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Como acabar com o mercado de capitais em 2 anos

Publicado 03.01.2025, 13:30

Feliz Ano Novo! Janeiro geralmente chega acompanhado de promessas: emagrecer, entrar na academia, cuidar melhor das finanças e, no âmbito público, melhorar a eficiência dos gastos, trazer mais transparência, reduzir a dívida e…lembrar que Papai Noel não existe. Na prática, entretanto, assim como muitos de nós abandonamos as metas pessoais antes mesmo do Carnaval, na economia vimos promessas que se desvaneceram ao longo do ano.

Um exemplo marcante foi a expectativa em torno do pacote de revisão e corte de gastos anunciado pelo governo, que, ao vir muito abaixo do esperado, não só frustrou o mercado (as pequenas, médias e grandes empresas, empresários individuais e microempresários, entre outros agentes), como também contribuiu para a recente alta do dólar nos últimos meses de 2024.

Em setembro de 2024, publiquei aqui um artigo no qual afirmei que somente os ‘malucos’ decidem empreender no Brasil. Desde então, as condições para quem precisa captar crédito e iniciar uma nova empreitada só se agravaram. Vamos entender mais a fundo os impactos dos juros altos em toda a cadeia produtiva da economia.

A “síndrome do CDI”: especulação x empreendedorismo

A taxa de juros elevada representa, de um lado, uma renda fácil de quem busca retornos imediatos sem grandes riscos (o famoso “negócio de pai para filho”). Do outro, porém, existe um efeito desastroso no estímulo ao empreendedorismo e à formação de capital de longo prazo. Por que abrir um novo negócio ou investir em empresas na bolsa se é possível obter retornos interessantes simplesmente aplicando em títulos públicos ou CDBs?

Essa dinâmica de “rentismo” inibe o apetite ao risco, pilar fundamental do crescimento econômico - “o espírito animal do empresário hoje é de um gatinho”. Empresas emergentes, que dependem de captações de recursos no mercado de capitais, veem suas fontes de financiamento minguarem quando a renda fixa brilha fácil no horizonte. Além disso, o governo precisa pagar cada vez mais para rolar sua própria dívida, agravando o rombo nas contas públicas e mantendo esse ciclo nada saudável.

Como taxas elevadas desorganizam a economia

Quando a taxa básica de juros permanece em patamares muito altos, surgem desdobramentos que emperram o desenvolvimento. Em primeiro lugar, há um atraso significativo nos investimentos produtivos, pois, como já dissemos acima, tanto empresas quanto investidores preferem o “porto seguro” dos títulos públicos a empreendimentos mais arriscados, porém, capazes de gerar inovação e competitividade de longo prazo. Em paralelo, o cenário agrava a dívida pública, pois o Estado, ao emitir títulos para financiar suas despesas, precisa pagar cada vez mais juros, em períodos cada vez mais curtos, realimentando o ciclo de endividamento e inibindo a redução das taxas.

O mercado de capitais é o grande gerador de renda para as empresas em economias maduras: um ambiente vibrante e dinâmico resulta de políticas econômicas responsáveis, diversificadas e voltadas para o estímulo ao empreendedorismo. No Brasil, porém, esse cenário ainda é fraco. Há poucas empresas listadas, quase nenhum IPO ou re-IPO, e os preços das ações permanecem estagnados ou em queda.

Em contraste, somente em 2024 os Estados Unidos tiveram 225 IPOs, enquanto o Brasil não registrou nenhum. Sem uma política econômica moderna - que inclua redução de tributação, incentivos às empresas e comprometimento fiscal - a tendência é persistir nos “voos de galinha” que impedem o pleno desenvolvimento do nosso mercado de capitais.

As promessas de Ano Novo e as promessas para a economia

No início do ano, somos inundados por metas pessoais, como melhorar hábitos de saúde, poupar dinheiro ou estudar algo novo. Os especialistas recomendam que essas metas sejam claras, passíveis de medição e revisadas periodicamente para que não sejam abandonadas logo nos primeiros meses.

Na economia, a lógica não é diferente. Se queremos reduzir os juros, precisamos de um plano bem estruturado de responsabilidade fiscal, que inclua gastos públicos transparentes e eficientes, bem como medidas de corte de despesas e estímulos estruturantes ao crescimento.

Tal qual quem precisa perder peso não pode esperar resultados imediatos, um país endividado não consegue reduzir juros da noite para o dia. É necessário equilíbrio: disciplina para manter as contas em ordem, transparência na gestão dos recursos e foco em políticas que fomentem setores estratégicos.

Somente recorrer a manobras contábeis (como aumentar a meta de inflação) não resolve o problema - e é uma enganação pura. É indispensável construir confiança interna e externa, priorizando reformas e investimentos que tragam solidez a médio e longo prazos.

Negociação difícil

Manter os juros muito altos por um período prolongado equivale a decretar o fim do dinamismo do mercado de capitais. Sim, pode ser bom para quem deseja ganhos imediatos na renda fixa, mas é péssimo para a nação que vê a dívida crescer, os investimentos minguarem e, por consequência, o desenvolvimento a longo prazo ser comprometido.

O grande desafio, porém, envolve não só a vontade de mudar, mas também a negociação com um Legislativo pouco disposto a rever benefícios fiscais a empresas ineficientes (que não geram empregos), com um Executivo que deseja aumentar a arrecadação a todo custo e com um Judiciário que, ao consumir cerca de 1,6% do PIB - sendo um dos mais caros do mundo -, ainda tem baixa eficiência. É como uma pessoa que define metas de mudança de hábitos, mas as abandona no dia 1º de janeiro: sem real comprometimento e capacidade de diálogo, o discurso da melhoria torna-se insustentável.

Por isso, reduzir gradualmente os juros não é apenas uma decisão monetária: é um compromisso que requer esforço coletivo para equilibrar as contas (inclusive dos intocáveis do alto funcionalismo público), estimular a produção e resgatar a confiança no país. Afinal, se mantivermos a Selic estratosférica por mais dois anos, realmente poderemos “acabar com o mercado de capitais” - algo que interessa a poucos e prejudica muitos.

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