Empresas em crescimento acelerado, como as scale-ups, enfrentam desafios financeiros muito distintos das companhias tradicionais. A necessidade constante de investimentos para expandir operações, desenvolver produtos e contratar talentos pode levar a um descompasso entre faturamento e disponibilidade de caixa. O ditado "cash is king" se aplica perfeitamente a essas empresas: sem uma gestão rigorosa do fluxo de caixa, o risco de dificuldades financeiras é alto. O caixa é o rei do negócio.
Além disso, muitas startups e scale-ups operam inicialmente no negativo, contando com rodadas de investimento para sustentar seu crescimento. A venda de participação societária é uma estratégia comum, mas deve ser feita com cautela, pois pode comprometer a estrutura acionária no longo prazo.
A tendência é geral nos negócios e essa realidade se reflete nas estatísticas. Um estudo do Sebrae mostra que uma parcela significativa das empresas não sobrevive aos primeiros anos de operação: no comércio, por exemplo, 30,2% encerram suas atividades em até cinco anos, enquanto na indústria de transformação esse índice é de 27,3% e no setor de serviços chega a 26,6%. Entre os fatores determinantes para a mortalidade das empresas, a falta de uma gestão financeira eficiente está no topo da lista.
O impacto do cenário econômico
As condições econômicas impactam diretamente a saúde financeira das scale-ups. O dólar alto pode ser um fator positivo para empresas exportadoras, mas prejudica aquelas que dependem de insumos importados. Já a inflação e as altas taxas de juros criam um ambiente desafiador para captação de investimentos.
Quando a taxa Selic está elevada, investidores preferem aplicações de baixo risco e boa rentabilidade, reduzindo o interesse por investimentos em capital de risco. Isso torna mais difícil captar recursos para startups, que já operam em um cenário naturalmente desafiador.
Planejamento financeiro: a chave para a sustentabilidade
Diante desse cenário, a disciplina financeira torna-se ainda mais importante. Um erro recorrente entre scale-ups é a falta de planejamento e controle sobre o fluxo de caixa. Muitas empresas quebram não por falta de demanda, mas pela incapacidade de administrar seus recursos no curto prazo.
Ter um orçamento detalhado e monitorá-lo constantemente é essencial. A empresa precisa saber se suas projeções financeiras estão alinhadas com a realidade e, quando necessário, ajustar rapidamente a rota. Além disso, uma estrutura contábil e tributária organizada permite acessar melhores oportunidades de financiamento e evitar surpresas desagradáveis.
Um caso recente que ilustra os desafios da gestão financeira em negócios de crescimento acelerado é o do Hurb . A empresa, que ganhou destaque no setor de turismo online ao vender pacotes de viagem a preços acessíveis, enfrentou uma crise financeira severa devido a falhas no planejamento de caixa e na capacidade de honrar compromissos com parceiros. O resultado foi uma enxurrada de cancelamentos, reclamações de clientes e perda de credibilidade no mercado. O cenário se agravou a ponto de levar à renúncia do CEO e fundador da empresa e a investigações sobre a viabilidade financeira do negócio.
Esse caso reforça o conceito de que "cash is king": não basta ter um modelo de negócio promissor ou uma base de clientes crescente, se a empresa não tem liquidez suficiente para operar. O segredo para o crescimento sustentável está na gestão eficiente do caixa, no planejamento estratégico e na busca por alternativas de captação de recursos que não comprometam excessivamente a estrutura de capital da empresa.
Alternativas para captação de recursos
Nem sempre a melhor opção para financiar o crescimento é vender participação na empresa. Existem outras formas de captação que podem ser mais vantajosas, dependendo do estágio do negócio. Linhas de crédito subsidiadas, programas de incentivo à inovação e até mesmo fundos de investimento específicos para scale-ups são alternativas que devem ser exploradas.
Além disso, o avanço da tecnologia tem facilitado a gestão financeira. Softwares de contabilidade, plataformas de crowdfunding e integrações automatizadas ajudam a reduzir custos e aumentam a eficiência operacional.
O crescimento acelerado é o objetivo de toda scale-up, mas para que ele seja sustentável, a gestão financeira precisa acompanhar esse ritmo. Empresas bem estruturadas financeiramente, com processos organizados e planejamento estratégico, têm muito mais chances de atrair investidores, acessar linhas de crédito vantajosas e garantir um crescimento saudável a longo prazo.
A chave para o sucesso financeiro de uma scale-up está na disciplina, no controle e na visão estratégica. Empreendedores que dominam esses aspectos não apenas sobrevivem com o crescimento acelerado, mas constroem empresas sólidas e preparadas para o futuro