Em nossa abordagem ao final de abril preconizamos que o mês de maio teria tendências mutantes, incertezas crescentes e, impactos no câmbio. E tudo indica que este quadro será confirmado.
O Brasil deixou para trás um quadrimestre atípico e assimétrico com a sua realidade, e que lhe proporcionou um enganoso alivio em relação ao setor externo.
Nossa previsão para o 1º trimestre do ano era de fluxo cambial amplamente negativo para o Brasil, com efeitos diretos de pressão sobre a formação do preço da moeda americana, agravando o quadro negativo já advindo do ano de 2013 e acentuando-se face à existência de considerável montante de compromissos do setor privado em aberto (empréstimos de curto e longo prazos, empréstimos “intercompanies” e passivo de comércio exterior), baixa atratividade do país para esperar-se efetivos IED´s crescentes, déficit em transações correntes mantendo-se elevado, inflação persistente e resistente, crescimento pífio culminando com baixa atratividade para a BOVESPA, etc..
Ainda para reafirmar esta projeção tivemos a ocorrência do rebaixamento da nota de crédito soberana do país pela Standard & Poor´s, um fato relevante e desgastante.
Mas, por motivos fortuitos decorrentes do comportamento da economia americana que não reagiu tão intensamente quanto esperado, fortemente afetada por razões climáticas, houve um intervalo sobre a pressão da expectativa da mudança da politica monetária americana de forma mais ampla, visto que foi colocado em prática o programa de redução dos volumes do QE, e assim, coincidindo com a elevação do juro no Brasil e a debilidade dos preços das ações na Bovespa, houve oportunidade para que os investidores especuladores forjassem estrategicamente recursos a partir de operações de “carry trade” e os direcionassem ao Brasil de forma intensa para a Bovespa e para a renda fixa com juro elevado.
Isto foi pontual.
A Bovespa, também influenciada por pesquisas eleitorais, ao ter o impacto de recursos especulativos registrou substantiva valorização, com destaque para altas de ações de empresas direta ou indiretamente administradas pelo governo e puxando outros papéis.
E, houve também, relevante montante de recursos direcionados para renda fixa, etc...
Porém, aquele movimento fortuito que retardou impactos relevantes no fluxo cambial e, por conseguinte, na formação do preço da moeda americana, do qual se valeu também o BC para apreciar ainda mais o real mantendo excessiva oferta de “swaps cambiais” novos e rolagens de montantes vincendos, perde força, tende a reversão, e o BC também denota ter a percepção de que está em andamento uma mudança de demanda maior no mercado à vista, devido ao movimento de saída de recursos no país, e menor, como consequência, de “hedge”, o que naturalmente reduz a capacidade do mercado em absorver a oferta de “swaps cambiais”.
Há inúmeros fatores que induzem à saída de recursos do país. Primeiro por serem recursos especulativos, normalmente de curta permanência no contexto atual em que observam as atitudes do FED em relação às tendências de mudança da politica monetária. Segundo porque os lucros alcançados na BOVESPA sugerem a realização imediata e saída do país ainda com uma taxa cambial favorável a uma conversão vantajosa. Terceiro, por estarem aumentando as incertezas no país decorrentes de fatores macroeconômicos que não conseguem ser revertidos e, também, no campo politico em que se vislumbra acirramento maior na disputa eleitoral, e que sugere realização dos ganhos e saída dos recursos do país, até porque muito proximamente as férias no hemisfério norte adicionalmente motivarão a redução das posições expostas, em especial as especulativas. Incertezas sempre são indutores de recuo dos investimentos especulativos.
Acreditamos que este será um movimento gradual durante o mês de maio que determinará a apreciação do preço da moeda americana no nosso mercado à vista.
O próprio Boletim FOCUS de 2 de maio, divulgado hoje pelo BC, mantém conservadoramente algumas medianas como IPCA em 6,50% (teto da meta), SELIC em 11,25% e ainda o dólar em R$ 2,45, embora analistas do sistema financeiro frequentemente expressem isoladamente projeções maiores. Contudo, nos indicadores cruciais como PIB, reduz de 1,40% para 1,21%, o que denota a baixa atratividade do país para IED´s, e sinaliza agravamento do setor externo com elevação do déficit em transações correntes de US$ 77,10 Bi para US$ 78,60 Bi, e esta deve ser uma projeção que ainda vai ser elevada. A balança comercial tem projeção em torno de US$ 3,0 Bi, mas potencialmente acreditamos que possa ser negativa, enquanto continua mantendo inalterada a projeção para os IED´s em US$ 60,0 Bi, que acreditamos possa ficar abaixo deste valor.
Na realidade, as projeções são conservadoras nos indicadores de natureza interna, praticamente em estado de observação, e acentuam a percepção de piora nos indicadores que envolvem o setor externo.
Com a mudança do contexto o preço da moeda americana tende a apreciação por inevitável, porém é absolutamente necessário que isto ocorra para evitar mudanças abruptas ao longo do ano de forma a anular eventuais benefícios que o governo tenha conquistado mantendo o real excessivamente apreciado no 1º quadrimestre.
Continuamos considerando que o governo objetiva atenuar as pressões inflacionárias presentes sobre o IPCA, em especial oriundas do item alimentos, para num movimento pendular permitir que o preço da moeda americana seja apreciado, mas este nos parece um desafio muito grande neste momento, já que um ambiente de fluxo cambial negativo dificulta sobremaneira este propósito.
Nossa projeção para o preço da moeda americana ao final do ano permanece em R$ 2,60, pois consideramos que teremos no último trimestre do ano forte pressão de demanda no mercado à vista, em consequência das incertezas em torno das eleições e, também, das perspectivas de mudança da política monetária americana.