Alguns meses atrás, escrevi o artigo: “Por que grande parte das fusões e aquisições destroem valor?” Hoje abordarei o outro lado do assunto, e explicarei como as transações de M&A aumentam a riqueza do acionista.
De forma rápida: fusões e aquisições apenas irão gerar valor se houver um ganho econômico decorrente da transação. Este ganho econômico, por sua vez, só ocorre se ambas companhias valem mais juntas do que separadas.
As fusões podem ser horizontais, verticais ou conglomeradas. Uma fusão horizontal é aquela que ocorre entre duas firmas atuantes na mesma linha de negócios.
Uma fusão vertical envolve empresas de diferentes estágios da mesma cadeia de produção. Dessa forma, o comprador expande suas operações “para trás”, em direção à fonte de matéria-prima, ou “avança” na direção do consumidor final.
Pense por exemplo na cadeia de produção do petróleo. Primeiramente, a matéria-prima tem de ser extraída. Depois, o petróleo tem de ser refinado para ser transportado e, por fim, comercializado. Uma petroleira totalmente verticalizada é aquela que atua nas quatro etapas da cadeia de produção.
Por fim, uma aquisição de conglomerado envolve companhias em linhas de negócios não relacionados. Pense por exemplo no conglomerado de luxo LVMH e suas 75 marcas de prestígio, que vão de vinhos e aguardentes a joias, relógios e até hotéis.
Os itens abaixo são oito possíveis formas de se gerar valor com as sinergias criadas em uma transação de fusão e aquisição, sendo as duas últimas as mais controversas:
- Economias de escala:
Ao atingir economia de escala, custos de serviços centrais podem ser reduzidos por conta do compartilhamento e diluição dos mesmos. Exemplos destes são despesas com contabilidade, administração da sede da empresa, controle financeiro, salários de executivos, gestores e funcionários.
- Economias de integração vertical:
São ganhos de sinergias por conta do controle do processo produtivo. Empresas que querem se verticalizar, normalmente, adquirem seu cliente ou fornecedor. Dessa forma, facilitam a coordenação e administração do modelo de negócios.
- Recursos complementares:
Muitas small caps são adquiridas por empresas maiores que conseguem proporcionar diversos benefícios cruciais para o sucesso da pequena companhia. Como ambas possuem recursos complementares, ou seja, cada uma possui o que a outra precisa, faz sentido realizar uma fusão ou aquisição. Pense por exemplo em uma pequena empresa de biotecnologia que acabou de produzir um medicamento inovador e de alta qualidade. Esta pode ser adquirida, ou integrada, por um grande player que ofereça escala global para a distribuição do medicamento.
- Caixa excedente:
Empresas de setores maduros com uma alta quantidade de caixa e poucas oportunidades de investimentos a altas taxas incrementais de retornos tendem a utilizar fusões e aquisições como forma de encontrar boas oportunidades de investimento e gerar valor ao seu acionista. No entanto, o gestor da empresa deve ser cuidadoso com a alocação do capital, pois, muitas vezes, o melhor a ser feito é distribuir o caixa para os acionistas através de dividendos e recompras de ações, para que esses possam adquirir por conta própria uma taxa de retorno maior do que a atingida com a fusão.
- Eliminar ineficiências:
Existem diversas empresas com uma gestão não profissional e com centenas de oportunidades de melhoria caso fossem bem administradas. Quando adquiridas, a nova gestão tende a cortar custos desnecessários e aumentar as receitas e lucros.
- Consolidação na indústria:
Setores fragmentados possuem muitas empresas com baixo market share entre elas. Neste caso, fusões e aquisições aumentam a capacidade de expansão e aumento das vendas e lucros das empresas, gerando consolidação na indústria. Um exemplo é o setor bancário americano que, diferentemente do nosso, é muito mais competitivo e fragmentado. Durante a crise financeira, os grandes players se aproveitaram dos pequenos que estavam falindo para adquiri-los de forma barata e se tornarem mais fortes.
- Diversificação:
Este é uma razão mais polêmica. Alguns acreditam que a diversificação pode ser um driver de valor para transações M&A. Outros acreditam que não pode ser. Os que acreditam afirmam que a diversificação reduz o risco da empresa. Os que não acreditam dizem que os próprios investidores podem diversificar seu portfólio comprando suas próprias ações por um custo muito menor e de uma forma muito mais fácil.
- Custos de financiamento mais baixos:
Este também é polêmico. Uma empresa incorporada consegue captar dívidas mais baratas do que suas unidades separadas conseguiriam. No entanto, estudos mostram que fusões e aquisições com apenas esse propósito não geram valor.
Sendo assim, agora você conhece os dois lados da moeda: como as fusões e aquisições geram e destroem valor para as empresas. Quando a companhia em que você investe estiver em uma situação como essa, você estará mais preparado do que grande parte das pessoas para avaliar a situação e tomar a decisão mais racional possível.