Ao contrário dos meses anteriores, em que a calma e a estabilidade predominaram, o cenário econômico mundial foi marcado por uma boa dose de tensão no mês de março. E o protagonista foi o Chipre, um país minúsculo, desconhecido por muitos e com uma economia que representa apenas de 0,2% do PIB da zona do Euro.
Entretanto, mais do que o próprio tamanho, o que preocupou investidores e economistas foi a forma como o resgate ao país foi negociado, impondo confisco de recursos a todos os correntistas e, especialmente, a possível abertura de precedentes para que isto ocorra em outras economias que necessitem de resgate. Mais do que o próprio confisco, o temor principal seria com uma corrida aos bancos, acarretando problemas de liquidez no já combalido mercado europeu.
Ainda falando de notícias ‘além das fronteiras’, temos China e Japão com novos governos e fortemente voltados a suas políticas monetárias. Entretanto enquanto a China adota uma postura mais neutra, visando controlar o risco de inflação, o Japão faz exatamente o contrário, provocando um afrouxamento para combater a deflação e estimular a economia. Enquanto isso, os EUA seguem surpreendendo com uma retomada de crescimento acima das expectativas.
Mas, apesar de tudo, a própria economia brasileira continua regendo os mercados por aqui. Ao que parece, o governo acordou para a necessidade da ampliação do investimento e resolveu, literalmente, sair à rua para reconquistar a confiança dos investidores.
O governo demonstra que está em uma verdadeira força tarefa para atrair capital, o que realmente não é tarefa fácil já que as relações estão extremamente abaladas em razão da condução da economia e do excessivo intervencionismo do governo na iniciativa privada. Como costuma se ouvir na Administração, é muito mais difícil reconquistar do que conquistar um cliente.
Mas, na prática, o que se vê é a total falta de sinergia nos discursos do próprio governo. Por um lado o Banco Central, que se esforça para convencer de que é necessário aumentar a Selic adota o discurso de que a prioridade é combater a inflação em vez de estimular o crescimento, por outro a própria presidente diz que “não concorda com políticas de combate à inflação que olhem a questão da redução do crescimento econômico”.
Como se não bastasse, o ministro Mantega, já totalmente desacreditado pelo mercado, insiste em tratar o fraco desempenho da economia como uma questão pontual e fruto da crise mundial e que, portanto, deva ser tratada com juros baixos, aumento de crédito e política fiscal mais frouxa.
E, como se sabe, a incerteza é o pior aliado dos investimentos. Essa falta de consistência nos discursos esta fazendo um verdadeiro estrago nas expectativas de juro futuro, o que faz aumentar a volatilidade dos mercados e dificultar o ganho dos investidores. Conforme cita Luís Stuhlberger, gestor do famoso fundo Verde “o gestor de patrimônio não tem de ser otimista ou pessimista”, só que para conseguir rentabilidade é importante ter convicção em relação ao cenário, o que não vemos no momento.
Uma boa novidade em relação aos investimentos foi a redução dos aportes iniciais de grande parte dos fundos de varejo do país. Desta forma busca-se atrair investidores acostumados com investimentos tradicionais, como a caderneta de poupança, que atualmente proporciona rendimentos inferiores a própria inflação.
Por fim, nos resta acompanhar de perto para estarmos preparados, seja para a bonança ou para a enchente.
Alexandre Amorim é Analista de Investimentos CNPI, Consultor de Valores Mobiliários credenciado pela CVM e sócio da Par Mais Planejamento Financeiro.