Alguns gestores/analistas levantaram a questão de que os investimentos em ativos de renda fixa prefixados podem não ter o mesmo desempenho de ciclos anteriores de queda da Selic. Na verdade, no início do ciclo, o “trade” correto parecia ser aplicar no pré, comprar dólar e bolsa.
Apesar da inflação dar sinais claros de arrefecimento, a grande diferença do atual ciclo está na trajetória esperada da dívida interna quando a regra fiscal é frágil. Uma boa parte dos economistas já prevê piora das contas públicas e existem limites ao endividamento do governo.
De fato, a desinflação domestica parece encaminhada e as expectativas de curto prazo são contaminadas pelo componente “autorregressivo” das estimações. No entanto, para prazos mais longos o que impera é a consistência fiscal.
O aumento da volatilidade da curva de títulos da dívida dos Estados Unidos teve impacto grande nas oscilações de curto prazo de toda a curva de juros brasileira. No entanto, não se pode culpar apenas o ambiente externo pelo desempenho abaixo do esperado da renda fixa.
A percepção é de que o governo tenta um “jogo ponzi honesto”(1) impulsionando o crescimento de curto prazo com gastos e corte de juros, ao mesmo tempo que sinaliza maior responsabilidade nos anos seguintes (sempre via aumento de impostos). Isso parece ter dado errado.
No entanto, o tesouro tem instrumentos para “ganhar tempo” apostando que um cenário externo mais benigno nos próximos meses. Isso deve ajudar até o primeiro trimestre de 2024.