Os fundamentos do mercado de açúcar não mudam na mesma velocidade que os sentimentos dos participantes do mercado. Por isso temos assistido nas últimas duas semanas grandes oscilações no em NY, deixando aos analistas a árdua tarefa de tentar explicar o inexplicável. Apenas nesta semana tivemos uma oscilação de mais de 100 pontos (1578-1477), ligeiramente inferior à da semana anterior (1512-1400). No mês de abril, o vencimento maio/2016 até o fechamento de sexta-feira apresentou 178 pontos de oscilação (1578-1400). Ou seja, a dicotomia entre a realidade do curto prazo e perspectiva do longo prazo é gritante. São dois mundos diferentes.
A semana acabou sendo positiva com o vencimento maio/2016 encerrando o pregão de sexta-feira negociado a 15.26 centavos de dólar por libra-peso, um ganho de 22 pontos em relação ao fechamento da semana anterior. De forma geral, todos os vencimentos encerraram a semana com sinal positivo, variando entre 9 e 27 pontos, aproximadamente de 2 a 6 dólares por tonelada.
Acredita-se que os fundos de uma maneira geral estão retomando seu apetite para as commodities. O petróleo tem se recuperado alcançando os níveis de preço próximos aos 45 dólares por barril vistos no início de dezembro de 2015. Farelo de soja, soja e açúcar, juntamente com o petróleo, lideram as commodities com variação positiva no acumulado do ano. Café, suco de laranja e cacau estão no negativo, mas recuperam-se também. Portanto, ainda existe espaço para que os fundos adicionem mais compras à posição atual.
No caso do açúcar os fundamentos continuam construtivos e poderíamos enumerar alguns pontos que devem validar esse sentimento: primeiramente, a safra indiana cuja produção foi novamente revisada para baixo; depois, a Tailândia que atingida por uma seca deve produzir menos açúcar afetando o prêmio de branco no mercado internacional; e a China que –segundo alguns traders – está bastante confortável com o mercado a 15 centavos de dólar por libra-peso, ou seja, num nível atrativo para os chineses e, último mas não menos importante, o petróleo acima de 40 dólares por barril melhora a arbitragem do etanol com o açúcar.
O que mata esse sentimento altista de longo prazo é o sentimento baixista de curto prazo, validado pela falta de demanda do físico (poucos negócios na exportação, por exemplo), pelo ritmo de moagem no Centro-Sul que está acima do que se previra, pela pressão de venda do hidratado cujo preço derreteu nos últimos 30 dias e pela oscilação do real que eventualmente exerce pressão sobre as cotações de NY. O maio/2016 fechou equivalente a R$ 1.260 por tonelada. Esse é o valor que acreditamos ser o suporte de preços em reais para o açúcar do Centro-Sul ao longo desta safra.
Com a presidente Dilma praticamente dando adeus ao seu medíocre mandato, apesar da insistência dela em tentar mostrar ao mundo que o processo contra si é um golpe, o próximo governo deve trazer – ainda que de maneira muito lenta – o retorno da credibilidade ao país, que deverá passar por um período de cortes nos gastos e aumento de impostos. O real pode se valorizar em relação ao dólar até em 3.2000 segundo alguns respeitados economistas. Neste nível, é razoável pensar que o açúcar pode facilmente chegar aos 17 centavos de dólar por libra-peso, que é a nossa estimativa para o segundo semestre deste ano. O recrudescimento do déficit global, que será mais “palpável” no último trimestre de 2016, pode elevar ainda mais o nível de preço do açúcar para 2017/2018. O vencimento março 2018 pode ver 18 centavos de dólar por libra-peso.
Até o final de março, a exportação de açúcar acumulada em doze meses no período compreendido entre abril de 2015 e março de 2016 foi de 24,681 milhões de toneladas. Esse volume é 1.8% superior ao mesmo período do ano passado. O Brasil também exportou 2,159 bilhões de litros de etanol no acumulado em doze meses, um acréscimo de 55% em relação ao período anterior aproveitando a janela proporcionada pelo real desvalorizado.
Vale notar que as exportações de açúcar em março, que totalizaram 2,078,428 toneladas foram a segunda maior num mês de março de toda a história.
A dívida do setor hoje, segundo nosso levantamento, é de R$ 92,886 bilhões. A estimativa de receita para a safra 2016/2017 é de R$ 93,062 bilhões (sem contar a cogeração).
Boa semana para todos