Calendário Econômico: Temporada de Balanços, inflação nos EUA com tarifas de Trump
Investing.com - O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou nesta quarta-feira (18) a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, de 14,75% para 15%. A alta correspondeu a maior parte das apostas dos investidores em opções de Copom negociadas na B3, mas veio acima da mediana das estimativas dos economistas compiladas pelo Investing.com. A próxima reunião do colegiado será nos dias 29 e 30 de julho.
O comunicado informa que o Copom fará uma interrupção no ciclo de alta de juros, afirmando que vai "examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados". Agora, o Copom se colocou no papel vigilante, ou seja, se o atual patamar de juros deve levar a inflação ao consumidor para a meta de 3% ao ano. Por isso, o colegiado prescreve a manutenção da taxa Selic em 15% ao ano por "período bastante prolongado".
E o Copom deixou a porta aberta para novas altas, caso julgue necessário. "O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado", diz o documento.
O que diz o comunicado do Copom
O primeiro parágrafo foi reduzido, citando a incerteza econômica devido à política comercial dos EUA e seus efeitos. No documento atual, foi introduzido pela primeira vez as incertezas advindas da política fiscal americana. Foram suprimidos no comunicado atual os detalhes a respeito dos desdobramentos das tarifas de Trump sobre a inflação e a atividade econômica em diferentes países.
O segundo parágrafo foi dedicado ao cenário interno. O Copom continua avaliando que os "indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho ainda tem apresentado algum dinamismo". Porém, agora reconhece que há uma "certa moderação" no crescimento, deixando de ser classificada como "incipiente". Continua o prognóstico de inflação cheia e de medidas subjacentes acima da meta para a inflação.
No terceiro parágrafo, tanto o Boletim Focus como o cenário de referência do Copom mantiveram a projeção do IPCA para 2026. Enquanto os economistas consultados pelo Banco Central estimam o IPCA em 4,5% no fim do ano, o Copom projeta em 3,6%. A diferença no cenário de referência ficou na projeção da taxa de câmbio, que estava em R$ 5,70 por dólar na reunião anterior, agora indo para R$ 5,60 no comunicado atual.
Já o balanço de risco foi mantido, sob o prognóstico de "riscos para a inflação, tanto de alta quanto de baixa, seguem mais elevados do que o usual". Os três fatores de alta e os três de baixa foram mantidos em relação ao encontro de maio (veja mais abaixo no comunicado).
O parágrafo seguinte foi a respeito do prognóstico da política monetária a ser adotada, mantendo o trecho final "Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado". A diferença foi a retirada dos impactos da conjuntura externa no preço dos ativos e nas expectativas dos agentes, citando a evolução da política fiscal sobre a política monetária. "O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho", diz o Copom no meio deste parágrafo.
Após o parágrafo que anuncia a alta da Selic, o Copom encerra abordando o fim do ciclo de alta e prescrevendo a sua manutenção no atual patamar em 15% ao ano por um período bastante prolongado.
O que dizem os economistas
"A expectativa é de que o mercado reaja com ajustes moderados: queda leve nos juros futuros, real um pouco mais forte e movimentações pontuais na Bolsa", projeta Marcio Saito, CFO da Entrepay, sobre a abertura de mercado na sexta-feira (20), após o feriado de amanhã.
"Os membros do Copom quiseram reforçar a mensagem de que não pretendem começar a cortar a taxa de juros nos próximos meses, com o intuito de tentar evitar que o mercado precifique um início prematuro de um ciclo de afrouxamento monetário", avalia Luis Cezario, economista-chefe da Asset 1, que considera improvável que haja o início de corte de juros pelo colegiado neste ano. "Caso o processo de desinflação se mostre mais lento que o esperado, novas altas não estão descartadas", projeta Ariane Benedito, economista-chefe do PicPay.
"A subida foi um tom bastante positivo, não falam de um encerramento de ciclo, mas de fato é", diz Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital. "A decisão mostra que eles estão comprometidos em fazer a inflação convergir e tenhamos uma leitura bastante positiva em relação às curvas de juros", completa Bolzan.
"É um comunicado duro, um Copom bastante "hawk", preocupado com o controle da inflação e agindo para que a inflação convirja para a meta", avalia Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master. "Seguiremos com esse juro em 15% por um bom tempo, entrando no ano que vem, senão até o meio do ano que vem", projeta Gala.
Confira abaixo o comunicado da decisão na íntegra:
O ambiente externo mantém-se adverso e particularmente incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, principalmente acerca de suas políticas comercial e fiscal e de seus respectivos efeitos. Além disso, o comportamento e a volatilidade de diferentes classes de ativos também têm sido afetados, com reflexos nas condições financeiras globais. Tal cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes em ambiente de acirramento da tensão geopolítica.
Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho ainda tem apresentado algum dinamismo, mas observa-se certa moderação no crescimento. Nas divulgações mais recentes, a inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação.
As expectativas de inflação para 2025 e 2026 apuradas pela pesquisa Focus permanecem em valores acima da meta, situando-se em 5,2% e 4,5%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para o ano de 2026, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 3,6% no cenário de referência (Tabela 1).
Os riscos para a inflação, tanto de alta quanto de baixa, seguem mais elevados do que o usual. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo; e (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma eventual desaceleração da atividade econômica doméstica mais acentuada do que a projetada, tendo impactos sobre o cenário de inflação; (ii) uma desaceleração global mais pronunciada decorrente do choque de comércio e de um cenário de maior incerteza; e (iii) uma redução nos preços das commodities com efeitos desinflacionários.
O Comitê segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho. Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado.
O Copom decidiu elevar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 15,00% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
Em se confirmando o cenário esperado, o Comitê antecipa uma interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados, e então avaliar se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta. O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Gabriel Muricca Galípolo (presidente), Ailton de Aquino Santos, Diogo Abry Guillen, Gilneu Francisco Astolfi Vivan, Izabela Moreira Correa, Nilton José Schneider David, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.