US$ 33,8 bilhões investidos em mais de 2 000 rodadas e mais de 60 unicórnios cripto surgindo do dia para a noite. Mega-rodadas, como os US$ 900 milhões da FTX, atraíram hedge funds crossover, riqueza soberana e gigantes da gestão de ativos.
A exuberância, porém, mascarava fragilidades. A tempestade perfeita de 2022 — inflação global, alta de juros, colapso Terra/Luna e escândalo FTX — derrubou o financiamento em cripto-VC em 68 % em 2023, além de comprimir avaliações e endurecer termos contratuais.
Maturidade e especialização
O setor ressurgiu menos inflado e mais seletivo. Em 2024, dois terços das rodadas ocorreram em estágio Seed ou Série A, demonstrando preferência por convexidade de longo prazo. As teses dominantes incluem tokenização de ativos reais (RWA), blockchains modulares/L2 e a interseção IA-cripto.
Fundos também evoluíram estruturalmente: alguns estenderam mandatos para 12 anos, criaram janelas de liquidez controlada, estreitaram foco setorial e estabeleceram veículos em jurisdições como Singapura ou Suíça para diluir risco regulatório.
Conclusão
O capital de risco cripto é uma extensão legítima e adaptativa do venture capital tradicional. A convergência entre práticas clássicas e inovações cripto-nativas desenha um mercado mais profissional, onde gestores especializados e investidores disciplinados encontrarão assimetria positiva de retorno.
As turbulências de curto prazo são o preço pela oportunidade de capturar tecnologias que estão modificando a infraestrutura financeira global via utilização de criptoativos e, de forma mais imediata, através de tokenização e de stablecoins.