Ibovespa fecha em queda com ajustes após máximas, mas volume reduzido
Desde que o segundo mandato de Donald Trump se iniciou, os Estados Unidos vêm dobrando a aposta em uma política tarifária agressiva. Sobretaxas de até 145% sobre produtos chineses e 50% sobre exportações brasileiras são justificadas, pelo governo americano, como medidas de proteção à indústria nacional. Mas, como diria aquela velha canção do The Clash, “Should I stay or should I go?”, a economia americana parece estar presa entre a retórica protecionista e os efeitos colaterais que ela mesma criou, não sabendo se deve ficar ou ir.
Mais de 240 mil pequenas empresas que dependem de importações já acumulam prejuízos médios de US$ 90 mil entre abril e julho. A projeção da Câmara de Comércio dos Estados Unidos, para o fim do ano, é ainda mais sombria: até US$ 856 mil por negócio. O faturamento médio caiu 13% em junho, e os investimentos privados recuaram 13,8% no segundo trimestre. A confiança empresarial está em queda livre, e a criação de empregos desacelera — ironicamente, o oposto do que se prometia.
Enquanto isso, o déficit comercial, que deveria ser combatido, aumentou 22,1% em julho, segundo o Departamento de Comércio do governo dos EUA. A substituição de fornecedores chineses por alternativas no México e Vietnã não trouxe ganhos industriais domésticos. A importação caiu, mas a produção interna não acompanhou. O resultado? Um buraco maior na balança comercial e uma cadeia produtiva desorganizada.
No bolso do consumidor, o impacto é direto. Automóveis estão 14% mais caros, os juros de financiamento subiram de 6,6% para 7% ao ano, e até a carne moída — item básico — encareceu 12,8%. Brinquedos, afetados pelas tarifas sobre a China, já estão 3,7% mais caros. O protecionismo, longe de ser um escudo, virou um catalisador da inflação silenciosa de maneira perigosa.
O governo norte-americano apresentou uma arrecadação de US$ 65 bilhões com tarifas entre abril e junho, mas o plano fiscal de Trump custa US$ 590 bilhões por ano. Ou seja, o tarifaço cobre menos de 11% do buraco. A dívida pública continua a crescer, e o dólar perdeu quase 10% de valor frente a uma cesta de moedas estrangeiras. Aparentemente, a conta não fecha — nem politicamente, nem economicamente.
E há ainda o risco jurídico. Um tribunal federal determinou que Trump violou a Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional (IEEPA) ao impor tarifas generalizadas. Se a Suprema Corte mantiver essa decisão, o Tesouro americano poderá ser obrigado a devolver até US$ 200 bilhões às empresas afetadas. Seria um novo buraco fiscal à vista, com potencial inflacionário ainda maior?
No cenário internacional, a resposta foi previsível: retaliações, reclamações e busca por novos mercados. China, Brasil e União Europeia já reagiram, e o comércio global começa a sentir os efeitos de uma espiral protecionista. A interdependência econômica torna impossível isolar os danos. Cadeias produtivas são desorganizadas, investimentos são adiados e o crescimento global desacelera.
No fim das contas, o protecionismo americano parece mais uma tentativa de dançar com a própria sombra. A política tarifária, vendida como solução estratégica, está se revelando um catalisador de instabilidade. E como diria outra música, desta vez do Pink Floyd, “Is there anybody out there?”, será que tem alguém lá fora? O risco é que talvez a resposta esteja nas empresas que fecham, nos consumidores que pagam mais e nos investidores que esperam por um sinal de racionalidade econômica, que está demorando a aparecer.