A Argentina registrou um marco econômico em outubro, quando a inflação anual recuou para 193%, ficando pela primeira vez abaixo de 200% sob o governo de Javier Milei. Esse declínio reflete os efeitos das políticas de austeridade fiscal e disciplina orçamentária, implementadas com vigor desde o início do mandato. Desde dezembro, quando o índice inflacionário alcançou um pico de três décadas de 25,5% ao mês, Milei e sua equipe vêm promovendo cortes profundos nos gastos públicos, com o objetivo de reduzir o déficit e manter um orçamento equilibrado, alinhado com metas de estabilidade.
O governo tem mantido uma abordagem de controle rígido sobre a moeda, limitando a desvalorização do peso em 2% ao mês. Esse "cepo cambiário" contribuiu para diminuir a disparidade entre as taxas de câmbio oficial e paralela, que agora se encontra em 16%, uma das menores dos últimos anos. Além disso, um programa robusto de repatriação trouxe mais de US$ 20 bilhões de volta ao país, o que ajudou a aumentar a liquidez do mercado e estabilizar o câmbio. No entanto, a inflação ainda impacta o custo de vida da população, com aumentos persistentes em setores como habitação, água e energia, bem como em roupas e calçados.
A recuperação econômica, embora promissora, apresenta desafios, especialmente para as classes mais vulneráveis. O consumo de carne bovina, um dos itens essenciais da dieta argentina, atingiu o nível mais baixo em mais de uma década, refletindo a perda de poder de compra da população. O crescimento do salário real, que superou a inflação desde abril, representa uma melhoria gradual, mas os argentinos ainda enfrentam dificuldades em manter seu padrão de vida. A persistência do governo na manutenção de tarifas controladas e aumentos moderados nos preços de serviços essenciais é uma tentativa de aliviar esses efeitos.
Para garantir que esse cenário de recuperação se sustente, o governo Milei busca renegociar as condições de seu acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Espera-se que o apoio dos Estados Unidos, maior acionista do FMI, facilite a obtenção de melhores condições para a dívida de US$ 44 bilhões, que foi contraída em um contexto de recessão e inflação descontrolada. Javier Milei aposta que essa renegociação, aliada à política fiscal rigorosa e à manutenção do controle inflacionário, permitirá uma recuperação mais sustentável e trará alívio ao orçamento público.
O sucesso do plano econômico depende, em grande parte, de avanços nas negociações internacionais e da adesão da população às medidas de austeridade. O governo sinalizou que não pretende eliminar os controles de capital e câmbio imediatamente, mantendo-os enquanto as condições de estabilidade ainda estão em processo de consolidação. Se a inflação continuar sua trajetória de queda, a Argentina poderá vislumbrar uma fase de maior crescimento econômico, com Milei se firmando como um líder que, mesmo enfrentando adversidades, trouxe a inflação para um patamar de controle inédito em anos recentes.