Já passou bastante tempo desde a época em que as ações da Disney (NYSE:DIS) eram consideradas um bom investimento.
Nos últimos anos, os papéis da gigante do entretenimento têm ficado aquém dos resultados do S&P 500, ainda que a diferença seja mínima. Incluindo dividendos, a ação entregou um retorno de apenas 21% nos últimos cinco anos ou cerca de 4% anualizados.
A explicação simples para essa fraqueza relativa reside em duas áreas: streaming e parques de diversão.
A Disney (SA:DISB34)chegou atrasada ao mercado de streaming. A empresa permitiu que a Netflix (SA:NFLX34)(NASDAQ:NFLX) tivesse uma participação dominante no mercado. Somente em novembro de 2019 é que a empresa finalmente lançou o Disney+.
Os parques de diversão, enquanto isso, foram extremamente prejudicados pelas restrições impostas pela pandemia do coronavírus e só recentemente os negócios voltaram a se firmar.
Além disso, os investidores – principalmente os otimistas com as ações da Disney – geralmente ignoram outro importante problema: o império de mídia da empresa. O crescimento estagnado desse segmento tem pesado sobre o preço do papel há anos. Existe uma forte possibilidade de que a pressão continue no futuro.
A importância da televisão para as ações da Disney
O império televisivo da Disney é muito grande. Nos EUA, a empresa controla os canais Freeform, FX, National Geographic (com participação de 73%), A+E (com participação de 50%) e ABC. No exterior, a companhia opera Disney, Fox, National Geographic e Star.
Mas a rede mais importante internacionalmente é o canal esportivo ESPN. Sobretudo nos EUA, a rede esportiva tinha um dos melhores modelos de negócio de qualquer mercado, não apenas em mídia. As taxas de afiliados, pagas por distribuidores para ter o direito de transmitir uma rede – para a ESPN e ESPN2 – totalizaram quase US$9 por mês para cada assinante em 2020.
Estamos falando de mais de US$100 por ano, independente de o assinante assistir ou não a rede. Cabe ressaltar ainda que ambas as redes geram bastante receita com publicidade.
Com isso, a ESPN é de longe a joia da coroa dos negócios de mídia da Disney. E seus negócios são absolutamente fundamentais para a rentabilidade da companhia. No ano fiscal de 2021, de acordo com o formulário 10-K, registrado junto à SEC, comissão de valores mobiliários dos EUA, o grupo Linear Networks (rede de televisão da Disney) gerou US$8,4 bilhões de lucro operacional. O streaming teve prejuízo de US$1,68 bilhão; parques, experiências e produtos geraram menos de US$500 milhões.
Obviamente, a estratégia de streaming e a pandemia (que também atingiu os negócios dos estúdios da Disney) estão pressionando os resultados das outras unidades. Mas, até mesmo no ano fiscal de 2019, o segmento Cable Networks (cujo balanço a Disney reestruturou no ano passado) respondeu por mais de 36% do total do lucro operacional do segmento. A ESPN, sem dúvida, foi responsável pela maior parcela desse lucro.
O problema da ESPN
O problema é que esses lucros vão cair. No ano fiscal de 2021, a receita com a taxa de afiliados da Disney como um todo ficou estável ano a ano. O número caiu 1% ano a ano no primeiro trimestre deste ano fiscal.
Mesmo assim, os custos da ESPN estão subindo, razão pela qual a receita operacional do segmento Linear Networks recuou 11% no ano passado e mais 13% no 1º tri.
É difícil ver como esses problemas serão corrigidos. A tendência de “corte de custos” é uma clara ameaça para a ESPN. De fato, as taxas de afiliados que a rede exige são parte da razão pela qual as taxas de cabo e satélite dispararam com o tempo. A Disney lançou o ESPN+ para aumentar a receita com um serviço direto ao consumidor, mas as taxas pelo serviço são menores do que as taxas de afiliados gerada por distribuidoras virtuais, a cabo e via satélite, como FuboTV (NYSE:FUBO).
Ainda que os negócios de streaming, parques e estúdio se recuperem, serão compensados pelo obstáculo gerado pelos negócios com televisão. Empresas como ABC e FX enfrentam desafios semelhantes, mesmo que não sejam tão relevantes para o resultado geral.
Ações da Disney podem se recuperar?
Sem dúvida, uma recuperação além da ESPN faria com que os resultados da Disney crescessem com o tempo, mas isso, por si só, não torna a Disney uma boa compra.
Afinal, mesmo bastante distante das máximas, a ação já está precificando o crescimento. A estimativa consensual de Wall Street para o LPA do ano fiscal de 2023 é de US$5,25. A ação da DIS é negociada a 25x esse número.
Levará tempo para que a Disney volte para as últimas máximas. Afinal, o trimestre mais recente foi forte, excluindo televisão. O número de assinantes do Disney+ superou as expectativas. A gerência ainda vê potencial para dobrá-lo, para 260 milhões, até o fim de 2024. Os negócios de parques voltaram a registrar lucro no 1º tri fiscal.
Mesmo assim, a Disney lucrou cerca de US$1 por ação no trimestre. Pode lucrar mais de US$4 neste ano. Isso não é suficiente. É necessário um crescimento muito maior.
A controvérsia política na qual a empresa se meteu na Flórida também representa um possível obstáculo no curto prazo. Mas considerando que o ciclo de notícias continuará, ainda persistem os obstáculos para os negócios televisivos.
Se a ESPN, em particular, acabar sendo um empecilho para o crescimento nos próximos anos, será difícil para a Disney crescer o suficiente de modo a dar suporte até mesmo ao atual preço baixo das suas ações. É difícil vislumbrar uma forma pela qual a Disney consiga evitar a queda dos lucros da ESPN. E, nesse cenário, mesmo estando 31% distante das máximas, pode ser que a ação da DIS ainda não esteja barata o bastante.