O mercado futuro de açúcar em NY fechou a semana encurtada pelo feriado de Páscoa com o vencimento maio/2014 cotado a 16.66 centavos de dólar por libra-peso desvalorizando-se 14 pontos em relação ao fechamento da semana anterior. Uma queda de apenas 3 dólares por tonelada. Os vencimentos seguintes, julho e outubro de 2014, também fecharam com quedas menores, entre um e três dólares por tonelada, enquanto os demais meses fecharam com pequena variação positiva.
A semana teve altos e baixos. O vencimento maio/2014 chegou a negociar a 16.50 centavos de dólar por libra-peso e no pregão seguinte valorizou 74 pontos (mais de 16 dólares por tonelada). O spread maio/julho, como abordado aqui na semana passada, negociou com desconto equivalente a um custo e carrego de mais de 25% ao ano. Um experimentado trader do mercado contestou o valor apresentado aqui argumentando que não se poderia receber o açúcar de maio e reentregá-lo no vencimento seguinte porque o açúcar teria que ser embarcado no limite em 15 de julho e portanto não poderia ser reentregue (no limite) em 15 de setembro. Mas vale aqui a questão da substituição, ou seja, não precisa entregar o mesmo açúcar mas qualquer açúcar que esteja nos livros da trading. E aqui se sobressai um outro ponto: e se a trading não tiver nenhuma posição? O argumento é válido, sem dúvida. Mas não se perde para quem está na ponta do consumidor industrial, por exemplo. Não comprar agora significa sim pagar o equivalente a 25% ao ano a mais para o vencimento seguinte.
O mercado de exportação de açúcar continua devagar mas os descontos para embarque imediato estavam em torno de 5 pontos, segundo um corretor de físico de São Paulo. Já o mercado de etanol continua aquecido, o que deve fazer com que os preços não recuem de modo acentuado nesse início de safra. Como dissemos aqui nas últimas semanas, o consumo de combustível está crescendo no país em ritmo acelerado. O consumo de hidratado no acumulado de doze meses encerrado em fevereiro/2014 foi de 11.1 bilhões de litros, 14.29% acima do mesmo período no ano passado quando atingiu 9.7 bilhões de litros. O anidro foi ainda maior: 28% de crescimento comparando 10.1 bilhões acumulados em fevereiro/2014 e 7.9 bilhões no mesmo período do ano passado. No geral, o consumo de combustíveis cresceu 7.47% no ano.
Quem assistiu ao depoimento da presidente da Petrobrás na audiência pública do Senado Federal sobre a vergonhosa compra da refinaria de Pasadena, ouviu uma pérola da executiva da estatal: aumento de preço da gasolina é prerrogativa da diretoria da Petrobrás. A empresa importa gasolina a um preço muito mais alto do que revende às distribuidoras, sangrando paulatinamente o caixa da empresa e vem com essa história pra boi dormir que é a diretoria quem decide o preço. Se tiver que quebrar a Petrobrás para eleger Dilma, o PT fará. Se tiver que quebrar o Brasil para eleger Dilma, o PT fará.
Pior ainda foi ouvir a presidente da Petrobrás afirmar que se o setor sucroalcooleiro está nessa situação de crise devido à falta de investimentos. Distorce-se a verdade com a cara de pau habitual. É o setor sucroalcooleiro, este sim, vítima da política de preços estapafúrdia da Petrobrás. Pelo modelo da Archer Consulting, tomando como base o fechamento do petróleo WTI em US$ 103.37 o barril, a gasolina deveria custar hoje na bomba R$ 3.31 por litro, implicando que o etanol teria competitividade em 2.3170 reais por litro. A política do governo inflige ao setor subsidiar a gasolina e jogar o ônus do aumento de preço do etanol em cima dos usineiros. É só ver nos sites de notícias os comentários dos leitores reclamando que os usineiros subiram o preço do etanol. O consumidor não entende que não é o etanol que está caro, mas a gasolina que é subsidiada. Uma campanha de esclarecimento seria necessária para informar o consumidor corretamente e assim, pressionar o governo.
Finalmente uma notícia boa para o setor sucroalcooleiro. Roberto Rodrigues, um dos mais admirados representantes do agronegócio brasileiro, assumirá a presidência do Conselho da UNICA, posição deixada por Pedro Parente, presidente da Bunge no Brasil, que deixará a multinacional até o meio do ano. Roberto Rodrigues deve preencher esse enorme vazio de liderança e representatividade que o setor carece nos últimos anos.
Casa de ferreiro, espeto de pau. Seria cômico se não fosse trágico. Imaginem, caros leitores, que a ICE, a Inter Continental Exchange, bolsa na qual o contrato de açúcar bruto em NY é negociado, reconheceu em seu balanço do ano de 2013 uma perda de US$ 190 milhões devido à desvalorização do real que afetou a participação acionária de 12% que ela possui na CETIP (empresa brasileira listada na Bovespa, depositária de títulos e valores mobiliários). A empresa se justifica da perda milionária informando que o investimento feito na CETIP foi feito em reais. A curiosidade nessa história é que a ICE, ela própria, tem entre seus produtos financeiros oferecidos ao mercado para hedge, o real. E mesmo se não tivesse teria instrumentos para mitigar ou eliminar esse risco. Inacreditável.
O mundo perdeu um dos maiores escritores de todos os tempos, o colombiano Gabriel Garcia Marquez. Ao ver uma entrevista sua, há alguns anos, não pude deixar de me surpreender quando ele deixou escapar que nos tempos em que escrevia Cem Anos de Solidão e O Amor Nos Tempos do Cólera ele deixava tocar na vitrola os LPs A Hard Days Night e Help! Dos Beatles. Vai fazer muita falta. R.I.P.