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Debandada no Ministério da Economia

Publicado 28.04.2021, 08:26

Dois fatos marcaram esta terça-feira (dia 27). Um foi o início dos trabalhos da CPI da Covid, com Renan Calheiros confirmado como relator, contra a vontade do governo, e a definição de um cronograma pesado de audiências; outro, a debandada da equipe econômica, enfraquecendo cada vez mais o ministro da Economia, Paulo Guedes. Ao que parece, agora sim, ele pode estar de saída.

A reforçar isso, a “sanha” por fatias de poder do Centrão, querendo o desmembramento do super ministério da Economia, e criando o Planejamento, o Desenvolvimento e Comércio Exterior ou o Trabalho. É um festival de aparelhamentos da máquina pública e “politização” de cargos estratégicos de um governo, já muito enfraquecido.

O fato é que o “poder” do ministro Paulo Guedes está se “esfarelando”. Ontem, numa só tacada, saíram cinco quadros-chaves da sua equipe, operadores da política econômica do governo. Saiu o “número dois” do ministério, o “linha dura” Waldery Rodrigues da Secretaria de Política Econômica, considerado um dos mais duros no episódio das discussões do Orçamento com o Centrão; depois, saíram a assessora para a Reforma Tributária, Vanessa Canado, o secretário de Orçamento, George Soares, o do Comércio Exterior, Yana Dumaresq, e a secretaria de PPI, Martha Seiller.

Se isso não é uma debandada da equipe do ministro não sei mais o que é. Creio que ele deve estar comunicando sua saída por estes dias. Já disse, inclusive, que não aceitará este desmembramento do ministério da Economia.

Pela história dos governos, a área econômica nunca pode ser objeto de barganha política do Executivo com o Legislativo. O problema é que neste governo foi concentrado poder demais nas mãos de Paulo Guedes e os “políticos” (no caso, o Centrão) não se acostumaram com isso.

Nas negociações do Orçamento, por exemplo, muitas foram as queixas nesta interação equipe econômica com o Centrão, o primeiro mantendo uma “mão de ferro”, sob a liderança de Waldery Rodrigues. Por isso, sua saída. A solução do Orçamento, meio frouxa, meia bomba, não agradou ao secretário. O presidente Bolsonaro, inclusive, chegou a pedir sua cabeça, lhe deu “cartão vermelho”.

É até boato que o indicado para assumir o suposto Ministério do Planejamento seria o ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre, a um ano de terminar seu mandato. Este, no entanto, parece não se entusiasmar, por estar muito focado, muito preocupado com a sua reeleição.

Além do mais, não me parece que o desfecho destes movimentos da Economia seja o fortalecimento do ministro Guedes. Não me parece também razoável o “açodamento” de muitos articulistas da nossa “prensa” sobre o ministro e o que ele anda dizendo. Claro que ele, muitas vezes, erra no tom e na intensidade, mas isso não é exclusividade. Bolsonaro se farta na arte de falar bobagens, soltar frases fora do contexto e do lugar.

Continuamos achando que o saldo do ministro Guedes, na governabilidade da política econômica, é meritório ainda, só não sendo melhor, por pressões ou “ventos contrários” da seara política. E isso é fato diante das movimentações absolutamente desastradas do presidente, seja no trato da pandemia, seja em qualquer outro tema.

É um desastre a comunicação do presidente, e do governo, com a sociedade. No caso da pandemia, por exemplo, o seu papel seria passar tranquilidade, defender e pregar, sempre, o uso de máscaras, álcool gel, isolamento ou até quarentena. O que um presidente diz tem uma tremenda repercussão na sociedade.

E o que acontece? Ele vai na contramão da boa governabilidade, falando tudo ao contrário, contra o isolamento, estimulando as aglomerações, não usando máscaras, ignorando todo um protocolo usado pelo mundo, por causa da pandemia. Para ele, algo típico do populismo, “não existe ciência, só narrativa, só voluntarismo”.

Diante deste quadro, técnicos no mundo já começam a vislumbrar que o Brasil pode chegar a 600 mil mortos até agosto deste ano. E aí seremos sim o epicentro da crise, superando os EUA.

Por isso, a inevitabilidade da CPI da Covid. E os ventos não sopram favoráveis ao governo.

Ontem, terça-feira (dia 27), o senador por Alagoas do MDB, Renan Calheiros, foi nomeado para a relatoria da Comissão. Na montagem das audiências, o primeiro convocado será o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta já na semana que vem.

Será, aliás, um cronograma pesado de denúncias contra o governo, com este chegando, se chegar, ao fim, bem desgastado. Me parece bem a velha estratégia do PT de querer ver o presidente sangrando até o fim, até 2022. E isso, em grande parte, culpa da sua total incapacidade de administrar pressões contrárias.

A ideia é mostrar que o ministério da Saúde recusou diversas ofertas de vacinas, que poderiam ter antecipado o início das vacinações, já em dezembro, evitando tantas mortes. Aliás, já estamos com mais mortes, até abril, do que em todo o ano de 2020 (195,9 mil neste ano, contra 195,4 mil no ano passado, até dezembro).

Em paralelo, o ex-ministro Pazuello será o alvo principal desta CPI, em linha com o que dizia o secretario de Comunicação Social do governo, Fábio Wajngarten, de que ele não conhecia a área que estava ingressando e trouxe uma equipe totalmente despreparada para o ministério.

Sobre a agenda de reformas, o presidente do Congresso, Arthur Lira, já colocou a reforma Tributária como prioritária.

Deve começar em ampla discussão, no dia 5 de maio. Nela, as previsões indicam a criação do IVA, a substituir uma série de impostos na produção e consumo, e da CBC, a Contribuição sobre Bens, a substituir o PIS/Cofins. O debate em torno de impostos sobre movimentação financeira continua na pauta. Um que deve sair, para já, é o da taxação sobre dividendos.

Falando da pandemia, ontem (dia 27) foram 1.316 óbitos em 24 horas, 390.925 mil no acumulado, 67.723 em abril, mais um mês de recorde, superando março (60.868). Na média dos últimos sete dias foram 2.498, 20% menor do que no período anterior, e 32 mil novos casos. Também tivemos o recorde diário de doses de vacinação (1,59 milhões), média móvel em 904 mil, 14,35% da população com a primeira dose, das quais 46,1% (ou 6.6%) já receberam a segunda. Não deixa de ser um alento.

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